Encontro internacional promove debates sobre filantropia, direitos humanos e justiça social

Por: GIFE| Notícias| 13/07/2015

Entre os dias 8 e 10 de julho, o 1° Encontro Internacional da Rede de Fundos Independentes para a Justiça Social discutiu, no Rio de Janeiro, avanços e desafios para a garantia de direitos humanos e justiça social no Brasil. Realizado na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN), o evento reuniu especialistas de diversas regiões no mundo para debater modelos de filantropia praticados no país e compartilhar experiências nacionais e internacionais. Apoiaram a iniciativa a própria FIRJAN, a Fundação Ford, o Consulado Geral dos EUA, a Fundação Kellog e o Fundo Baobá de Equidade Racial.

A idealizadora do encontro – Rede de Fundos Independentes para Justiça Social – é uma organização informal que reúne hoje dez fundos. Criada em 2012, a rede já apoiou mais de 11 mil projetos em diferentes regiões do Brasil e da América Latina em projetos nas linhas de equidade racial, protagonismo feminino, direitos humanos e sustentabilidade ambiental. Seu papel é fundamental na ampliação do alcance das ações dos fundos independentes e das fundações comunitárias brasileiras – um formato de organização da sociedade civil que vem crescendo no Brasil nos últimos anos (confira publicação do GIFE que também fala sobre esse movimento).

Durante o evento, os diversos debates colocaram em pauta a importância e o protagonismo dos fundos e das fundações comunitárias no ambiente social – esse tipo de instituição atua predominantemente de forma independente (de empresas ou do Estado), mobiliza e investe recursos técnicos e financeiros com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da população em um determinado território de atuação.

O evento trouxe uma reflexão sobre o que é a filantropia no Brasil e no mundo e seu papel no desenvolvimento de uma sociedade mais igualitária. Também buscou fazer mais visível o trabalho dos Fundos Independentes para a Justiça Social e como estes representam e influenciam uma nova cultura filantrópica no Brasil”, explicou a coordenadora da Rede de Fundos Independentes para a Justiça Social, Cindy Lessa.

Pautas em discussão

O primeiro dia de atividades destacou as transformações sociais pelas quais o Brasil (e o mundo) passaram e estão passando. Em uma mesa chamada “Os Fatos”, os debatedores discutiram a situação política do país pelo viés dos direitos humanos e socioambientais.

Atila Roque, da Anistia Internacional Brasil, tocou no tema da violência e das desigualdades. “O Brasil não gosta de se ver como um país violento. E não é bem assim! A violência tem um papel na organização do poder e na lógica da dominação. E o Brasil também detesta se ver como racista e sexista. Não aceitamos ser um país que discrimina, que seleciona igualdades“. Para ele, não podemos nunca perder de foco os esforços para a consolidação de uma política de redução de desigualdades.

Em outra atividade, que teve o formato de um talk show, Amália Fischer, do ELAS Fundo de Investimento Social (confira matéria sobre a atuação desse fundo), falou sobre filantropia e empoderamento. “Apostamos no trabalho coletivo, na cooperação social, nas redes e em fazer crescer movimentos que visam a transformação da riqueza social, na riqueza comum. Não fazemos caridade, fazemos uma ‪‎filantropia que empodere as mulheres e que reafirme seus direitos.”

Em uma atividade de diálogo aberto, um tema delicado entre investidores sociais pautou o debate: como comunicar erros. Os participantes destacaram que a tendência entre investidores é falar apenas “do que deu certo”, entretanto, é muito enriquecedor também comunicar desafios enfrentados no percurso para poder inspirar novas formas do fazer no campo social.

O segundo dia de atividades começou com a apresentação do trabalho do fotógrafo João Roberto Ripper com seu projeto Imagens Do Povo, que aborda questões delicadas como violência e injustiça social. “O que me fascina nas pessoas é a não desistência em ser feliz, em ver beleza onde tantas vezes só se destaca a pobreza, a tristeza. Isso é o que precisamos revelar“, analisou.

Na sequência, a agenda destacou atividades, dinâmicas e diálogos livres em torno dos temas filantropia e justiça social e abriu espaço para que representantes dos fundos e fundações e demais participantes do encontro pudessem conhecer melhor experiências de filantropia no Brasil.

Investimento social

O terceiro e último dia de evento promoveu um diálogo entre movimentos sociais, organizações da sociedade civil e empresas a partir do prisma da justiça social e dos seus impactos na consolidação de uma sociedade mais igualitária, democrática e sem preconceitos. Em pauta, temas como investimento social empresarial, direitos humanos, questões de gênero, preconceito racial e violência urbana.

Chris Harris, do Working Group Philanthropy for Social Justice and Peace, trouxe para o encontro uma discussão sobre feel good (sentir-se bem) e o do good (fazer bem). Para ele, o fazer social motivado apenas pela boa intenção não é transformador. “É preciso adotar uma estratégia eficiente para promover justiça social.”

Harris destacou desafios para o fortalecimento da democracia e redução de injustiças. Segundo ele, é preciso ter foco nas causas e nas relações de poder. E, para atuar na essência das estruturas que reforçam injustiças, é preciso de programas que integrem diferentes setores da sociedade em um esforço contínuo e com sólidos modelos de avaliação.

Ana Valéria Araújo, do Fundo Brasil de Direitos Humanos, lembrou episódios recentes de linchamento de jovens suspeitos de crime. “Fomos do tronco ao poste”, disse e reforçou que a desigualdade no Brasil é algo explícito e imposto e que o nosso desafio é promover a justiça social.

Andre Degenzjain, secretário-geral do GIFE, trouxe para o debate um pouco do cenário de investimento entre os associados do GIFE. De acordo com ele, existe certa concentração em áreas mais tradicionais do campo social, como a educação por exemplo, mas que a prática da filantropia para a justiça social tem começado a aparecer mais.

Segundo ele, temas geralmente encampados com maior naturalidade por fundos e fundações independentes, ainda são encarados com certa parcimônia por investidores sociais empresariais. “Falar sobre gênero e raça ainda é um desafio. Nós [do GIFE] estamos atentos a esses temas e ao que significam essas escolhas, principalmente quando falamos de ‪‎justiça social.”

De acordo com Iara Rolnik, gerente de Conhecimento do GIFE e uma das representantes da equipe que acompanhou o evento, a organização está observando o fortalecimento de um modelo de atuação que tem muito a contribuir com o setor como um todo.

“Achei que o encontro destacou pontos muito importantes para o campo social atual. Diálogos fundamentais foram pautados. Ficou claro que diferentes setores e grupos de investidores sociais precisam se aproximar para promover a justiça social. A potência desse modelo está na forma de trabalho, com a qual outros investidores podem aprender. No fim, estamos falamos do fortalecimento da sociedade civil e da valorização do sentido de democracia.”

A cobertura detalhada do evento pode ser acessada na página do Facebook da rede.

 

Com informações da Assessoria de Comunicação

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