Fórum Internacional RedEAmerica discute a articulação entre empresas e comunidades para o desenvolvimento sustentável

Por: GIFE| Notícias| 30/03/2015

Com a proposta de refletir sobre como as empresas, em conjunto com as comunidades e o setor público, podem contribuir para o cuidado ambiental na América Latina, com um horizonte de desenvolvimento sustentável nas comunidades e territórios, foi promovido o VII Fórum Internacional RedEAmerica (FIR Merida 2015), de 24 a 26 de março, no México.

O GIFE, assim como parte de seus associados que são membros da RedEAmérica – como Instituto Votorantim, Fundação Otacílio Coser, Instituto Arcor Brasil, Instituto Camargo Corrêa, Instituto Holcim Brasil e Instituto Lina Galvani – estiveram presentes no evento. A RedEAmerica é uma rede temática que nasceu em 2002 e hoje conta com mais de 70 membros entre organizações empresariais que tornam o investimento social privado presente em 11 países da América Latina.

Trata-se de uma rede que conseguiu desenvolver muito conhecimento importante para a atuação de fundações e institutos em territórios impactados pela operação de suas mantenedoras. A Rede é muito forte, coesa e articulada e com nível alto de aprendizagem mútua a partir das experiências. Assim, vemos essa parceria como fundamental para fortalecer o setor em temáticas estratégicas como a do alinhamento entre investimento social e o negócio, desenvolvimento sustentável e de comunidades”, comentou Ana Letícia Silva, gerente de Articulação do GIFE.

Segundo Ana Letícia, que esteve presente no Fórum, é possível perceber, neste ano, a entrada estratégica do componente ambiental para se pensar o desenvolvimento de base e comunidades sustentáveis. “Cada vez mais, percebe-se a importância de se imprimir uma visão holística a qualquer intervenção ou iniciativa que se pense e se proponha, especialmente em territórios. É de fundamental importância o trabalho das empresas, institutos e fundações com as comunidades nos territórios. Elas são fundamentais para se construir esse caminho”, ressaltou a gerente do GIFE.

Debate em foco

Vicente Saisó, diretor de Sustentabilidade da CEMEX (Cementos Mexicanos), abriu o evento trazendo a relevância da sustentabilidade e das parcerias para a empresa. Ressaltou que o desenvolvimento sustentável não briga com a rentabilidade da empresa e que pode ser visto como vantagem competitiva. “É preciso entender bem toda a cadeia de valor da companhia e, então, identificar oportunidades a partir de critérios sustentáveis. O desenvolvimento sustentável é algo que as empresas já não podem deixar de reconhecer que está posto e que o setor privado tem muito a contribuir na direção de construí-lo, alcançá-lo e torná-lo realidade”, comentou.

A segunda conferência destacou a relação das empresas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, tendo como palestrante Luis Miguel Galindo, chefe da Unidade de Mudanças Climáticas do CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina). Ele destacou que os 17 ODS propostos realmente foram construídos a partir dos pilares econômico, social e ambiental integrados e todos com uma visão holística e universal. No entanto, lembrou que, agora, os desafios mundiais são outros. “Até 2050 teremos um aumento na população, o que nos coloca desafios em termos de oferta de serviços para oferecer uma vida satisfatória a esse conjunto de pessoas. O crescimento econômico dos últimos dez anos foi muito importante para a região, mas é preciso olhar com cuidado o fato de ter acontecido baseado em commodities e de recursos não renováveis. A região experimentou grande redução das taxas de pobreza, mas apesar disso, ela persiste e com características preocupantes, pois está mais acentuada e crescente entre as crianças e as mulheres”, destacou.

Luis Miguel lembrou ainda o grande desafio de garantir que as pessoas que saíram da pobreza não voltem a essa condição no curto e médio prazos, que é onde está a vulnerabilidade. “Isso tudo coloca a região em uma posição de maior dificuldade para o cumprimento dos ODS. Serão necessárias mudanças no estilo atual de desenvolvimento e nos padrões de produção e de consumo”.

Em seguida, Margareth Florez, diretora da RedEAmerica, falou a respeito dos desafios de se construírem comunidades sustentáveis. Segundo Margareth, há questões interrelacionadas a enfrentar: pobreza, desigualdade, prosperidade e distribuição de riqueza, tendência a um desapego pela democracia. “Enfrentar questões como estas deve nos levar a uma concepção de desenvolvimento integrado e sustentável no longo prazo. O setor empresarial tem corresponsabilidade nesse caminho, especialmente por estar imerso no contexto, entendendo que entornos mais prósperos devem favorecer o desenvolvimento empresarial”, afirmou.

A diretora da RedEAmerica lançou ainda uma pergunta aos participantes: Como o impacto que uma empresa gera em comunidades pode ser positivo? “É preciso gerir tudo o que fazem na perspectiva do desenvolvimento sustentável. Comunidades sustentáveis são as que contribuem para o desenvolvimento sustentável do território. Devemos assumir compromissos mútuos e desenvolver relações de confiança para a construção de visões compartilhadas”, destacou.

Para isso, segundo Margareth, o setor empresarial pode assumir múltiplas formas de contribuição no processo: trabalhar com a comunidade, compartilhar informações e tecnologia, estimular a inclusão e participação cidadã, fortalecer outras organizações, promover a criação de cidadania e espaços democráticos e desenvolver relações transparentes.

Os retornos para as empresas ao operarem nessa perspectiva podem estar em ganhos de reputação, no melhor acesso aos recursos locais, na possibilidade de contratação de mão de obra e trabalho local, na redução de custos para o eventual encerramento das operações no território, na facilitação e resolução de conflitos e no ambiente melhor para operar onde se estabelecem relações de confiança. É outra visão de se medirem os retornos”, apontou.

Compartilhando experiências

O evento contou também com workshops sobre como conciliar desenvolvimento econômico e social com a preservação ambiental em ambientes ecologicamente ricos e vulneráveis, as parcerias para a educação ambiental e de negócios, comunidade e reciclagem. Já os words cafés se concentraram em discutir questões de água, empresas e comunidade: conflito ou oportunidade; desenvolvimento limpo, seguro e acessível a todos e sustentável de energia e agricultura: rumo a um novo paradigma?

Os membros da RedEAmérica tiveram a oportunidade de participar de visitas em três organizações locais: Haciendas del Mundo Maya Foundation, El Hombre Sobre la Tierra e Cementos Mexicanos (Cemex).

Em conferência, Carolina Corral, diretora de Investigação da Q.F.D. AC, falou ainda sobre a importância do monitoramento e avaliação das iniciativas, demonstrando um passo a passo simples para se iniciar e desenvolver processos de avaliação: definição do problema que será enfrentado, identificação das causas e consequências desse problema e o que será avaliado propriamente, são cruciais para que a avaliação traga os elementos necessários para a continuidade e impacto das iniciativas.

Já o painel final moderado por Rodrigo Villar, do CIESC (Centro de Investigação e Estudos sobre Sociedade Civil), do México, contou com reflexões inspiradoras e aprendizados a partir de experiências reais do Instituto Votorantim, do Brasil, e da Fundación Haciendas del Mundo Maya, do México.

Rodrigo Villar destacou que é preciso construir uma visão de equilíbrio e de longo prazo, em processos que garantam a participação dos diferentes atores, reconhecerndo e incluindo os ativos das comunidades (como cultura e história), o que traz a perspectiva viva da heterogeneidade, podendo ser interpretado e experimentado como riqueza e oportunidade.

Acessar esse ativos depende de diálogo, concertação, abertura para aprender mutuamente e aqui se inicia um processo de geração de capacidades. Os atores são os mesmos que vêm sendo enfatizados desde há muito tempo: organizações de base, empresas que são parte das comunidades, mas que não podem ser o centro do desenvolvimento do território, e os governos”, ponderou.

Segundo Villar, um grande desafio que se coloca para todos os territórios e comunidades na construção da ambiência para o desenvolvimento de comunidades sustentáveis, é a criação e consolidação de institucionalidades de participação. “Sem isso, não é possível que os outros elementos se desenvolvam. Nessa perspectiva, colocam-se desafios para o setor empresarial: transformar a visão empresarial para o longo prazo; incluir mão de obra especializada nos temas sociais; construir soluções em diálogo, pois as empresas não têm a solução para as comunidades; discutir a utilidade e a aplicação de modelos; e desenvolver caminhos que façam avançar, multiplicar as experiências que vêm provando serem exitosas no desenvolvimento de comunidades sustentáveis”, pontuou.

Entre os aprendizados do Fórum, a gerente de Articulação do GIFE destaca a percepção de que o desenvolvimento sustentável está se colocando novamente na agenda de desenvolvimento global e, agora, se apresentando realmente a partir de uma perspectiva holística e integrando os seus pilares. “A mudança de paradigma é que o pilar ambiental não é o pilar guia do desenvolvimento sustentável, mas também oportuno para se desenvolverem os outros dois pilares: social e econômico. E as comunidades são aqui fundamentais”.

Rodas de Aprendizagem

Foram realizadas quatro rondas de aprendizagens sobre: diferentes métodos que ajudem o envolvimento da empresa-comunidade; aprendizagem, sistematização e comunicação como estratégia de sustentabilidade; plano de desenvolvimento local, um processo de articulação entre empresas, governo e comunidade; e caminhos e oportunidades do investimento social privado para o fortalecimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

A quarta roda de aprendizagem foi organizada pelo GIFE e o Instituto Votorantim e ocorreu em formato de oficina de trabalho, com o objetivo de sensibilizar os participantes para os ODS que serão lançados pela ONU em setembro de 2015 e, a partir dessa sensibilização, iniciar um processo de construção de alianças e parcerias para os desafios que trazem os ODS, especialmente para o setor privado.

Como colocado pelo Itamaraty, sobre a agenda dos ODS: “a implementação dependerá de uma parceria global para o desenvolvimento sustentável com participação ativa dos governos, sociedade civil, setor privado e Sistema ONU.

A gerente de articulação do GIFE apresentou os ODS a partir da comunicação visual criada pela Agenda Pública, que realizou um processo de tradução dos ODS para uma linguagem visual simplificando as mensagens com palavras-chave e símbolos. Esse modo de apresentação foi muito efetivo e, em poucos minutos, estavam todos envolvidos com os ODS.

Os participantes, então, foram convidados a refletir em grupos sobre o papel que o investimento social privado pode ter em termos de gerar um movimento para fazer avançar os objetivos e como podem tornar suas ações sinérgicas com esses objetivos. Cada um dos grupos trabalhou sobre quatro dos 17 objetivos e o objetivo 17 foi trabalhado por todos.

Para o ODS 1 – Acabar com a pobreza – por exemplo, os participantes sugeriram: promover o enfoque de desenvolvimento de base para a criação de capacidades em organizações de desenvolvimento de base; realizar programas de geração de renda e oportunidades econômicas nos territórios; incidir para que as políticas públicas de combate à pobreza tenham um enfoque de direitos e não de assistência; que transcendam governos (políticas de Estado) e que não sejam partidarizadas.

Já para o ODS 3 – Assegurar saúde e bem-estar –, os participantes deram como sugestões a realização de caravanas de saúde durante o ano, assim como a implementação de processos de desenvolvimento de capacidades e uma atenção especial à saúde preventiva, e, para o ODS 5 – Alcançar a equidade de gênero -, promover a participação igualitária das mulheres nas organizações nas quais trabalham, assim como permear os programas sociais com um enfoque transversal de gênero.

Confira aqui alguns infográficos do GIFE sobre comunidades: http://bit.ly/infocomunidades e http://bit.ly/infogifeestrategiadesaida

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