Fundação Tide Setubal promove seminário internacional em comemoração aos 10 anos

Por: GIFE| Notícias| 20/06/2016

Mais de 800 pessoas estiveram presentes no “Seminário Internacional Cidades e Territórios: encontros e fronteiras na busca da equidade”, realizado no dia 14 de junho pela Fundação Tide Setubal, em parceria com a Folha de S.Paulo. O evento faz parte das comemorações aos 10 anos da organização.

A aposta foi trazer para o centro do debate e dar mais visibilidade aos potenciais e desafios das regiões periféricas das grandes cidades, que problemas enfrentam e quais os caminhos que devem ser percorridos para alcançar uma sociedade mais justa, democrática e igualitária. As questões vivenciadas pela Fundação e pelos moradores de São Miguel, território no qual a organização atua há dez anos, foram trabalhados em cada uma das mesas de debate e conferências do seminário.

Em São Miguel, a organização desenvolve uma série de iniciativas que visam ajudar na redução das vulnerabilidades sociais de adolescentes e jovens da região; contribuir para a ampliação da oferta e para a efetividade de ações empreendidas pelo Estado, pela sociedade civil e pela iniciativa privada voltadas ao desenvolvimento da localidade; e promover o patrimônio cultural (material e imaterial) do território e o fortalecimento de suas conexões com a cidade.

Em sua fala de abertura do seminário, Maria Alice Setubal, presidente do Conselho da Fundação Tide Setubal e uma das criadoras da fundação familiar, ressaltou a alegria pela celebração desta data e das conquistas alcançadas, num trabalho marcado, desde a sua origem, por um processo que passa por diagnosticar, implementar, avaliar e refletir sobre as práticas.

“Ao longo do tempo, conseguimos transpor uma barreira importante, nos apresentando de forma a não compactuar com a cultura da caridade, do assistencialismo e do patrimonialismo que costumava reger as relações estabelecidas com a comunidade. Ter uma missão consistente, um foco claro, valores definidos e um modo de atuação transparente contribuiu para direcionar e efetivar o ‘pensar e fazer com’, levando à construção de um vínculo muito forte de confiança com a comunidade – algo importantíssimo”, ressaltou.

A escolha pelo tema do evento, destacou Maria Alice, não foi por acaso. “O território importa, pois é alí que as políticas púbicas impactam a vida dos cidadãos. Por isso, precisamos combater as desigualdades sociais nele”, pontuou, destacando a necessidade de pensar em políticas públicas que levem em conta as especificidades, cultura e valores de cada território.

O pano de fundo do seminário é a constatação de que, apesar da universalização das políticas públicas, o que é um avanço, nota-se que a cobertura de serviços e os programas continuam sendo sistematicamente insuficientes, mais precários e de pior qualidade em áreas de alta concentração de pobreza. E essa disparidade precisa mudar, a fim de que se alcance mais equidade, menor segregação e a justiça social efetiva.

Experiências internacionais

Entre os conferencistas internacionais, estiveram presentes Saskia Sassen, professora da Universidade de Columbia (EUA), referência mundial em globalização e migrações urbanas, que destacou o quanto os espaços urbanos estão ameaçados por conta de megaempreendimentos imobiliários, que acabam empurrando, cada vez mais, as populações para as margens das cidades.

Ao mesmo tempo, Saskia avalia que há um movimento das próprias comunidades em se organizar e criar novas economias locais, que precisam ser fortalecidas e incentivadas. A socióloga ressaltou ainda que não será possível desenvolver cidades do futuro (Smart Cities) sem ouvir todos que nela habitam. “É preciso dar atenção tanto para as vovós e as crianças, quanto para os moradores de rua, por exemplo, pois cada um deles tem maneiras diferentes de ver e perceber sua cidade”, observou.

Já Choukri Ben Ayed, docente de sociologia da Université de Limoges (França), especializado em educação nas periferias, trouxe para o debate no seminário a experiência da França nas relações entre educação, territórios e espaço urbano. Em sua fala, ressaltou o fato de que a universalização da educação no país, que já ocorreu há décadas, não veio atrelada à equidade de oportunidades para todos, com diversos desafios ainda a serem enfrentados.

Depois de várias tentativas em promover a diversidade social, mais recentemente o país criou uma lei para refundar a escola pública e tem tentando ações junto aos educadores, como a promoção de fóruns e conferências, para debater e pensar em caminhos para fortalecer o sentimento de pertencimento, principalmente das novas gerações de franceses, que são filhos ou netos de imigrantes, e que ainda enfrentam discriminações.

Outro convidado internacional que compartilhou sua experiência com os presentes foi Pablo Maturana, subdiretor da área de Projeção da Cidade da Agência Metropolitana de Cooperação de Medellín. Na ocasisão, Maturana ressaltou as transformações realizadas na cidade que, em sua visão, só foram possíveis a partir da parceria entre empresas, governo e sociedade que, juntos, passaram a planejar a cidade a partir dos anseios, necessidades e soluções de problemas para os moradores de bairros mais pobres e isolados.

Para isso, a cidade investiu em uma arquitetura urbana integrada, criando espaços de convivência e oportunidades de mobilidade eficazes aos seus moradores. Para Maturana, a participação popular é o princípio da equidade de direitos ao acesso à cidade.

Território em destaque

O seminário contou também, ao longo do dia, com quatro mesas de debate, que trouxeram para discussão temas como urbanismo, participação social, educação, cultura, sustentabilidade e protagonismo juvenil.

A mesa “A voz do jovem na mobilização social” destacou uma nova forma de participar, mobilizar e fazer política, com importante engajamento da juventude. Os debatedores destacaram a importância que as mobilizações de 2013 tiveram para a nova geração e que se tornaram um ponto de destaque para o novo fazer político.

Para retratar esse cenário a cientista social Beatriz Pedreira trouxe dados da pesquisa Sonho Brasileiro da Política, que ouviu mais de mil jovens de 18 a 32 anos, mostrando que a forma como se dá a participação da juventude é diversa e que há um grupo motivado a fazer diferente, os ‘hackers da política’, ou seja, eles trazem a mentalidade do hacker, que é o de entender o sistema, encontrar as brechas e fazer mudanças, mas neste caso para atuar em prol de causas que são cada vez mais múltiplas e transitórias.

Os especialistas destacaram que a política institucional não tem representado os anseios da juventude, que tem buscado justamente novas formas de fazer que estejam mais conectadas com a sua forma de organizar. Lembraram da necessidade de se reconhecer outras potencias fora do sistema institucional político.

Já a mesa “Cidades e territórios: encontros e fronteiras em busca da equidade” destacou experiências da academia e da própria sociedade civil que dão luz às desigualdades materiais e simbólicas que vivem estes territórios. Os debatedores Regina Novaes, Robinson Pedial, o Binho, e Ronaldo Almeida falaram sobre identidade, estigmas, rolezinhos, Racionais MC, saraus, violência policial e os muros que separam as periferias dos centros das grandes cidades.

A mesa redonda “Apropriação do espaço público e o direito à cidade” trouxe a discussão sobre o pertencimento das pessoas ao território público. Durante o debate, Jailson de Souza e Silva, do Observatório das Favelas, levantou a questão sobre a mobilidade plena, que vai muito além da mobilidade física.

ISP

Andre Degenszajn, secretário-geral do GIFE, destacou alguns aspectos que acredita serem marcantes sobre a forma de atuação da Fundação Tide Setubal, associada ao GIFE, nestes 10 anos. Entre eles está o fato da Fundação trabalhar a dimensão territorial de uma forma integrada, lançando mão de um conjunto de estratégias complementares focadas numa visão de desenvolvimento bastante contemporânea e dinâmica.

Isso porque, em suas práticas, considera desde um trabalho vinculado às políticas públicas, passando por mobilização de organizações e indivíduos, e também o estímulo ao desenvolvimento por meio de mecanismos de fomento, como o Fundo Comunitário Zona Leste, sempre conectado com a dimensão territorial.

“E tudo a partir de um olhar diferenciado, ou seja, para os ativos da região e não pelo viés da lacuna, do que falta. Nós precisamos mesmo aprender a reconstruir a visão que temos do território pela riqueza e não pela ausência. E a Fundação consegue articular de forma interessante essas dimensões”, ressaltou.

Materiais

Confira as vídeos com os debates completos no site do seminário e no Facebook da Fundação mais detalhes sobre o evento.

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