GIFE convida investidores sociais a participarem de iniciativa inédita no país por mais transparência ao setor

Por: GIFE| 9º Congresso GIFE| 07/03/2016

Dar luz ao que se faz ou se pretende fazer, de forma clara, aberta, em diálogo, ou seja, de maneira transparente, nem sempre é fácil. Mas, quem se compromete com essa postura, garante que os resultados são muito mais positivos e satisfatórios. Afinal, relações mais abertas e transparentes ampliam a capacidade das organizações de reforçar a sua legitimidade e confiança pública.

Essa é também a aposta do GIFE, que acredita que o investimento social privado deve se valer de mecanismos que possibilitem maior compromisso direto com a transparência, especialmente por sua missão de contribuir para o bem público.

Por isso, a organização está dedicada a produzir o Painel GIFE de Transparência, um instrumento inédito no país que pretende transformar o cenário da transparência entre as fundações e os institutos privados brasileiros. A iniciativa está em pleno processo de adesão e será lançada durante o 9º Congresso GIFE, em mesa de debate sobre o tema (veja mais detalhes abaixo).

O Painel é uma ferramenta online que organiza e disponibiliza informações institucionais relevantes sobre os associados do GIFE a partir de um grupo de indicadores. Este instrumento permite a qualquer um observar se a organização publica em seu site a informação sobre cada indicador e acessá-la por meio de link que direciona o usuário para o dado no site do associado.

Iara Rolnik, gerente de Conhecimento do GIFE, esclarece que o Painel se propõe a funcionar como um mecanismo de autorregulação. A partir de experiências semelhantes internacionais, os indicadores foram pensados especificamente para a realidade brasileira e validados em consulta pública junto a associados e especialistas, que ajudaram também a qualificar os indicadores.

Na dimensão “Planejamento, programas e atividades”, por exemplo, há um indicador que aponta se a organização deixa explícita em seu site informações sobre suas diretrizes estratégicas (informações que apontam os objetivos futuros da organização, tais como os resultantes de planejamento estratégico) que permitam que o leitor possa entender quais são as principais metas ou objetivos da organização para o futuro. Já na dimensão “Informações econômicas / financeiras”, é analisado se a organização publica os relatórios de auditores independentes (ano anterior) em seu site.

Como participar

A participação dos associados no Painel está aberta e é voluntária: ou seja, cada organização participante autoriza ou não a divulgação de seus dados. Ao aderir, os associados demonstram seu comprometimento com a melhoria de suas práticas de transparência, independentemente do estágio em que se encontram.

“Ao reunir todas essas informações no mesmo local, o Painel organiza ainda os dados de cada associado, permitindo que qualquer interessado encontre mais facilmente as informações que procura a respeito das fundações e institutos”, comenta Iara.

No Painel, é possível também conferir a literatura sobre o tema já produzida pelo GIFE e por outras organizações de referência, bem como relatórios analíticos sobre os dados coletados, links para experiências internacionais semelhantes (Estados Unidos, México, Colômbia, Espanha e China) e guias orientadores.

Segundo a gerente do GIFE, a plataforma é um projeto  de construção contínua e a proposta é que se desenvolva em etapas e que os indicadores possam ser aprimorados a partir dos resultados alcançados e das análises e diálogos realizados, ou seja, da evolução do próprio tema.

A iniciativa foi inspirada na experiência pioneira do GlassPockets – projeto de 2010 do Foundation Center (EUA) estruturado a partir de um movimento pela transparência nas fundações que remonta ao final da década de 1950 – e conta com o apoio do Instituto C&A.

Motivações

Iara Rolnik ressalta a importância do tema para o setor. “Se as fundações e institutos pretendem ter o papel de agentes de transformação de realidades, precisam entender que a legitimidade para estar neste campo e a força da sua atuação dependem da sua capacidade de diálogo franco e aberto”, destaca.

Porém, segundo a gerente, a avaliação feita a partir do Censo GIFE, demonstrou que hoje predomina um cenário em que as organizações tendem a serem fechadas, com pouca divulgação de informações a seu respeito.

“As organizações ainda não têm como valor o sentido de transparência, da importância que é se comunicar. Percebe-se que prevalece a ideia de que o que é do âmbito do direito privado deve ficar privado. Mas, estamos no mundo privado voltado ao interesse público, precisamos ser transparentes. Ou seja, há uma forte reinvidicação pela transparência dos governos e instituições públicas, com toda a razão, mas  não são capazes de olhar para a relevância de se estabelecerem parâmetros e mecanismos de transparência também para a sociedade civil e os institutos e fundações privados tem um papel relevante nesse campo”, alerta Iara.

Para o GIFE, a capacidade de uma organização ser transparente deve ir além da publicação de relatório anual com dados de projetos e informações contábeis, por exemplo, mas se relaciona a uma postura e responsabilidade exercitada no seu cotidiano de gestão, frente ao seu público interno e externo. Trata-se de cultivar uma cultura de transparência, em que se reconhece no outro um interlocutor relevante para o próprio aperfeiçoamento do trabalho das organizações.

Congresso

“Ser pedra é fácil, difícil é ser vidraça”. O provocativo provérbio chinês dá o tom ao que pretende ser a discussão da mesa de debate no Congresso GIFE sobre a temática de transparência. O que significa, afinal, ser transparente? Quais são os principais desafios neste campo? Como avançar em práticas mais dialógicas e abertas? São algumas perguntas que irão nortear as discussões.

José Eduardo Romão, diretor vice-presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), estará presente no debate e já apresenta com exclusividade ao RedeGIFE suas primeiras impressões a respeito do tema.

“Não há quem discuta a relevância da transparência. A dificuldade, porém, está justamente em dimensionar as ações que as organizações devem promover, quais modificações devem fazer para serem de fato transparentes etc. Mas isso não deve ser um fardo a ser carregado pelas organizações da sociedade civil. Todas as entidades estão vivendo o mesmo processo. Por isso, ter esse espaço no Congresso do GIFE para discutir e compartilhar o que tem dado certo ou não nessas práticas é essencial. É preciso planejar ações e organizar um movimento no setor para ganhar um nível de transparência conjunta. Esse processo pode trazer algumas dificuldades em curto prazo, mas no médio e longo nos fortalece como instâncias fundamentais no processo de democratização do Brasil”, ressalta Romão.

O diretor vice-presidente do IPEA enfatiza que o debate sobre transparência lança luz também a uma possível agenda sobre controle social e, com isso, desperta para a relevância da participação da sociedade civil. “Tratar sobre transparência nos permite qualificar a discussão a respeito do combate à corrupção. E não estamos falando da transparência somente da divulgação de informações, mas de todo o processo de deliberação de políticas públicas. E isso convoca a sociedade a participar. Nesse sentido, as organizações da sociedade civil têm obrigação de serem vidraças também, sendo protagonistas no desenvolvimento de iniciativas neste sentido”, comenta.

Na opinião de Romão, há diversos caminhos para uma instituição ser transparente, começando por seguir parâmetros e critérios já estabelecidos que apontam para a importância de se prestar contas, divulgar informações via meios digitais, explicitar a forma com que os planos e estratégias são criados, abrir os processos decisórios e garantir a participação da própria comunidade beneficiada na construção das ações.

“Essa relação e participação dos beneficiários, sejam de políticas públicas ou das iniciativas realizadas pelas organizações, pode contribuir muito para a materialização da transparência. O usuário precisa ter voz e ela deve aparecer também no processo de avaliação das atividades”, disse.

Para o especialista, este é o momento de aprimorar o sistema de prestação de contas, reafirmar e sofisticar os parâmetros desenvolvidos no setor nos últimos dez anos e desenvolver novas estratégicas de comunicação e interação entre os próprios beneficiários para avaliar os serviços destas instituições. “Hoje, o Estado está à frente dos mecanismos de difusão de informação e as organizações da sociedade civil precisam se aprimorar e promover um processo emancipatório”, completa.

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