Novas ferramentas tecnológicas facilitam e ampliam a doação feita por pessoas físicas

Por: GIFE| Notícias| 18/07/2016

As ferramentas tecnológicas têm sido, cada vez mais, aliadas aos processos de ampliação da cultura de doação no país. Principalmente quando a proposta é conquistar doadores individuais. Nos últimos anos, ampliou-se o número de plataformas de crowdfunding, por exemplo, na qual, seja por meio do computador ou do próprio celular, qualquer pessoa pode apoiar projetos de impacto que buscam a transformação social e fazer a diferença com apenas alguns cliques.

A Juntos.com.vc – uma plataforma de financiamento coletivo -, por exemplo, só em 2015, conseguiu mais de 11 mil doações para 115 projetos de impacto social coletivo, captando R$2.5 milhões. A meta, para este ano, é de R$3 milhões. Desde o seu lançamento, já foram mais de 300 campanhas apoiadas pela plataforma e R$5 milhões captados. A experiência, inclusive, foi sistematizada num manual, lançado este ano sobre o tema.

Segundo Lucas Harada, coordenador de Comunicação da Juntos.com.vc, o crowdfunding tem se mostrado um mecanismo interessante para as organizações que querem iniciar um projeto ou que precisam de um apoio para expandir alguma ação.

O próximo passo agora é para dar conta de um desafio constante para as organizações da sociedade civil no Brasil: conquistar doadores recorrentes, que apoiem a entidade constantemente e não especialmente para um projeto ou programa, garantindo a sua sustentabilidade.

“Hoje, as ferramentas de captação via crowdfunding são ótimas, por serem menos burocráticas e conseguirem engajamento de um número grande de pessoas. Mas, muitas vezes não resolvem a questão de sobrevivência da organização. O ideal é que as entidades conseguissem ter uma renda mensal via essas ferramentas para se planejar e executar a sua proposta e não para um projeto específico”, comenta.

Foi essa constatação, inclusive, que motivou a Juntos.com.vc a elaborar uma nova plataforma, que será lançada em agosto, chamada “Impactando”. A ideia é aproveitar a experiência que as organizações já adquiriram na mobilização de internautas para doações a projetos, para desenvolver novas estratégias a fim de conquistar as doações recorrentes.

Num primeiro momento, dez organizações farão parte de um grupo para que possam captar via plataforma, além de contarem com encontros presenciais para trocas de experiências e apoio de especialistas sobre o tema.

“A nossa ideia é ter um espaço para aprendizagem mais colaborativo e coletivo. Vamos montar um grupo bem diverso, com quem já tem larga experiência e quem está começando, mas que tem disposição e interesse para cocriar esse formato e depois abrir para outras organizações”, explica Lucas, destacando que as entidades interessadas podem entrar em contato.

Desafios

No atual momento de instabilidade econômica, social e política pelo qual o país passa, o que fez com que grandes doadores – como empresas e organismos internacionais – diminuíssem ou deixassem de direcionar seus recursos para a área social, as tecnologias digitais têm facilitado, também, novas formas de captação de recursos para as organizações.

Isso porque elas permitem um contato mais próximo com um número maior de indivíduos e possibilitam as pequenas doações, o que motiva as pessoas a continuarem doando, tendo em vista que não traz grande impacto no seu orçamento.

Isso é o que acontece, por exemplo, quando um cliente vai à uma loja parceira do Movimento Arredondar. No momento de finalização da compra – por meio de um sistema instalado nestes locais – os clientes podem arredondar os centavos do valor total da compra e fazer uma doação de até R$0,99.

Os recursos são direcionados para organizações sociais alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), ou seja, que contam com projetos que visam a erradicação da fome, oferecimento de educação básica a todos, redução da mortalidade infantil e preservação do meio ambiente, entre outros. Essa inovação rendeu ao Instituto Arredondar, associado ao GIFE desde 2014, inclusive o prêmio Desafio Google de Impacto Social em 2016.

O Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) é uma das organizações apoiadas pelo Arredondar. Em 2015, captaram mais de R$ 59 mil desta forma. Andrea Peçanha, coordenadora da Unidade de Negócios do IPÊ, conta que tem sido um apoio importante, principalmente porque a ideia do Arredondar é que os recursos sejam direcionados para a organização e não para um projeto específico.

Hoje, seis de cada 10 clientes arredondam. Para ampliar o engajamento dos compradores e conquistar mais doações, o IPÊ tem direcionado esforços também na capacitação das equipes dos parceiros – principalmente os atendentes de caixa –, a fim de que possam apresentar informações qualificadas a respeito da organização e, com isso, sensibilizem e engajem mais doadores. A expectativa é que o número de doações aumente com a chegada de novos parceiros ao Movimento Arredondar, como a rede de supermercados Pão de Açúcar.

Andrea conta que a organização tem se colocado, cada vez mais, o desafio de ampliar a base de doadores, principalmente de pessoa física, tendo em vista as pesquisas que mostram que a população brasileira não está preocupada com a questão ambiental, a causa do IPÊ. “A tentativa de se aproximar do indivíduo é trazer questões que façam sentido para ele e, com isso, fidelizá-lo como apoiador e doador da nossa causa. Temos buscado, então, diferentes ferramentas para conseguir atingir o maior número de pessoas possíveis e um valor que seja de fato significativo para nós”, comenta.

Inovação

Agilidade, rapidez e facilidade tem sido a palavra de ordem destas ferramentas para atrair mais doadores para o campo. Na área de e-commerce, isso fica ainda mais evidente e tem se mostrado um terreno fértil para disseminar a ideia aos internautas de que é possível colaborar, sem gastar muito tempo, tendo pequenas atitudes no momento da compra e no modo como adquire um produto.

Essa é a aposta do Polen Compras, que transforma a comissão de venda e marketing de lojas online em doações para instituições sociais. A proposta é que os internautas instalem no seu computador ou celular o Polinizador, um website app (somente para o navegador Chrome ainda), que permite que, ao fazer compras em lojas parceiras, apoie a causa que quiser sem gastar absolutamente nada a mais, pois é a loja que repassa uma parte dessa venda para a instituição.

O comprador pode escolher qual causa quer apoiar e conhecer mais sobre as organizações sociais parcerias também. Depois de instalado o Polinizador, sempre que o internauta fizer uma compra na loja parceira, irá aparecer na tela do computador uma “barra lateral”, e é só clicar em “Escolha Ajudar”.

Lançada em setembro de 2014 com a participação de 40 lojas e 13 organizações cadastradas, atualmente, o Polen conta com mais de 150 lojas online parceiras e 90 organizações apoiadas. Já foram realizadas mais de R$40 mil em doações por meio do App. A taxa de crescimento de usuários do Polen, por exemplo, é de 15 a 20% por mês.

Renata Chemin, co-fundadora da startup, conta que, da desconfiança inicial das próprias entidades em participar diante da novidade desta ser a primeira plataforma no Brasil a utilizar a solução, hoje, o Polen não consegue atender tantas organizações interessadas em participar.

A empreendedora destaca que a proposta é que o Polen seja o primeiro passo para que o comprador se torne um doador recorrente, algo que já tem acontecido a partir do relato dos próprios usuários e também das organizações. “Hoje, 95% das pessoas que instalam o plugin nunca desinstalaram, ou seja, usam a ferramenta. Queremos que os internautas possam utilizar sempre para a ONG que escolheram e trazer esse público para próximo das entidades, mostrando quanto é gratificante doar”, comenta.

O Polen conta também com uma ferramenta que as organizações podem instalar em seus sites ou redes sociais. É como página no Facebook – para motivar que outros internautas também participem e apoiem a sua causa. A estratégia do IPÊ, por exemplo, que também é beneficiada do Polen, é divulgar e disseminar a ferramenta junto a sua rede de contatos. “Quando eu envio uma mensagem personalizada, convidando a pessoa para participar, eu consigo uma taxa de retorno 30 a 40% maior”, comenta Andrea Peçanha.

Relacionamento

Não apenas para conquistar novas doações, as tecnologias têm colaborado também para que as organizações estabeleçam uma relação mais próxima com seus doadores e consigam processos mais eficientes na área de captação de recursos.

Rodolfo Pinotti, diretor financeiro da startup Trackmob, conta que o negócio começou justamente a partir da percepção de que as organizações não governamentais tinham necessidades e demandas específicas para estabelecer esse relacionamento e era preciso pensar em produtos e serviços próprios para o campo.

Apostando nisso, a Trackmob desenvolveu ferramentas para facilitar essa interação com os doadores. Entre os produtos estão a plataforma de doação online e o Trackmob Face2Face, um sistema utilizado em tablet no momento da captação feita na rua para tornar o processo ágil e seguro. Além disso, os dados são conectados ao sistema CRM, que faz a gestão dos doadores e integração com meios de pagamento.

“Como estamos falando de uma relação extensa entre as organizações e seus doadores é preciso produtos que facilitem os processos. Temos percebido que fazer a captação de recursos via pessoa física precisa ser realizada de forma mais eficientes. Não funciona da mesma forma com 50 e com 1 mil doadores”, destaca.

Novas ações

Na avaliação dos empreendedores que têm se dedicado a criar essas novas ferramentas, quanto das organizações participantes, há um crescente interesse dos brasileiros nestas novas formas de participar.

Mas é preciso inovar sempre para conquistar novas pessoas para o movimento da cultura de doação. Há ainda muitas barreiras a serem enfrentadas. A desconfiança dos brasileiros nas organizações sociais é uma delas, fazendo com que não doem, e o próprio esforço e tempo que as entidades precisam dispor para se prepararem e utilizarem as ferramentas, algo que muitas não têm condições de fazer por falta de equipe e conhecimento.

“Hoje, os consumidores estão muito mais conscientes e vão demandar essa postura por parte das empresas também. Acredito
que, neste movimento, elas vão querer apoiar também a causa do seu público. Com isso, ampliamos a cultura de doação”, aponta Andrea Peçanha.

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