Representante da Fundação Ford no Brasil fala sobre novo posicionamento e impactos no Brasil

Por: GIFE| Notícias| 13/07/2015

 

A Fundação Ford – organização associada ao GIFE e que tem longa trajetória de trabalho no Brasil, principalmente no campo dos direitos humanos, de gênero e de equidade racial – estabeleceu uma nova estratégia global de atuação que dialoga com questões centrais e sensíveis para pensar o investimento social privado no Brasil.

Com a proposta de entender de que forma essa nova forma de atuação da Fundação tem sido desenhada e quais seus efeitos nas ações que a organização desenvolve no país, o GIFE promoveu umaconversa online entre Andre Degenszajn, secretário-geral do GIFE, e Nilcea Freire, representante da Fundação Ford no Brasil. Nilcea foi também Ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres do governo federal e reitora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Andre ressalta que os temas explorados na conversa dialogam diretamente com duas agendas estratégicas do GIFE: a primeira diz respeito ao papel dos investimento social privado no fortalecimento das organizações da sociedade civil e, a segunda, é em relação ao fortalecimento da cultura da doação, ou seja, das instituições adotarem com mais frequência e centralidade a prática de apoiar outras organizações.

Confira como foi o debate:

Andre: Qual é essa nova estratégia e o que motivou a Fundação a construir uma outra forma de atuação? O que a organização espera em relação aos efeitos a partir desse direcionamento?

Nilcea: Esse processo já vem sendo desenvolvido há um ano e meio. A Fundação está fazendo uma substantiva mudança na sua estratégia, tanto do ponto de vista da sua operação quanto dos temas nos quais trabalha.

A mudança foi motivada principalmente depois da chegada do Darren Walker como presidente. Ele é um homem inquieto e quer que a Fundação esteja na liderança da filantropia global. Ele começou a questionar então a atualidade dos temas que trabalhávamos e a forma de trabalho. E nos propôs esse enorme desafio que é mudar, do ponto de vista temático e operacional, uma  fundação que tem 75 anos, sendo uma das mais antigas e tradicionais no mundo.

Esse processo tem uma linha de base para todos nós que é muito importante: a decisção de que o eixo central será a “desigualdade”, independente das áreas temáticas e onde estejamos no globo. Foi uma decisão essencial e acredito que poderemos dar uma grande contribuição no campo da filantropia no Brasil.

Andre: Entendo que essa estratégia de colocar a questão da desigualdade no centro está acompanhada também de uma mudança na forma com a qual a Fundação se relaciona com as organizações e constrói sua forma de investimento. O que isso traz de novo para a Fundação?

Nilcea: A Fundação tomou a decisão de trabalhar com seis áreas temáticas que fossem críticas para o desenvolvimento da justiça social do mundo. São elas: engajamento cívico e governo; criatividade e liderdade de expressão; gênero, etnia e justiça racial; economias inclusivas; liberdade na internet; e oportunidades de aprendizagem para jovens.

O fundamental é que as áreas temáticas não serão trabalhadas de formas isoladas. O objetivo é justamentar sair destas caixas, da ideia de programas que não interagem, para uma estratégia integrada nos quais os temas conversem e tenham flexibilidade de ser desenvolvidos ao longo do tempo.

Um ítem importante é que a Fundação tomou a decisão de voltar a apoiar com muita força a questão de infraestrutura das organizações.

Andre: Quando a nova estratégia da Fundação foi anuncida por uma carta muito contundente do presidente, ela foi recebida com muito entusiasmo, com uma oxigenação em termos de visão, de postura, pois ela traz uma série de questões para pensarmos os rumos e dilemas que enfrentam as instituições. Por um lado, a Fundação traz uma questão em relação às temáticas, que são engajadas e lidam com assuntos contrahegemônicos e demandas antigas e estruturais de muitas organizações da sociedade civil que dependem e/ou dependiam de recursos internacionais para isso.

E o outro lado é o questionamento porque no Brasil não desenvolveu como poderia essa cultura do investimento por meio da doação de recursos para as organizações, não prestarem serviços ou projetos, mas investir na sua autonomia e na sua capacidade para formular as respostas para os problemas que enfrentam. É um tipo de atuação que poderia ter mais.

O que permite para a Fundação Ford baseie a sua estratégia dessa forma?

A Fundação Ford tem como marca trabalhar nos campos nos quais ninguém quer trabalhar, nas áreas difíceis. No Brasil, por exemplo, quando o tema da ação afirmativa era praticamente uma questão que não se discutia, a Fundação teve a ousadia e a coragem de abraçar o tema e construir um processo que até hoje continuamos participando dele. Foram dez anos de investimento permanente para que a ação afirmativa pudesse se tornar uma realidade no nosso país. Essa visão é estratégica e de longo prazo, Além disso, há outros investidores em temas mais correntes e, portanto, não precisamos investir aí, mas precisamos investir sim nas áreas de fronteira. Isso é o DNA da Fundação Ford.

Do ponto de vista de estrutura de doação para organizações, ela não surgiu do nada, pois existe um trabalho valioso de muitos anos que legitima a Fundação como grandmaker, mas não o tradicional. Nós nos consideramos parceiros daqueles que nós apoiamos, considerando-os autônomos para tomar suas decisões, mas trabalhando com eles desde quando uma proposta começa a ser elaborada.

Isso nos permite trabalhar de maneira estratégica, pois com esse diálogo permanente com os nossos parceiros, podemos contribuir tanto para a construção quanto para influenciar campos amplos de atuação, como a ação afirmativa, por exemplo, ou como na construção do mosaico de legislação para a definição dos territórios na Amazonia, principalmente no Estado do Pará.

Andre: Como a Fundação avalia o seu impacto, o seu sucesso e os resultados, passando a ter uma atuação cada vez mais centrada no apoio institucional das organizações, que normalmente é de longo prazo, e não um projeto ou uma ação específica? Como vocês medem o trabalho a partir desta estratégia?

Nilcea: Evidentemente que isso é um desafio do ponto de vista da avaliação, mas seguindo o pensamento que tem norteado as ações do nosso presidente, somos também uma instituição de aprendizagem. Portanto, o resultado bom ou mal de um projeto, de um investimento, ele nos alimenta do ponto de vista de repensarmos e de realinharmos permanentemente nossas estratégias.  Ou seja, isso também deve caracterizar a nossa avaliação de resultados.

Andre: Gostaria de fazer mais algum comentário?

Nilcea: A filantropia será um dos temas prioritários de atuação da Fundação, ou seja, entender o campo da filantropia onde nós estamos. Inclusive, vamos ter um colega que vai se dedicar exclusivamente a isso. Esperamos poder aprofundar a atuação do nosso escritório no tema, podendo contribuir para modernizar a filantropia no Brasil.

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