Investidores sociais se reúnem com diretor executivo da Social Progress Imperative

Por: GIFE| Notícias| 28/09/2015

Será que apenas o crescimento econômico garante o progresso de uma nação? Ter somente riqueza é sinal de que a população tem qualidade de vida? Quais outros elementos são essenciais para que uma sociedade avance de forma sustentável? Foram questionamentos como estes que impulsionaram a criação do Índice de Progresso Social (IPS), um índice que agrega 54 indicadores sociais e ambientais que capturam três dimensões do progresso social: as Necessidades Humanas Básicas, os Fundamentos de Bem-Estar e as Oportunidades.

O índice foi idealizado a partir do entendimento que medidas de desenvolvimento baseadas apenas em variáveis econômicas são insuficientes, já que crescimento econômico sem progresso social resulta em exclusão, descontentamento social, conflitos sociais e degradação ambiental. Assim, ele mede o progresso social utilizando estritamente indicadores de resultados, e não o esforço que um país realiza para alcançá-los.

Para compartilhar aprendizados e apresentar de que forma as instituições podem se utilizar dessa ferramenta, Michael Green, diretor executivo da organização Social Progress Imperative (SPI) – criadora do IPS –, esteve no Brasil e participou de um encontro com investidores sociais organizado pelo GIFE e parceiros no dia 21 de setembro, em São Paulo.

Na ocasião, Green apresentou também alguns resultados do Índice de Progresso Social – edição 2015, que retrata os avanços sociais em 133 países. Neste caso, foi possível observar que o Brasil lidera entre os BRICS (agrupamento econômico atualmente composto por cinco países), seguido por África do Sul, Rússia, China e Índia. O país está inserido no grupo de médio-alto progresso social, na 42ª posição no ranking geral, porém, não está bem posicionado nos itens educação superior e segurança pessoal, nos quais aparece nas colocações 62ª e 122ª.

Michael Green ressaltou também a experiência brasileira do IPS Amazônia, que utiliza o mesmo método estatístico do IPS global e responde as mesmas questões-chave existentes, mas adota 43 indicadores públicos recentes e relevantes às especificidades dos municípios da Amazônia, refletindo a realidade social do território, como, por exemplo, indicadores da incidência de malária e desmatamento. No caso da Amazônia, os 9 estados e 772 municípios da região foram avaliados e os dados têm sido utilizados para direcionar planos de governo, como no caso do Estado do Pará.

No Brasil, há também o IPS Comunidades, que está sendo utilizado por um grupo de empresas (incluindo a Coca-Cola e a Natura) no Território Médio Juruá, no Estado do Amazonas, e adapta a metodologia do IPS para estratégias de negócio com “valor compartilhado”, especialmente nos municípios de Carauari, Manaus e Parintins.

A proposta do IPS Comunidades é que ele possa servir de instrumento coletivo de diagnóstico e gestão de desenvolvimento territorial. O objetivo é que, a partir dos dados levantados por essa ferramenta, empresas, organizações e governos possam atuar de forma mais sinérgica na região, permitindo resultados e impacto positivo nas comunidades.

Para falar mais a respeito destas iniciativas, o RedeGIFE fez uma entrevista exclusiva com o diretor executivo da SPI. Confira:

RedeGIFE: Qual a importância para os países em contarem com um índice como o IPS frente a outros como o PIB (Produto Interno Bruto) ou IDH (Índice de Desenvolvimetno Humano)?  Por que medir o Progresso Social?

Michael Green: Desde o momento em que foi criado o GDP (Gross Domestic Product – similar ao PIB), já se sabiam as limitações desse índice. No entanto, foram nos últimos dez anos que realmente tem se construído uma dinâmica, como, por exemplo, o relatório Stiglitz-Sen-Fitoussi de 2009, para se encontrar formas melhores de medir o sucesso de nossas sociedades.

Falando de forma simples, um modelo que se baseia somente no crescimento econômico é incompleto. O IPS foi criado para agregar a demanda de uma nova forma de medida. Ao contrário de medidas “além do GDP” como o IDH, o IPS foi criado com um complemento, e não uma substituição ao GDP.

RedeGIFE: Como vocês chegaram a essa definição de progresso social, com as três dimensões e os 52 indicadores?

Michael Green: O SPI se baseou em um rica literatura sobre como definir e medir bem-estar, como o relatório Stiglitz-Sen-Fitoussi. Usamos estudos para definir a estrutura básica do modelo, três dimensões e 12 componentes. Nós então testamos milhares de indicadores para medir esses conceitos e estabelecer 52 indicadores que o IPS usa atualmente. Além disso,  lançamos uma versão beta em 2013 para testar nossa hipótese e buscamos continuamente feedback. O IPS continua e continuará a evoluir e aprimorar.

RedeGIFE: De que forma as nações podem usar os resultados do IPS para melhorar suas políticas de atenção à população? Há países que, a partir dessa avaliação, desenvolveram novas ações?

Michael Green: Desde 2013 focamos nossos esforços em criar uma rede de usuários na América Latina. Estamos felizes que o IPS tem sido integrado ao Plano Nacional de Desenvolvimento do Paraguai para 2030 e influenciado as prioridades orçamentárias. Estamos também estabelecendo parcerias fortes com estados e cidades pela América Latina. Recentemente temos expandindo nossa rede para os Estados Unidos, onde anunciamos recentemente uma parceria com o estado de Michigan, e também com a União Europeia, na qual a Comissão Eropeia está trabalhando com o IPS para suas regiões.

RedeGIFE: E as empresas? Como o IPS pode ser utilizado como ferramenta de negócio para direcionar iniciativas, projetos e programas? Qual o impacto/benefício?

Michael Green: O progresso social interessa em geral às empresas porque os negócios não podem prosperar sem ele. O fato foi demonstrado num estudo recente da Deloitte que mostrou como o progresso social ajuda os países a atraírem investimento estrangeiro.

O progresso social de grupos específicos, como empregados, fornecedores ou consumidores também importam aos negócios. Para a Coca Cola e Natura, por exemplo, foram as comunidades agrícolas – parte integral da cadeia de valor – que motivaram esses negócios a criar o primeiro IPS Comunidade em parceria com IPSOS. Estamos despertando interesse em outros negócios também a usarem a ferramenta.

RedeGIFE: Numa avaliação geral do IPS 2015, quais foram as principais descobertas em relação à situação dos países e os principais desafios ainda a serem enfrentados?

Michael Green: O principal achado foi que, apesar do crescimento econômico suportar o progresso social, essa não é a história completa. Se o plano de desenvolvimento de um país está baseado apenas no crescimento econômico, está incompleto. Países como a Costa Rica, que focaram diretamente no progresso social, estão indo melhor do que aqueles focados apenas em crescimento, como a China.

RedeGIFE: A Rede Progresso Social Brasil tem articulado diversas instituições no país para que o IPS possa ser incorporado cada vez mais localmente. Qual a sua percepção sobre esse engajamento da sociedade brasileira no ISP?

Michael Green: Existe uma fantástica rede no Brasil que envolve tantas organizações diferentes  nas áreas de pesquisa, negócios e sociedade civil. O Brasil tem sido pioneiro medindo o progresso social no nível sub nacional pelo IPS Amazônia e o IPS Comunidades. Estamos também felizes com a forma como estados, cidades e governos municipais tem usado os dados.

RedeGIFE: Em relação ao IPS Amazônia e o IPS Comunidade, como você avalia essas adaptações e implementações da metodologia? 

Michael Green: Muito boas. Estamos agora levando esses modelos inovadores criados no Brasil para o mundo.

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