Parceria público-privada garante o sucesso da principal olimpíada de língua portuguesa no Brasil

Por: GIFE| Notícias| 08/09/2014

Uma série de reportagens do redeGIFE tem destacado, nos últimos meses, o esforço de institutos, empresas e fundações para promover ações voltadas ao estímulo da leitura e da escrita de qualidade. Não há dúvida o quão transformadora é a educação e o impacto que tem no desenvolvimento de qualquer nação. Nesse sentido, mapeamos iniciativas de alto impacto no segmento e que apresentam interessantes modelos de parcerias que envolvem iniciativa privada, poder público e sociedade civil. Nessa edição vamos falar da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro.

Uma ação muito consolidada no segmento, a Olimpíada é promovida pela Fundação Itaú Social em parceria com Ministério da Educação (MEC) e com a coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). O objetivo é aprimorar a prática didática de professores de língua portuguesa da rede pública em todo o Brasil, contribuindo, assim, com a melhoria da qualidade do ensino. No fim da linha, espera-se que crianças, adolescentes, jovens e adultos dominem a língua portuguesa e tenham a plena capacidade de expressão para exercer seus direitos e deveres como cidadãos.

A olimpíada tem duração de dois anos e, a cada edição, são oferecidas diversas oportunidades de formação para os professores, como cursos presenciais e à distância, disseminação de conteúdos formativos sobre o ensino de língua portuguesa e participação no Portal Escrevendo o Futuro, no qual interagem com colegas e especialistas. Aos alunos, após todo o trabalho em sala de aula, cabe a produção de textos com base nos gêneros poema, memórias literárias, crônica e artigo de opinião, que passam por várias etapas de seleção e são premiados.

Patricia Mota Guedes, gerente de Educação da Fundação Itaú Social, explica que a olímpiada tem origem em 2002 com o Programa Escrevendo o Futuro e nasceu com o objetivo de contribuir com a melhoria da educação pública por meio da formação continuada de professores de língua portuguesa.

“Vale lembrar o contexto da época. No final dos anos 90 já se ampliava no país o debate sobre a necessidade de melhoria da qualidade da aprendizagem. Em 2001, o Brasil começou a participar do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), ficando em último lugar em leitura entre os países participantes. Os resultados provocaram muita repercussão”, recorda Patricia.

O alcance do programa foi sendo ampliado ao longo das edições e, em 2007, o governo federal conheceu a iniciativa e decidiu adotá-la justamente porque não se tratava apenas de um concurso. Assim que a parceria entre a Fundação Itaú Social e o Ministério da Educação (MEC) se concretizou, nesse mesmo ano, o programa passou a ser chamado de Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro e tornou-se uma política pública do governo federal.

Segundo a gerente de Educação da Fundação Itaú Social, o impacto da iniciativa ganhou uma nova dimensão com a chegada do Ministério da Educação. A primeira edição após se tornar política pública em 2008 recebeu mais de 200 mil inscrições de professores e envolveu seis milhões de alunos, vindos de 5.445 cidades, o que corresponde a 98% dos municípios brasileiros. Já na edição seguinte, em 2010 (o programa é bianual), a olimpíada alcançou 99% dos municípios do país. Nas quatro categorias – poema, memórias literárias, crônica e artigo de opinião – foram recebidas 239.435 inscrições de professores de 60.123 escolas públicas, que mobilizaram sete milhões de estudantes do ensino fundamental e médio.

De acordo com Patricia Mota Guedes, a olimpíada já proporcionou uma série de aprendizados para todos os envolvidos. “Desenvolvemos uma metodologia que orienta e instiga o professor a refletir sobre o ensino do idioma e a prática pedagógica. Ela chega dentro da sala de aula. A procura intensa de professores pelas oportunidades de formação, seja por meio do portal da Olimpíada ou pelos cursos presenciais em parceria com redes públicas, mostra bem a demanda nas escolas públicas por esse tipo de formação que liga a teoria à prática. Nos deparamos muito de perto com as mais diversas realidades brasileiras.”

O papel das empresas, institutos e fundações

O cenário da educação brasileira vem mudando para melhor nos últimos anos, mas ainda é crítico. Nesse sentido, apresenta-se como um dos principais campos de ação para investidores sociais. O caminho para a mudança parece ser a promoção de ações por meio de articulações intersetoriais.

Patrícia aponta duas áreas estratégicas para a atuação do setor privado: a participação em iniciativas que colaborem para a melhoria do ensino e aprendizagem da leitura e escrita, em parceria com a educação pública, e a promoção de iniciativas de engajamento da sociedade civil. Somente ações integradas nessas duas áreas poderão ajudar a mudar um quadro de poucos leitores no Brasil.

Uma pesquisa da Fundação Itaú Social e do Instituto Datafolha de 2012 mostrou que 96% da população brasileira considera importante incentivar crianças de até cinco anos a gostar de ler, embora apenas 37% dos entrevistados afirmem ler livros ou histórias para os pequenos. O estudo também avaliou a experiência pessoal de leitura dos entrevistados na infância. Apenas cerca de quatro em cada dez participantes afirmam que tiveram alguém que costumava ler livros ou histórias para eles nessa fase. “Pesquisas mostram que o hábito da leitura deve ser estimulado desde a primeira infância, pelos pais e familiares, e começa no gesto de ler para crianças”, explica.

Segundo a gestora, o potencial de mobilização e formação nessa área é grande. Ela cita as diversas ações encampadas pela Fundação Itaú Social além da olimpíada. Um exemplo é a campanha nacional de incentivo à leitura para crianças, que conta com distribuição gratuita de livros infantis para funcionários do banco atuarem como voluntários de leitura em bibliotecas comunitárias, escolas públicas ou ONGs. Desde 2010, já foram distribuídos mais de 30 milhões de livros e formados quase 2 mil voluntários como mediadores de leitura.

“Não existe solução simples. Mas há sim aprendizados acumulados de como fundações e institutos podem trabalhar em parceria, seja com o setor público ou organizações da sociedade civil. Há metodologias já sistematizadas e avaliadas à disposição da sociedade, além de um acúmulo de pesquisas sobre o tema, que precisam servir de base para novas ações. As inovações não nascem do vácuo, são fruto de reflexão a partir de conhecimentos acumulados, e diálogo com o contexto local. É a partir desse trabalho conjunto que podemos avançar na democratização do acesso à leitura, fundamental para a garantia do direito à educação”, conclui.

Uma rede que fortalece a prática

Desde o início, a Olimpíada conta com parceiros estratégicos para a execução das suas ações como o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e o Canal Futura. “Sabemos o quanto essas parcerias são importantes, pois agregam competências e saberes que contribuem para a elaboração conjunta de soluções para as demandas da educação brasileira”, explica Patrícia Mota Guedes.

De acordo com a gerente de Educação da Fundação Itaú Social, para que se possa realizar um programa em escala e garantir sua perenidade, firmar parcerias é imprescindível. A chegada do Ministério da Educação, além de ampliar radicalmente o efeito da iniciativa, mostrou o quanto uma parceria público-privada pode ser bem sucedida na área de educação.

Ao longo do programa, a Olimpíada também mantém uma estratégia de mobilização local em torno do tema. Toda a estrutura é organizada em conjunto com parceiros e colaboradores representantes da rede municipal e estadual e docentes de universidades públicas que formam a chamada ‘rede de ancoragem’. A capacidade de mobilização de toda essa rede permite que as próprias secretarias de educação se apropriem do trabalho que é desenvolvido pela Olimpíada para atuarem na formação dos professores de suas redes de ensino de forma qualificada.

“Aprendemos muito com essa forma de trabalhar em rede. A rede vai desde o aluno e o professor na sala de aula, até técnicos e gestores públicos da Educação, iniciativa privada, ONGs, como o Cenpec, e representantes de universidades e da sociedade civil. Todos contribuem para o processo formativo e para o constante aprimoramento do programa, além de estimular o protagonismo das redes públicas de ensino. Esse tipo de mobilização é fonte importante de sustentabilidade local da olimpíada.”

Todos os conteúdos e estratégias desenvolvidos no programa foram sistematizados e estão no Portal da Olimpíada na internet. Pela plataforma, é possível descobrir um mundo de informações na área do ensino da leitura e escrita. Há diferentes percursos formativos, cursos virtuais, pesquisas, espaços para debate e relatos de experiência, e materiais de apoio ao professor. Acesse!

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