Dia de Doar 2020 acontece em 1º de dezembro

Por: GIFE| Notícias| 09/11/2020

 

É inegável que os números contabilizados pelo Monitor das Doações impressionam: desde o começo da pandemia, mais de R$ 6,474 bilhões foram arrecadados com o envolvimento de 547 mil doadores e a realização de mais de 500 campanhas. Entretanto, alguns levantamentos e estudos mostram que essa solidariedade vem de antes da pandemia. Segundo pesquisa Datafolha, praticamente todos os respondentes declararam que costumavam realizar pelo menos uma ação de solidariedade antes da Covid-19. 

A mesma pesquisa aponta que 96% dos brasileiros desejam ser mais solidários e, dos que realizam alguma ação, 68% o fazem de forma individual e pontual por desconhecer outras opções. Com a chegada do novo coronavírus ao país, multiplicaram-se novas iniciativas, projetos e organizações com propostas diversas de engajamento: desde doação de dinheiro e de kits de higiene e alimentos até quem estivesse disposto a cozinhar e preparar lanches a serem distribuídos. 

O conjunto de ações ganha peso diante do Dia de Doar que, em 2020, acontecerá no dia 1º de dezembro. Inspirada em um movimento criado nos Estados Unidos em 2012 e que hoje acontece em mais de 70 países, a campanha visa promover a generosidade e a doação com o objetivo de criar um mundo mais solidário. 

Anualmente, a Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR) e o Movimento por uma Cultura de Doação, responsáveis por organizar e promover o Dia de Doar no Brasil, organizam conteúdos, vídeos, cartazes e tutoriais para mobilizar tanto organizações para que se apropriem dos materiais e realizem suas próprias campanhas de captação, como a população, para que haja cada vez mais engajamento com as doações.  

Joana Mortari, uma das fundadoras do Movimento por uma Cultura de Doação, explica que 2020, um ano atípico, já contou com uma edição da mobilização, o Dia de Doar Agora, realizado em maio. O evento de dezembro marca, portanto, a realização da sétima edição da data oficial no Brasil, que, em razão da pandemia, vai ter um formato diferente dos anos anteriores. 

“Sem dúvida, o Dia de Doar 2020 vai ser um evento muito mais online do que os outros. Todos os anos, observamos jantares, festas, encontros e feiras nesta data, o que não vai se viabilizar dessa vez. Então, todas as campanhas, movimentos e mobilizações terão que ser muito mais online e agregar o componente da tecnologia virtual”, explica João Paulo Vergueiro, diretor executivo da ABCR. 

Os efeitos da pandemia sobre as doações 

Muito se fala que, para ter uma cultura de doação estabelecida, é necessário que a sociedade entenda a importância de doar sempre, indo além de momentos de emergência. Com o Monitor das Doações, houve um pico que depois se estabilizou e, com meses da pandemia no Brasil, caiu bastante. Entre 31 de março e 31 de maio, por exemplo, o montante de doações contabilizado foi de mais de R$ 5,3 bilhões. 

Em julho, o Brasil bateu a marca dos R$ 6 bilhões arrecadados. Entretanto, atualmente, o Monitor contabiliza pouco mais de R$ 6.474 bilhões, o que demonstra queda acentuada no ritmo e quantidade das contribuições. Esse é, segundo João Paulo, um movimento natural de momentos de crise e emergência: com o tempo, a grande mobilização inicial de doações diminui bastante, fazendo com que elas voltem a seu patamar anterior. 

“No caso brasileiro, esperamos que as doações retornem a um patamar um pouco acima do que estavam antes, já que mais pessoas passaram a doar e a entender a importância disso. Mas, no contexto da pandemia, a mobilização durou mais do que o comum. Em períodos de emergência, essas curvas tendem a ser muito mais rápidas, não durando mais do que um mês”, explica o diretor. 

Doar agora e sempre 

Uma iniciativa interessante é fazer o melhor uso possível do momento atual, uma vez que, segundo Joana, a percepção das pessoas para os desafios sociais brasileiros está mais aguçada, uma vez que grande parte da sociedade enfrentou diferentes efeitos e consequências da pandemia.  

“O Dia de Doar vem como uma oportunização da doação e acreditamos que esse binômio oportunidade e consciência da importância do doar fará deste um dia histórico em um ano sem precedentes”, explica a especialista.

Por isso, essa edição do Dia de Doar se faz ainda mais importante para a conscientização sobre a temática, um dos principais caminhos apontados pelo manifesto do Movimento por uma Cultura de Doação para uma sociedade mais doadora sempre. 

“No Dia de Doar, trabalhamos justamente para promover o engajamento constante com a doação, para reforçar a importância de lembrar todos os dias sobre isso, de divulgar para que outras pessoas doem e inspirá-las pelo exemplo. Mesmo sabendo que não será possível manter o mesmo nível de doações atingido durante a pandemia, acreditamos e trabalhamos para o aumento da quantidade de doadores no Brasil”, afirma João Paulo. 

Como organizações podem se mobilizar 

De acordo com o estudo Impacto da Covid-19 nas OSCs Brasileiras: da Resposta Imediata à Resiliência, realizado por Mobiliza e ReosPartners, as organizações da sociedade civil (OSCs) brasileiras já estão sendo impactadas pela crise econômica aprofundada pela pandemia. 

Entre as 1.760 organizações respondentes da pesquisa, 73% afirmaram que foram enfraquecidas no atual cenário, principalmente aquelas que trabalham com cultura e recreação. Mesmo que muitas tenham se organizado para atender e apoiar diretamente as populações afetadas pela Covid-19, 73% das respondentes perceberam diminuição na captação de recursos durante a pandemia, ao passo que 65% preveem redução na captação de recursos até o fim do ano.  

A pesquisa também mostrou que os recursos doados no âmbito da pandemia, em muitos casos, não foram destinados às organizações, e sim ao resultado final, como compra de cestas básicas, por exemplo, o que deixou OSCs ainda mais necessitadas de recursos para custear a operação durante a pandemia. 46% das respondentes afirmaram que têm caixa para operar por no máximo mais três meses e 69% afirmam que precisam de recursos para manter os custos operacionais. 

Para Joana, a solidariedade é característica da cultura brasileira. Entretanto, para se converter em doação, é necessário que as pessoas se entendam como agentes da transformação que querem ver, em vez de acharem que já fazem o suficiente ou que a mudança é responsabilidade de outros atores, como os mais ricos e o Estado. “O Dia de Doar é uma oportunidade não apenas de converter solidariedade em doação, mas de realizar campanhas conscientizadoras sobre a importância de uma sociedade civil forte e independente, o que só é possível com doações”, reforça. 

Considerando o forte papel das OSCs no fortalecimento social citado por Joana, a organização do Dia de Doar tem produzido diversos materiais para ressaltar a importância de as organizações investirem tempo para pensar em suas campanhas de arrecadação para o dia 1º de dezembro. 

Para orientar a criação de conteúdos de engajamento, a Escola Aberta do Terceiro Setor lançou, em parceria com Social Docs e ABCR, o curso Dia de Doar – Planejando uma campanha de sucesso. A formação, gratuita, é composta por duas aulas que abordam conceitos e reflexões sobre doação, o passo a passo para a elaboração de um cronograma de campanha, além de aspectos práticos como a importância de pensar na mensagem a ser transmitida. 

Além disso, em setembro, a equipe organizadora do Dia de Doar promoveu o Encontro Dia de Doar 2020. Dividido em dois dias, o evento teve como objetivo abordar temas específicos da mobilização, além de debater doação a partir de diferentes perspectivas. O primeiro dia foi destinado a abordar a crise do novo coronavírus, o surgimento do Dia de Doar a partir do movimento #GivingTuesday, a imprtância das campanhas comunitárias, a definição de metas das campanhas e outros temas. Já o segundo dia do encontro contou com a participação de diversos atores que já realizaram suas campanhas para que dividissem suas experiências com os participantes. Confira os dois vídeos neste link

A ocasião também marcou o lançamento de um conjunto de materiais de apoio para a criação de campanhas por diferentes atores que desejam participar da mobilização. São três guias – para OSCs, campanhas comunitárias e indivíduos – e kits destinados a pequenas e médias empresas, além de modelos de planners e planos de comunicação semanal. Acesse aqui

Essa articulação para a produção e divulgação de materiais reforça ainda mais a importância de OSCs se empenharem e desenvolverem a chamada cultura da filantropia, isso é, uma gestão transparente e focada no doador, com mecanismos que facilitem o engajamento e a doação. “Para que o Dia de Doar tenha mais impacto e sucesso, é fundamental que as organizações peçam doação e estejam estruturadas para pedir e engajar as pessoas a doarem”, completa João Paulo. 


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