Retrospectiva 2021: os aprendizados e as possibilidades para o investimento social privado em 2022

No último Especial redeGIFE de 2021, membros do Conselho de Governança do GIFE falam sobre os desafios enfrentados no segundo ano da pandemia, as agendas em evidência no setor e as principais oportunidades de atuação para institutos, fundações e empresas no próximo ano. 

Uma das maiores e mais graves crises sanitárias da história recente da humanidade, a pandemia de Covid-19 produziu inúmeros efeitos e consequências nos mais diversos setores da sociedade brasileira e do mundo.  A gravidade dos impactos ocasionados pela chegada do vírus ao Brasil, em março de 2020, provocou uma onda de solidariedade: o Monitor das Doações, da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), registra, atualmente, R$ 7.164 bilhões doados, com quase a totalidade do montante destinada por empresas. 

Monitor das Doações

(em bilhões)

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O recém-lançado Censo GIFE 2020 confirma o maior engajamento da história do investimento social privado brasileiro ao mostrar um aumento de 53% de doações em relação ao valor reportado em 2018. Dessa vez, foram R$ 5.3 bilhões investidos pelas organizações respondentes do Censo, um número inédito.

Censo GIFE

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O boom do ESG, os impactos das mudanças climáticas e a promoção da equidade

Tema que já era pauta do mercado financeiro e de investidores, o ESG – sigla em inglês para Environmental, Social and Governance – invadiu as agendas de institutos, fundações e empresas que se viram – e se veem – cada vez mais pressionados por consumidores, acionistas, investidores e demais stakeholders por uma maior responsabilidade social corporativa.

A demanda pelo envolvimento das organizações do ISP em pautas atuais de interesse público independe do foco de atuação – considerando que muitos dos temas em voga atualmente são de responsabilidade coletiva e demandam a união de esforços para promoção de avanços significativos. 

É cada vez menos aceitável, por exemplo, que organizações não desenvolvam práticas e ações afirmativas para promover a inclusão de mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiência (PCDs) e LGBTQIA+ em seus quadros de colaboradores, ou que não tenham metas e planos para uma atuação que busque gerar menos impacto ao planeta, compromisso reafirmado durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças do Clima (COP 26), realizada em Glasgow, na Escócia.

Se a emergência climática parece ter ficado ainda mais evidente durante a pandemia, o período também serviu como um abrir de olhos definitivo para algumas questões, como o racismo que estrutura a sociedade brasileira. Pesquisas e estudos mostraram que as pessoas negras foram as maiores vítimas da Covid-19, o que, por sua vez, acarreta uma multiplicidade de debates, como a garantia de direitos básicos, o enfrentamento às desigualdades sociais, o  acesso à educação e à renda. 

O aprofundamento das desigualdades sociais ocasionado pela pandemia também pôde ser visto na educação. Com o fechamento das escolas para conter a disseminação do vírus, crianças e jovens precisaram transferir a sala de aula para a sala de casa. 

O desafio da conectividade no país – considerando que não apenas as escolas públicas, mas a grande maioria dos estudantes das redes estaduais e municipais de ensino não têm acesso a equipamentos de qualidade e à banda larga de internet em suas casas – dificultaram o acesso ao ensino remoto durante esse período. Somados a isso, o aumento do desemprego e a volta do país para o Mapa da Fome fizeram com que muitos jovens abandonassem os estudos para trabalhar e complementar a renda familiar. 

Considerando os múltiplos debates e temáticas que permearam os últimos tempos, o Especial redeGIFE de dezembro de 2021 conversou com os membros do Conselho de Governança da organização para traçar um panorama dos aprendizados do ano, as agendas essenciais para o próximo período, e as possibilidades de atuação para institutos, fundações e empresas em 2022. 

Vozes do Campo

“Considerando as dimensões e os desafios do nosso país, é fundamental pensar como os investimentos podem ser mais efetivos, eficazes e escaláveis, a fim de atender todas as populações em situação de vulnerabilidade. O investimento social privado pode, de fato, gerar impacto efetivo e sistêmico nas questões sociais.” 
Americo Mattar
Fundação Telefônica Vivo
“Temos desafios monumentais quanto à resolução de problemas complexos nos territórios e acredito que precisamos atuar por meio da filantropia colaborativa para avançar concretamente em cada questão. Não podemos seguir trabalhando de forma paliativa, pois já identificamos que as desigualdades e a destruição não têm diminuído. Uma oportunidade é o desenvolvimento de negócios com modelos lucrativos, que venham resolver problemas sociais e ambientais.”
Beatriz Fiuza
Instituto Beatriz e Lauro Fiuza
“Para 2022, entendo que os principais temas de atuação do investimento social privado estarão ligados ao aumento da vinculação do ISP com as estratégias ESG das empresas e investidores; à potencialização do protagonismo das organizações do movimento negro no que tange à agenda do ISP, sobretudo aos projetos voltados para promoção da equidade racial; e também ao aumento e reforço do conjunto de critérios de mensuração de sucesso dos projetos.”
Gilberto Costa
JP Morgan
“A filantropia terá que encarar questões sistêmicas de desigualdade social. Não basta gente rica investir em escola e não lutar para que os mantenedores das suas fundações paguem impostos mais progressivos. Desde 2017, em dois estudos, um do FMI [Fundo Monetário Internacional] e outro do Banco Mundial, a teoria econômica vem mudando para entender a redução da desigualdade social como uma alavanca para o crescimento econômico, que é a grande questão social brasileira dos últimos 40 anos. Para isso, filantropos terão que trabalhar por melhores transferências para as camadas mais vulneráveis, mas também por melhores impostos para as pessoas mais ricas.”
Guilherme Coelho
Instituto República
“Diante de inúmeros desafios, temos a oportunidade de fazer ações mais coordenadas. O campo da filantropia colaborativa se abriu e ficou mais evidente durante a pandemia. O desafio é gigante e, provavelmente, teremos que fazer um enfrentamento conjunto e coletivo. Existem questões da própria filantropia colaborativa, como a costura e coordenação de atores, mas acredito que é uma oportunidade para irmos, talvez, mais devagar, mas mais longe e com mais impacto.” 
Inês Lafer
Instituto Betty e Jacob Lafer
“A agenda ESG é uma grande oportunidade para dar ainda mais relevância ao investimento social privado nas agendas das empresas, ao tangibilizar a representatividade do pilar S, de social.” 
Luis Fernando Guggenberger
Instituto Vedacit
“O diálogo e a troca com empreendedores à frente de negócios de impacto é uma grande oportunidade. É necessário olhar para suas práticas e princípios. O que estão trazendo de novo para o desenvolvimento social e para as regras e lógica empresarial? O que podemos aprender e escalar para outras realidades e contextos? Qual a capacidade de crescimento e expansão dos negócios sociais? É possível imaginar uma sociedade na qual o negócio tenha sempre compromisso com o social? O futuro faremos agora, com o engajamento efetivo de todos e todas. Mais do que nunca, vivemos um tempo de agir e esperançar.”
Mônica Pinto
Fundação Roberto Marinho
“Acredito que um grande desafio que as empresas vão viver é o da coerência e da pressão por uma agenda ESG dentro dos negócios, com estratégias que realmente sejam alinhadas com seus valores e públicos, sem parecer qualquer tipo de social ou greenwashing. A boa notícia é que existem muitas informações, bons negócios e gente preparada para apoiar as empresas nesse caminho.”
Rodrigo Pipponzi
Instituto ACP
“Um dos principais aprendizados em 2021 diz respeito ao potencial que a combinação entre energia solar e conectividade digital tem para o empoderamento de comunidades tradicionais e povos indígenas da Amazônia. A região é o principal elemento de visibilidade do Brasil no exterior, o que tem consequências negativas do ponto de vista da imagem do país nos últimos anos, ao mesmo tempo que traz um aumento do interesse e engajamento de diferentes atores com a causa amazônica. Dito isso, é muito importante que o investimento social privado brasileiro mostre um nível maior de engajamento com a Amazônia, o principal ativo estratégico do Brasil.”
Virgílio Viana
Fundação Amazonas Sustentável (FAS)

Expediente

Natália Passafaro
COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO

Leonardo Nunes
ASSISTÊNCIA DE COMUNICAÇÃO

Estúdio Cais
REPORTAGEM/TEXTO

Estúdio Cais
INFOGRÁFICO

Marina Castilho
DESIGN & DESENVOLVIMENTO