Empresas, institutos e fundações debatem seu papel para a construção da cidadania e democracia

Por: GIFE| Notícias| 29/02/2016

 

Como as empresas, junto com as comunidades e o setor público, vêm contribuindo para a construção da cidadania e de uma institucionalidade inclusiva, participativa e transparente na América Latina, com um horizonte de desenvolvimento sustentável para os territórios?

Essa foi a pergunta-chave que norteou as discussões de mais um encontro anual da RedEAmérica, organização que conta, atualmente, com 80 instituições em 11 países da América Latina e Caribe, inclusive com vários associados do GIFE.

Representantes de institutos, fundações e empresas de todos os países da região tiveram a oportunidade de participar de uma série de atividades, algumas voltadas especificamente para os membros da Rede e outras abertas ao público, na cidade de Medellín, na Colômbia, entre os dias 23 a 26 de fevereiro. O Bloco Brasil marcou presença no encontro com a maior delegação, contando com a participação do Instituto Votorantim, Instituto Holcim, Instituto Arcor Brasil, Instituto Lina Galvani, Fundação Otacílio Coser, Instituto BRF, Votorantim Cimentos e GIFE.

Margareth Flórez, secretária executiva da RedEAmérica, explica que a organização atua para que o setor empresarial expanda sua ação na promoção de comunidades sustentáveis, ou seja, aquelas que se estabelecem a partir de processos onde a sociedade civil,o governo e as empresas participam ativamente e de forma democrática na identificação de problemas e soluções, elaboram acordos para a construção dos territórios e geram visões compartilhadas de futuro com um horizonte de paz e desenvolvimento sustentável.

“A Rede acredita que a promoção de comunidades sustentáveis oferece um espaço para que o setor empresarial contribua ao fortalecimento da institucionalidade democrática e à promoção de valores e práticas democráticas como a participação, a inclusão das vozes das comunidades, e a construção pacífica de visões e  acordos. E, desta forma, gere uma sociedade mais ativa e consciente do valor e da importância da democracia para criar oportunidades para todos, construir a paz e possibilitar as aspirações coletivas, bem como para um ambiente saudável para o progresso dos negócios”, comenta.

Ana Carolina Velasco, gerente de Relacionamento do GIFE, ressalta a importância deste tema para o investimento social privado (ISP). A organização, inclusive, conta com a Rede Temática de Desenvolvimento Local, que busca discutir o potencial e também os desafios desta articulação entre os diversos setores da sociedade no fortalecimento dos territórios. “É no local que você consegue criar ambientes e materializar essas articulações, garantindo uma maior possibilidade de participação. É no território que temos a oportunidade de contribuir de fato e fazer a diferença”, enfatiza.

Na opinião de Celia Ribeiro de Aguiar, diretora executiva Instituto Arcor Brasil, o encontro é um espaço muito importante para os profissionais das organizações membro, pois além da troca de experiências, “é uma comunhão e uma confirmação dos compromissos que nos unem. Voltamos sempre pensando no próximo”, disse.

Território

Durante o primeiro dia do encontro, os participantes tiveram a oportunidade de apresentar suas experiências na promoção do desenvolvimento dos territórios. Já no segundo dia, a proposta foi conhecer de perto iniciativas comunitárias em que a articulação do setor privado, público e sociedade civil gerou transformação comunitária na cidade de Medellín.

Um dos locais escolhido foi o Comuna 13, uma região marcada por muitos conflitos durante a década de 90, principalmente com situações de violência. A partir de um trabalho conjunto, foi possível conquistar uma comunidade muito mais inclusiva e que promove qualidade de vida para seus moradores. No local, por exemplo, para resolver a questão de mobilidade, foram instaladas escadas rolantes ao longo da comunidade. Há ainda posto de saúde, biblioteca, espaço para apresentações culturais, entre outros.

Outro espaço visitado na região periférica da cidade – com acesso inclusive por um bondinho – foi o complexo UVA, na comunidade de Novo Ocidente, que reúne auditório, quadra, piscina, entre outros equipamentos esportivos, culturais e educativos. Na comunidade, a partir de um diagnóstico local e apoio dos diversos setores, foi possível identificar as necessidades dos moradores e promover iniciativas de geração de renda e valorização local.

“A visita foi inspiradora. A fala do ex-prefeito de Medellín, por exemplo, trouxa a visão da administração pública, que é bem importante para nós”, comentou Vitor Galvani, diretor de Parcerias, do Instituto Lina Galvani.

Fórum internacional

Uma das principais atividades do encontro promovida no dia 25 foi o VIII Fórum Internacional da Rede, aberto ao público. O evento teve uma ampla programação com conferências, mesas, debates e espaço de exposição, justamente para refletir sobre essa relação entre empresas, comunidades e governos para a construção da cidadania e de uma institucionalidade inclusiva, participativa e transparente.

“A escolha por este tema não se deu por acaso. O setor empresarial como agente econômico, no marco de sua corresponsabilidade com a sociedade e o desenvolvimento dos territórios nos quais opera, bem como as fundações e institutos empresariais, estão chamados a pensar seu papel e compromisso com a democracia, especialmente numa região como a América Latina, onde os cidadãos desconfiam da democracia, as instituições enfrentam um desprestígio e os valores estão ameaçados. É preciso pensar que a democracia prove o melhor ambiente para o desenvolvimento da iniciativa privada. Portanto, resulta de interesse para o setor empresarial contribuir junto com outros agentes a desenvolver e manter saudável a democracia na região”, enfatiza a secretária executiva da RedEAmérica.

Logo no início do Fórum, Juan Carlos Ramírez, diretor do CEPAL; Javier Cortés Fernández, coordenador regional do UN Global Compact para as Redes Locais da América Latina, Caribe; e Fernando Cepeda Ulloa, ex-Ministro de Governo da Colômbia, trouxeram para a reflexão o papel das empresas nos desafios das comunidades.

Segundo os especialistas, é essencial que o setor privado tenha a consciência de que não é um ator externo e que as transformações só serão possíveis com a participação ativa de todos os setores. Ou seja, para termos uma sociedade sustentável é preciso compartilhar todos das soluções.

Na pauta do debate, estiveram também questões como os desafios da América Latina e a participação empresarial, mobilização e controle social, alianças para a construção da cidadania, entre outras.

De acordo com Ana Carolina Velasco, por ser um evento temático, o Fórum trouxe a possibilidade aos participantes de se aprofundar nas discussões, assim como conhecer mais de perto as barreiras, desafios e as soluções encontradas por diversas práticas.

“Foi interessante perceber que os países da América Latina, apesar de serem diferentes, têm questões muito parecidas para serem enfrentadas. Além disso, foi muito relevante, pois o encontro proporcionou aos presentes pensar em soluções conjuntas, assim como se inspirar a partir das outras experiências a fim de levar para o nosso local as transformações que são possíveis de serem realizadas”, acredita a gerente do GIFE.

Práticas

Alguns associados do GIFE tiveram a oportunidade de compartilhar suas práticas neste campo, como o Instituto Votorantim e seu programa de apoio à gestão pública.

Ligia Saad, responsável pela área de Articulação Institucional e Parcerias do Instituto, ressaltou também o alinhamento da proposta da RedEAmérica com a forma pela qual a instituição vem atuando, no sentido de trabalhar o desenvolvimento territorial sistêmico, a fim de garantir que as empresas prosperem em ambientes igualmente prósperos.

“E pensar desta forma diz respeito a fortalecer os pilares fundamentais que garantam o desenvolvimento das comunidades que estamos inseridos a longo prazo e a despeito da nossa atuação ali. Temos trabalhado muito não só com apoio à gestão pública, mas fortalecendo as instituições locais, governamentais e não governamentais. Entendemos que o poder público e a sociedade civil local são os alavancadores do desenvolvimento”, disse.

Tatiana Brasil Nogueira, consultora do Instituto Holcim, ressaltou também o fato de que, desde 2003, a empresa sentiu a necessidade de mudar a forma de trabalhar junto às comunidades, chamando todos os públicos para contribuir com a construção de um projeto comum em um município no qual a empresa tem operações. “A partir da consolidação de dez anos dessa experiência, em 2014 passamos por uma revisão estratégica. Nas novas diretrizes do Instituto no eixo de desenvolvimento territorial, estimulamos a formação de comitês de ação participativa que fomentam a participação de atores da sociedade para pensarem no futuro da comunidade”.

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