18 de maio: rede fortalecida é fundamental para enfrentar violência sexual

Por: Fundação FEAC| Notícias| 30/05/2022

Abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes é pauta prioritária neste período de relaxamento das restrições sanitárias. O alerta é feito por especialistas que atuam na defesa do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente nas áreas de saúde, assistência social, educação, nos conselhos tutelares e no Judiciário, e que vêm sinalizando que a violência sexual neste segmento é uma “pandemia silenciosa dentro da pandemia”.

“É preciso valorizar o trabalho em rede, da prevenção ao atendimento. A criação desta rede de proteção estimula outros profissionais a atuarem em conjunto. Todos percebem a importância da troca de informações para ampliar e qualificar todo o fluxo de atendimento”, ensina Dalka Ferrari, psicóloga e coordenadora do Centro de Referência das Vítimas de Violência, do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo, que atua nesta área desde a década de 1990.

E de fato, o isolamento social exigido durante a crise sanitária prejudicou diversos elos desta rede e lançou um manto de invisibilidade sobre os casos de violação de direitos, dificultando a sua denúncia. Nos primeiros quatro meses de 2022, as denúncias de violência sexual a estas faixas etárias no Brasil mais do que dobraram, comparadas ao início da pandemia, em 2020.

Segundo dados da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente no quadrimestre, foram 4.486 notificações contra 2.120 há dois anos. Este aumento de registros coincide com a volta dos estudantes às salas de aula e das crianças às creches, elos fundamentais neste fluxo de atendimento para que profissionais capacitados possam identificar e comunicar casos de violação de direitos contra crianças e adolescentes. “É primordial o papel da educação tanto na identificação precoce dos casos quanto na parceria com os outros atores da rede de proteção à infância e juventude”, salienta Dalka Ferrari.

A experiência mostra que os professores são peça chave para trabalhar a prevenção e tratar a questão da autoproteção com crianças e adolescentes, respeitando o seu desenvolvimento e empoderando as crianças para que elas possam identificar uma situação de risco e denunciar para alguém de confiança.

Ainda nesse contexto de pandemia, temos o levantamento da Safernet Brasil, entidade que monitora violações dos direitos humanos na internet, que aponta o crescimento de crimes cibernéticos e pornografia infantil. Segundo dados da plataforma, no primeiro ano da crise sanitária a organização recebeu 98.244 denúncias anônimas de páginas de internet contendo pornografia infantil, um aumento de 102% em relação ao ano anterior.

Parcerias para mobilizar e informar

O assunto também está no radar de organizações da sociedade civil e fundações que atuam no enfrentamento das violências contra crianças e adolescentes, com ênfase na violência sexual, em diversas frentes. A carioca Priscila Pereira, 43 anos, trabalha no Laboratório de Educação da Fundação Roberto Marinho, dentro de um núcleo conhecido como Mobilização Comunitária. Ela conta um pouco sobre o projeto Crescer sem violência, ação permanente do Canal Futura, em parceria com a Childhood e Unicef.

“O Crescer sem violência tem 14 anos de estrada e alia produção audiovisual com metodologias pedagógicas desenvolvidas para profissionais atuarem nesta agenda de forma qualificada”, diz Priscila, explicando que o projeto trabalha mais fortemente com o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente como um todo: professoras do sistema público, assistentes sociais, psicólogos, policiais, conselhos tutelares, ou seja, todos os profissionais envolvidos no atendimento e no acolhimento de casos.

“Precisamos equipar toda esta rede para a responsabilidade da proteção integral. Estas crianças precisam ter outros pares para fora de suas casas, uma escuta acolhedora”, destaca. Os materiais audiovisuais e os kits pedagógicos impressos dão informações sobre as particularidades destas violências e são parte das metodologias de formação de profissionais disponibilizadas pelo projeto e ministradas em municípios de todo o país. Um destes cursos de formação e capacitação deverá ocorrer no próximo mês, em Campinas, em parceria com a Fundação FEAC.

FEAC tem programação especial para o 18 de maio

A Fundação FEAC iniciou nesta segunda quinzena de maio uma agenda temática para marcar a data. Uma delas é a divulgação de informações sobre o enfrentamento deste tipo de violência no micro site 18 de maio, hospedado no site da FEAC, e criado especialmente para a campanha de 2022. Também está no ar uma robusta ação on-line nas redes sociais com elementos interativos, dados atualizados, debates e materiais informativos sobre prevenção, denúncia, tipos de abuso, mitos e verdades ligados ao assunto, entre outros.

“Vamos divulgar dados, perguntas e respostas sobre o tema e diversas informações que interessam a profissionais que trabalham com essa questão e à população em geral”, explica Natália Valente, líder do Programa Enfrentamento a Violências, da Fundação FEAC, enfatizando a importância de se mobilizar toda a sociedade.

Também está programado um episódio do podcast FEAC na Escuta sobre o tema, que terá a participação da psicóloga Gorete Vasconcelos, especializada em violência doméstica e consultora da Childhood Brasil, e da assistente social Helen Araújo, autora do projeto “há beleza na resiliência”, que reúne um livro de poesias homônimo e roda de conversas que abordam o tema da violência sexual na infância e adolescência.

 

Se eu contar, você escuta?

Em 1999, a psicóloga paulista Renata Coimbra entrevistou oito meninas vítimas de violência sexual, que fugiram de casa e passaram a viver nas ruas de uma cidade do interior do Brasil, algumas desde os 9 anos de idade.

 

Após 20 anos, estas mulheres relatam no documentário Se eu contar, você escuta? os motivos que as levaram às ruas e suas trajetórias em busca da sobrevivência. Na primeira parte do filme, trechos de áudios da primeira entrevista são apresentados ao espectador e, depois, sete mulheres – uma delas morreu em 2011, aos 27 anos – narram para a câmera suas experiências de forma direta e comovente.

O documentário estreia nos cinemas em Belo Horizonte, Brasília e São Paulo no dia 19 de maio. Assista ao trailer.

 

 

Educação e diálogo para a prevenção

Fundamental para a proteção de qualquer criança e adolescente, a informação e o diálogo são extremamente importantes na prevenção do abuso sexual de pessoas com deficiência. No caso de crianças, o processo educativo tem que ser conduzido de maneira ainda mais cautelosa, por pessoas integrantes do círculo afetivo da criança que tenham preparo para abordar o tema.

 

Ainda que não exista um passo-a-passo para abordar temas envolvendo sexualidade e prevenção ao abuso sexual de pessoas com deficiência – considerando a ampla gama de deficiências e níveis de comprometimento –, a Childhood Brasil divulga algumas orientações relevantes nesse sentido para familiares, responsáveis ou educadores:

  • Estabelecer uma relação de confiança com a criança, sem demonstrar algum tipo de juízo de valores ou críticas, respeitando as diferentes formas de expressão da sexualidade;
  • Proporcionar à criança conhecimentos adequados à idade e maturidade pessoal, esclarecendo dúvidas, medos e ajudando a superar superstições e preconceitos que rodeiam o tema;
  • Auxiliar no aprendizado e uso correto do vocabulário que nomeia as partes do corpo referentes à sexualidade;
  • Substituir a visão sexual permeada de culpas, medo e vergonha por um ponto de vista baseado no conhecimento, na opção livre e consciente e na responsabilidade.
 

Por Natália Rangel

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