60% dos brasileiros que necessitam de atendimento médico primário não procuraram assistência profissional
Por: GIFE| Notícias| 16/06/2025
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O primeiro módulo do programa “Mais Dados Mais Saúde“, realizado pela Umane e Vital Strategies, revelou que 62,3% dos brasileiros que necessitaram de atendimento na Atenção Primária à Saúde (APS) no último ano não procuraram assistência profissional. O cenário preocupa, já que indica que pacientes que poderiam tratar doenças de forma precoce não têm conseguido acessar os serviços de saúde nem no Sistema Único de Saúde (SUS), nem na rede privada.
A maioria (46,9%) dos 2.458 entrevistados afirmaram que não buscaram o atendimento em razão da superlotação e demora. Outros motivos apontados foram a burocracia no encaminhamento (39,2%), prática da automedicação (35,1%) e a crença de que o problema não era grave (34,6%). Os dados foram colhidos em todas as regiões do país, através de entrevistas online.
Evelyn Santos, gerente de investimento e impacto social da Umane, destaca que se tratam de obstáculos estruturais que indicam a importância de aprimorar a organização da rede de saúde, os processos de trabalho, a gestão e capacidade instalada da saúde. Considerando, principalmente, as características locais para que o atendimento responda às necessidades de cada região.
Para ela, a percepção dos usuários traduz a realidade de um sistema de saúde que precisa inovar com sustentabilidade para tornar as práticas e processos mais proativos. Evelyn também demonstra preocupação com o atual cenário de agravamento de condições tratáveis e adiamento de diagnósticos importantes, que acarretam em doenças e mortes evitáveis e prematuras que, por sua vez, causam impactos sociais e financeiros.
“É fundamental o investimento na APS, considerando que essa é a etapa da saúde que garante cuidado contínuo e prevenção aos usuários. Vale reforçar que a maioria dos usuários efetivamente atendidos nas UBSs relata experiências positivas”, acrescenta.
Essa avaliação positiva pode ser observada especialmente no respeito à privacidade e confidencialidade (79,2%), na compreensão das explicações fornecidas (75,1%), na confiança no profissional de saúde (67,8%), na oportunidade para questionar e expor preocupações (64,4%), na participação nas decisões sobre o tratamento (59,8%) e no tempo de duração da consulta (56,3%).
Mas, há também aqueles que tentaram acessar os serviços de saúde, e não conseguiram, reforçando a sobrecarga do sistema. São obstáculos como o tempo de espera muito longo (62,1%), falta de equipamentos adequados (34,4%), falta de profissionais capacitados (30,5%) e falta de atenção durante o atendimento (29%).
A Atenção Primária à Saúde, ressalta Evelyn Santos, é o cerne do modelo do SUS, universal e gratuito, e precisa ser fortalecida. Nesse sentido, contribuir a partir de soluções escaláveis e que se preocupem com as particularidades de cada território pode ser um desafio para o Investimento Social Privado (ISP). Assim como regulamentações específicas que permitam a incorporação de soluções ao sistema de modo ágil e eficiente.
Neste cenário, existem diversas formas de a sociedade civil contribuir, conta Evelyn. “A partir de soluções do desenvolvimento e investimento em soluções para aprimorar a gestão com uso de dados para tomada de decisões, aprimorar o fluxo do cuidado, organizar o processo de trabalho, entre outros, de maneira que possam funcionar na realidade da saúde pública.”