8º Congresso GIFE convoca investidores sociais a inovar suas práticas e desenvolver ações cada vez mais transformadoras
Por: GIFE| Notícias| 21/03/2014 Durante três dias, de 19 a 21 de março, mais de 800 pessoas, entre investidores sociais, dirigentes da sociedade civil, consultores, acadêmicos e representantes do governo, participaram de uma série de atividades promovidas pelo 8º Congresso GIFE a fim de discutir a capacidade transformadora do investimento social e propor novas iniciativas para o setor.
Todas as iniciativas buscaram dar luz a um dos quatro eixos centrais do evento: inovação, impacto, escala e redes. Segundo Beatriz Gerdau, presidente do Conselho de Governança do GIFE, essas quatro dimensões foram escolhidas para nortear as discussões no evento, pois podem conferir maior diversidade de atuação ao setor, assim como melhorar a capacidade de lidar com os problemas socioambientais do país.
“Se na edição passada do Congresso discutimos as novas fronteiras do investimento social e, ficou claro que os limites definidos para o tema não eram suficientes, decidimos ampliar o debate incorporando novas reflexões. A partir das temáticas e desta interação entre elas, o objetivo foi ajudar a repensar a nossa própria atuação, pois o investimento social privado precisa ser pensado cada vez mais de forma integrada. As fronteiras que separavam as ações filantrópicas, a responsabilidade social das empresas e o investimento social de impacto, por exemplo, não estão mais claras. No entanto, a dissolução destes limites será positiva na medida em que for feita com transparência e diálogo com todos os públicos envolvidos”, comentou.
Na avaliação de Andre Degenszajn, Secretário-Geral do GIFE, o Congresso conseguiu apresentar aos participantes novas possibilidades de atuação do investimento social privado, assim como ajudar a problematizar o novo contexto atual pelo qual não somente o setor passa, mas toda a sociedade.
“Talvez a principal mensagem do Congresso foi de que o nosso trabalho precisa ser capaz de promover transformações efetivas na sociedade e nas realidades sobre as quais a gente decide incidir. De alguma maneira esse evento é um divisor de águas, de um modelo de atuação para outro, que está muito mais pautado pela capacidade de produzir incidências e resultados concretos, tanto nesse ambiente em que o investimento social está, quanto na capacidade de dar ferramentas e subsídios para qualificar o investimento de cada um de seus associados”, destacou.
Transformações e inovações
A programação do Congresso foi intensa, com a presença de mais de 70 palestrantes nacionais e internacionais que estiveram a frente de mesas de debates, plenárias e oficinas, promovidas também por associados do GIFE.
Logo no início do evento, a plenária de abertura incentivou os participantes a refletir sobre as tendências que deverão influenciar o desenvolvimento do investimento social e da sociedade civil no Brasil nos próximos anos, principalmente diante das transformações provocadas pelas novas tecnologias de informação e comunicação e pela construção de novas redes e formas de associação.
Lucy Bernholz, do Centro de Filantropia e Sociedade Civil da Universidade de Stanford, na Califórnia (EUA), destacou que a nova economia gerada na sociedade digital tem tido impacto direto também no investimento social, pois a partir das relações e aproximações permitidas pelas novas tecnologias, diversas limitações não existem mais.
Assim, se antes os recursos privados para fins públicos tinham poucas possibilidades de interação, hoje tem aumentado o número de escolhas. Agora, é possível ativar várias redes e unir espaços, pessoas e organizações que estavam dispersas, fortalecendo as ações. Uma novidade, por exemplo, é o crowdfunding, com a criação de plataformas digitais para apoio a projetos sociais.
“Algumas coisas que antes achávamos que não faziam parte do trabalho social agora fazem. As pessoas estão se voluntariando de formas novas. Elas podem ser voluntárias orientando alguém por meio do celular ou criar uma rede entre amigos para promover uma ação de melhoria do bairro. Essa rede vai ser ativada em outras causas sem se formalizar enquanto instituição ou organização social. E isso está acontecendo em todo o mundo”, destacou Lucy.
Denis Mizne, diretor da Fundação Lemann, sinalizou ainda que a era digital exige cada vez mais das pessoas, agilidade nas ações e nas respostas às demandas colocadas. “Hoje não podemos mais passar meses planejando, desenhando projetos e depois os analisando. O mundo digital mostra que teremos que tomar decisões rápidas, até apostando em tentativas e erros. Além disso, precisamos pensar em como vamos conseguir incorporar esse princípio de sociedade em rede para catalisar a transformação social, sem ficarmos tão deslumbrados apenas e sem saber de que forma atuar”, pontuou.
Outra plenária que reuniu mais de 130 participantes do Congresso foi a que discutiu “Mobilização e políticas públicas”. Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco, que mediou a conversa, enfatizou aos presentes o caráter inovador do evento, por trazer essa temática numa discussão sobre investimento social privado. “Isso demonstra o novo posicionamento e o movimento real que o GIFE está buscando trazer para o setor. Sabemos que não há como pensar solidamente os papéis dos institutos e fundações se não formos ao encontro deste diálogo com as múltiplas configurações da sociedade civil e os diversos atores que estão presentes nela”, enfatizou.
O advogado Pedro Abramovay, diretor para a América Latina da Open Society Foundations, lembrou que o assunto da mobilização não é novo, pois as mais efetivas políticas na história da humanidade foram feitas a partir de grandes mobilizações, mas a principal novidade é como os governos e as instituições públicas vão se relacionar com as pessoas frente à complexidade e as novas oportunidades de interação que as tecnologias trouxeram.
Segundo o especialista, todas as economias da intermediação, ou seja, aqueles que viviam de serviços de intermediação, como uma agência de viagem, por exemplo, foram afetadas pela tecnologia, sendo preciso mudar radicalmente, se reinventar para não perder público e consumidor. No entanto, a política, que também faz parte desta economia, já que atua por meio da representação, tem sido uma das mais resistentes às transformações da internet.
“Temos hoje instituições desenhadas numa sociedade fabril tentando ser eficiente em uma sociedade em rede. Evidente que não vai dar certo. Tem um abismo gigantesco entre a sociedade e essas instituições. Assim, a política precisa se engajar com as pessoas nessa nova lógica, que multiplique e some. Precisamos ter a coragem de reformular nossas instituições de maneiras tão radicais para permitir que essa interação das pessoas com o governo seja cotidiana, complexa e esteja afinada com o tipo de sociedade atual”, comentou Abramovay.
Durante a atividade, os palestrantes tiveram a oportunidade de apresentar algumas experiências de sucesso em mobilização visando causas sociais, como as realizadas pelo Meu Rio. Trata-se de uma rede de mobilização, com mais de 120 mil pessoas cadastradas – a maioria jovem de 18 a 29 anos – que busca participar ativamente dos processos de decisão da cidade.
Baseada em critérios públicos, uma equipe multidisciplinar responsável pela iniciativa seleciona algumas das mobilizações para dar um suporte ainda maior, com estratégia, pesquisa, articulação e comunicação. A equipe também facilita a comunicação entre os membros da Rede Meu Rio para que eles se auxiliem, dedicando voluntariamente seu tempo e seus talentos para aumentar o impacto de suas mobilizações.
Alessandra Orofino, uma das criadoras do movimento, destacou a importância das ações de mobilização não se restringirem ao ambiente da internet, mas, sim, terem iniciativas ditas off-line, ou seja, com intervenções presenciais. “Usamos a tecnologia para nos organizar, pensar em soluções e propor políticas públicas, assim como para pressionar o governo. As ferramentas digitais são relevantes no sentido de acesso e também de tempo mesmo. Mas, é importante sempre ter essa ponte com o ‘mundo real’”, enfatizou.
Na opinião da ativista, outra questão fundamental para a atuação de um movimento como o Meu Rio, foi a definição clara dos princípios e valores com os quais estariam ligados e o tipo de ações que não fariam, mesmo com apoio financeiro. Por isso, o grupo decidiu não trabalhar com temas específicos de mobilização, como educação ou saúde, por exemplo, a fim de evitar de serem contratados para prestar serviços.
“Não que isso seja um problema, sempre, mas como trabalhamos com ampliação de espaços de participação, ficamos com receio de chegar a ser comissionados para pautar temas específicos. A nossa ideia é reformar instituições políticas”, apontou.
O Congresso contou ainda com diversas mesas de debate que discutiram outras temáticas como os dilemas do alinhamento entre negócio e investimento social; o que a sustentabilidade das OSCs tem a ver com investimento social; investimento social privado em políticas públicas; entre outras.
Atividades abertas
Diversas atividades abertas também movimentaram os três dias do Congresso GIFE, promovidas por associados, assim como parceiros. Os debates abordaram desde o financiamento coletivo no Brasil, passando pelo desenvolvimento de competências por meio do voluntariado corporativo, até as alternativas para organizar a filantropia familiar.
O Movimento Todos Pela Educação, por exemplo, organizou um encontro a fim de convocar os presentes para se engajarem no processo de aprovação e implementação do Plano Nacional de Educação (PNE). Durante a atividade, Priscila Cruz, diretora executiva do movimento, apresentou a iniciativa de 20 instituições que se uniram para criar o Observatório do PNE , plataforma que reúne, além de informações sobre o plano, estudos nacionais e internacionais sobre o tema e também ferramentas que permitem ao internauta comparar dados e metas.
“Ao alinharmos o investimento social aos interesses do governo e esforços das organizações e movimentos da sociedade civil, conseguiremos garantir não só a aprovação, mas a implementação do Plano Nacional de Educação”, enfatizou.
Já a oficina “Impacto Social: concepções práticas do investimento social brasileiro”, propôs um debate em torno de questões relacionadas à avaliação de impacto de iniciativas sociais. A partir de suas experiências os investidores destacaram pontos importantes em relação ao uso e a aplicabilidade das avaliações de impacto, como as possibilidades de aprendizado que a avaliação traz, confirmando teses, hipóteses e permitindo ajustes e até mesmo realinhamento estratégico de programas.
Antônio Bara Bresolin, da Fundação Itaú Social, destacou: “É importante estar disposto a encarar o que não funciona. Subsidiado pelo processo avaliativo, é necessário dialogar com stakeholders e ter abertura para rever a gestão do projeto, se necessário”.
Outro assunto que ganhou destaque durante a programação aberta do Congresso foi em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), uma atividade organizada pela Fundação Amazonas Sustentável. Na conversa Jeffrey Sachs, diretor do Instituto Terra e Assessor Especial do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que, ao mesmo tempo que a humanidade nunca esteve tão interconectada, também nunca esteve tão perto do ponto de não-retorno. Segundo Sachs, a solução deve ser pensada em escala global e o grande desafio é encontrar um caminho em conjunto.
Dentro da esfera da ONU, o conselheiro coordena a Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável (SDSN na sigla em inglês) que irá estabelecer metas de desenvolvimento sustentável aos moldes dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs).
Sachs acredita que definir metas claras ajuda no cumprimento dos objetivos, que abordarão dez temas: acabar com a pobreza; promover o crescimento sustentável e empregos; educação para todos; proteção dos direitos humanos; saúde para todos; agricultura sustentável; cidades sustentáveis; energia sustentável e mudanças climáticas; biodiversidade sustentável; e boa governança. O processo agora está em definir indicadores para cada um dos temas. Esses indicadores estão abertos para consulta pública até o dia 28 de março (clique aqui para participar).
Dois novos capítulos foram produzidos para a SDSN, um para o Brasil e outro específico para a Amazônia, o que mostra a importância que o país tem para o tema. O professor Virgílio Viana, Superintendente Geral da Fundação Amazonas Sustentável e coordenador da iniciativa SDSN Amazônia, ressaltou que a oportunidade de ruptura é cada vez menor e que “não é uma mudança simples, é uma metamorfose”. Virgílio explicou que é possível produzir riqueza na Amazônia de forma sustentável, desde que a educação se torne relevante e auxilie no desenvolvimento de ferramentas para uso inteligente da floresta.
Clique aqui (http://congressogife.org.br/2014/blog/categoria/noticias) para conferir a cobertura completa do evento.