Conferência Européia de Avaliação aponta tendências e desafios para a avaliação de políticas e projetos sociais

Por: GIFE| Notícias| 21/10/2016

Por Gustavo Valentim*

 “O futuro da avaliação na Europa e além: conexão, inovação e usos” foi o tema da 12ª Conferência Bianual da Sociedade Europeia de Avaliação, realizada em Maastricht, Holanda entre os dias 26 e 30 de setembro. Avaliadores de todos os continentes estiveram presentes para discutir aspectos éticos, métodos, desenvolvimento de capacidades avaliativas e comunicativas para a evolução da avaliação nos próximos anos.

A Agenda 2030 e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) ocuparam o cerne da agenda, com análise sobre os efeitos dos 17 objetivos, 169 metas e 241 indicadores sobre os sistemas nacionais de avaliação, aspecto que tem impacto direto sobre o Brasil, um dos signatários do acordo. De maneira distinta aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, os quais os ODS substituem, a avaliação se instala desde o início desta Agenda 2030 para acompanhar os seus avanços e se faz urgente refletir sobre as formas de avaliar, seja em escala nacional ou local. Foi recorrente o debate sobre a possibilidade de construir um framework para operacionalizar as avaliações, bem como questões relacionadas ao papel da avaliação e do avaliador para colaborarem, por meio do fornecimento de análises em prazos adequados, com o alcance dos objetivos propostos.

A complexidade e a dinâmica veloz do mundo atual foram destacados como desafios para a tradição da avaliação até aqui desenvolvida. Neste sentido, a utilização de métodos mistos[1] como base metodológica foi visto como crucial para lidar com os contextos labirínticos e mutáveis que os avaliadores são convidados a adentrar.

No entanto, ainda que os métodos mistos possam trazer evidências robustas e consistentes, o painel sobre o papel do avaliador como agente de mudança no cenário da agenda 2030 apontou o esgotamento do potencial de mudanças do modelo da avaliação centrada nas evidências. A leitura produzida no congresso do cenário político atual é a de que as pessoas estão tomando decisões muito mais pautadas em valores do que pelas mais consistentes e factíveis evidências apresentadas – o que tem tornado muito difícil combater discursos de ódio e segregação com base em pesquisas e argumentos racionais.

Isto exige que os avaliadores se voltem tanto para o reconhecimento e explicitação dos valores segundo os quais estão interpretando os dados quanto para aqueles valores presentes no contexto com qual está dialogando. Esta é uma saída para que os avaliadores, a partir do conhecimento que geram, consigam promover oportunidades de desenvolvimento para todos os atores envolvidos no processo avaliado e para o próprio processo em si.

Sobre a metodologia e formas de interpretar, comunicar e influenciar o rumo dos programas e políticas, mesmo que muitas críticas tenham sido feitas, havia um norte para discussão, um terreno conhecido de referenciais conceituais. Todavia, uma pergunta saiu sem resposta: como a avaliação pode valer-se das tecnologias digitais da informação e comunicação para complexificar e dar respostas em tempo real para os tomadores de decisão? São raras e ainda muito pouco maduras as iniciativas que debatem dentro do campo da avaliação o uso das informações de big data tanto já produzidas pelo simples fato das pessoas portarem tecnologias móveis quanto possíveis de serem geradas por modos inovadores de coleta a partir do alcance que essas tecnologias permitem. A resposta a esta pergunta, mesmo que não esteja nem perto do seu rascunho inicial, foi apontada por diferentes avaliadores como a provável revolução no campo avaliativo nos próximos cinco anos.

[1] Os métodos mistos em avaliação tratam-se da combinação de ferramentas quantitativas e qualitativas para explicar a complexidade dos programas e projetos com base no princípio de que fenômenos são, normalmente, imprevisíveis e não explicáveis por mecanismos lineares de causas (MERTENS, D.M. 2013).

Sobre o autor

Gustavo Valentim é sócio da Move e lidera avaliações de projetos na área de educação.

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