MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Com o crescimento do terceiro setor no Brasil, também vem aumentando o volume de publicações voltadas a essa área. O fato de editoras apostarem no tema reflete o próprio amadurecimento do setor e o aumento da procura por referências bibliográficas sobre ele.

Apesar de não existirem estatísticas que comprovem a ampliação desse mercado editorial, já que não há uma categoria específica para a catalogação dos livros sobre e para o terceiro setor, editoras com trabalhos especializados nessa área afirmam que ela é significativa.

A gerente do Instituto Fonte, Flora Lovato, diz que isso vem acontecendo desde meados da década de 90. “”No sistema Dedalus da Universidade de São Paulo, por exemplo, encontra-se um único título relacionado explicitamente ao terceiro setor com data anterior a 1995 (Privado Porém Público, de Rubem César Fernandes). Outro texto de referência foi editado em 1993 (Para Além do Mercado e do Estado? Filantropia e Cidadania no Brasil, de Leilah Landim).””

O Instituto Fonte tem como missão apoiar iniciativas de desenvolvimento de organizações do terceiro setor por meio de consultorias, cursos e publicações voltados a práticas sustentáveis de gestão. Um de seus principais trabalhos é a coleção Gestão e Sustentabilidade, composta por sete livros que abordam assuntos referentes à gestão de organizações da sociedade civil.

Renata Borges, diretora da Editora Fundação Peirópolis, afirma que existe uma preocupação comum entre todos os que atuam no terceiro setor, que diz respeito à profissionalização e à perenização das ações, sejam elas isoladas ou institucionalizadas. Daí a busca por publicações voltadas ao desenvolvimento do setor ou sobre temas relacionados ao seu foco de atuação.

“”Os assuntos mais recorrentes são aqueles que tratam da profissionalização dos atores sociais e das organizações não-governamentais, como captação de recursos, planejamento estratégico e legislação que rege o setor””, diz Renata.

A Peirópolis é uma das principais editoras que lançam livros voltados para a temática do terceiro setor. Entre suas publicações estão Recursos Privados para Fins Públicos -As Grantmakers Brasileiras e Terceiro Setor – Regulação no Brasil, feitos em parceria com o GIFE.

Além dessas, o GIFE edita regularmente publicações voltadas à temática do investimento social privado e ao desenvolvimento do terceiro setor no Brasil. São guias para empresas, institutos e fundações que desejam fazer ações sociais e livros com palestras e artigos de especialistas na área.

A Editora Senac São Paulo também tem atuado na publicação de literatura dirigida a esse setor. Já lançou Terceiro Setor – Um Estudo Comparado entre Brasil e Estados Unidos e Desenvolvendo sua Organização – Um Guia de Sustentabilidade para ONGs, este último em parceria com a Fundação Abrinq. Ainda estão previstos os lançamentos de um guia de gestão para organizações sociais, um livro sobre marketing aplicado à atividade social, um sobre planejamento e um sobre mídia e terceiro setor.

Marcus Vinícius Barili, gerente corporativo da editora, alerta para o fato de que, embora exista um número crescente de publicações, o assunto não está esgotado. “”Os temas mais abordados não atingiram um grau de excelência que dê conta da complexidade e da profundidade das questões relativas ao setor, e algumas áreas permanecem precárias, como avaliação de projetos, indicadores de impacto social, histórico do terceiro setor, perspectivas e políticas, redes sociais, parcerias e alianças, comunicação e desenvolvimento local integrado e sustentado.””

Especialmente nos últimos três ou quatro anos, segundo Renata, da Peirópolis, também houve um crescimento no volume de textos sobre terceiro setor produzidos no ambiente acadêmico. No entanto, ela aponta que a maioria desses trabalhos traz apenas revisão bibliográfica e poucos apresentam inovações que realmente possam contribuir para o desenvolvimento e a maturidade das organizações.

“”Acredito que faltam ações conjuntas e coordenadas entre as organizações que são referência na área para a produção de conteúdo simplificado, rápido e instrumental para os envolvidos com a área social: o livro-semente, que vai chegar lá na ponta, a preço bem acessível, ao agente do desenvolvimento local””, afirma Renata.

Credibilidade – Parcerias com instituições representativas do terceiro setor já têm sido feitas pela própria Peirópolis e pela Editora Saraiva. Renata lembra que, além de terem em sua missão o compromisso de amadurecer e disseminar conceitos, são as organizações da sociedade civil que produzem o conhecimento mais valioso.

A Editora Saraiva mantém uma parceria com o Instituto Ayrton Senna no selo Biblioteca Instituto Ayrton Senna, que tem como objetivo disseminar as tecnologias sociais desenvolvidas pela instituição. O diretor de marketing da editora, Wander Soares, conta que o trabalho surgiu da necessidade de fazer chegar a um maior número de pessoas as experiências de trabalhos bem-sucedidos para a melhoria do país.

“”Estar ao lado do IAS nesse projeto é motivo de satisfação para nós, por estarmos de alguma forma ajudando a concretizar um grande objetivo, que é disseminar informações importantes a todos quantos estejam inseridos em trabalhos no terceiro setor””, diz Soares.

Atualmente já são dois os títulos publicados pelo selo Biblioteca Instituto Ayrton Senna: A Pedagogia do Sucesso e Manual de Avaliação de Projetos Sociais. Em breve, será lançado o terceiro: Educação para o Desenvolvimento Humano.

Para Barili, da Editora Senac-SP, o que indica que o livro pode ser tomado como referência é a notoriedade do autor ou organizador da obra, a respeitabilidade da instituição que apresenta o assunto, a relevância do tema e a profundidade com que ele é tratado.

“”O ideal seria verificar se o livro se baseia em pesquisas científicas ou bem fundamentadas, considerar a seriedade do autor e sua trajetória no estudo sobre o terceiro setor, estar atento a autores e publicações muito associados a modismos e valorizar livros que contam com o apoio de instituições reconhecidas nacional e internacionalmente na área.””

Catalogação – A catalogação para os livros referentes ao terceiro setor é outro passo a ser dado na produção nacional. Atualmente, essas publicações não têm espaço específico nas prateleiras das livrarias e podem ser encontradas junto a livros de administração, direito, marketing, sociologia e educação, entre outros.

Uma forma de diferenciação começa a aparecer apenas nas fichas catalográficas, disponíveis no interior dos livros, por meio de algumas palavras-chave indicadas pelos editores. Além disso, alguns já apresentam em suas fichas o CDD (Deweys Decimal Classification) 361.706, um registro internacional que se refere ao terceiro setor.

Flora, do Instituto Fonte, lembra que terceiro setor não é uma área de conhecimento, mas sim de atuação. “”Assim como o comércio, a indústria ou o Estado não são áreas de conhecimento específico. A lógica dos editores, dos livreiros e da própria Biblioteca Nacional na catalogação dos livros está ligada às áreas de conhecimento. De outra forma, seria praticamente impossível fazê-lo.””

Por outro lado, ela acredita na possibilidade de criação de uma sub-categoria em algumas áreas de conhecimento. “”Em administração, por exemplo, é possível ter uma sub-categoria voltada ao terceiro setor, prática já adotada em uma livraria de São Paulo.””

Barili conta que a dificuldade de situar assuntos nas livrarias é antiga e vale não só para o terceiro setor. “”As livrarias têm limitações de espaço para um número enorme de publicações. Dificilmente conseguem organizar a comunicação visual das estantes na loja sem ter de agrupar temas de catalogação. Procurar publicações no vasto universo disponível nas livrarias requer bons recursos informatizados e atendentes bem treinados para auxiliar o leitor.””

Links para organizações que editam publicações sobre o terceiro setor: