Projetos sociais baseados em atividades esportivas promovem melhoria na educação
Por: GIFE| Notícias| 06/10/2003MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE
Na última quinta-feira (2/10), o Instituto Ayrton Senna assinou um Protocolo de Intenções com o Ministério dos Esportes para ampliar o programa Educação pelo Esporte. Criada em 1995, a iniciativa já atendeu cerca de 30 mil estudantes e permitiu a queda dos índices de evasão e reprovação escolar em seis estados brasileiros – São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Rio Grande do Sul e Pernambuco.
O programa é realizado por meio de parcerias com universidades, onde os projetos são coordenados por um professor de educação física e estudantes de diversas áreas atuam como monitores. Neste ano, mais oito universidades passaram a integrar o quadro de parceiros do programa, além de outras organizações não-governamentais, como os institutos Guga Kuerten e Zequinha Barbosa.
Este é apenas um exemplo de como programas sociais esportivos vêm possibilitando avanços na educação de crianças e jovens no Brasil, despertando o interesse do Estado e da sociedade civil em replicar experiências bem-sucedidas na área. Os benefícios englobam, além da diminuição da evasão escolar, melhora do rendimento na sala de aula e das relações interpessoais.
“”Nossa proposta é trabalhar o esporte não com a finalidade de transformar as crianças em grandes atletas, mas como uma ferramenta de educação integrada, que irá catalizar as competências sociais, pessoais, cognitivas e produtivas que elas podem desenvolver””, explica a gerente do programa Educação pelo Esporte, Cléo Araújo.
Ela afirma que o esporte é pouco explorado em projetos e programas sociais porque muitas organizações ainda não estão conscientes de que não precisam ter como foco a criação de atletas campeões. “”Eles vão surgir, é natural, mas isso é conseqüência do processo. Temos que buscar fazer com que o esporte também tenha o poder de educar para a vida, para valores e para competências a serem desenvolvidas.””
Almir Paraca, diretor executivo de desenvolvimento social da Fundação Banco do Brasil, concorda que esse tipo de programa deve ter como princípios a inclusão e a integração dos participantes, sem estimular competições. “”A prática esportiva não contribui apenas para o desenvolvimento físico das crianças, mas especialmente para o desenvolvimento de capacidades de integração, disciplina, trabalho em equipe e auto-estima.””
Desde 1997, a Fundação Banco do Brasil desenvolve o programa AABB Comunidade, que atende hoje cerca de 57 mil crianças e adolescentes de baixa renda, em 395 cidades brasileiras. As atividades, promovidas nos clubes de funcionários do Banco do Brasil (AABB – Associação Atlética Banco do Brasil), também têm tido como resultados a diminuição da evasão escolar, a melhora do rendimento escolar e o incentivo à relação interpessoal.
Edney Martins e Walmir Cedotti, respectivamente analista e consultor do Instituto Escola Brasil, lembram que, apesar de ser visto tradicionalmente como forma de competividade, o esporte é um instrumento de auto-conhecimento e contato com o outro. “”Conseqüentemente, promove a permanência da criança e do adolescente na escola e torna-se ferramenta para trabalhar temas variados, como diversidade, e incentivar uma postura de cooperação e inclusão””, contam.
O Instituto Escola Brasil conta com a atuação voluntária dos funcionários do Banco Real ABN Amro. Eles desenvolvem atividades esportivas, artísticas e culturais com alunos do ensino fundamental da rede pública. Além da reforma e da construção de instalações esportivas, doação de material e realização de palestras e eventos, por meio de parceria com universidades, o Instituto oferece aulas de diversas modalidades de esporte individual e coletivo em ações complementares à escola.
“”Incentivar o desenvolvimento de atividades esportivas nas escolas permite ampliar a percepção das limitações e do potencial do próprio corpo, vivenciada no pátio ou na quadra, para o ambiente da sala de aula. Para que este desdobramento seja possível e se solidifique, o investimento no profissional de educação física deve ser uma estratégia fundamental””, afirmam Martins e Cedotti.
Infra-estrutura – Para Almir Paraca, da Fundação Banco do Brasil, além da capacitação dos profissionais, atividades esportivas requerem condições mínimas de local e infra-estrutura. “”Também é essencial que as atividades sejam promovidas de forma criativa, possibilitando o desenvolvimento pessoal e social.””
Uma das maiores dificuldades na implementação de projetos esportivos no Brasil, de acordo com o diretor do Instituto Xerox, José Pinto Monteiro, é a falta de espaço para sua prática. “”Há construções dos últimos 20 anos onde não foi dada a mínima atenção à criação de espaços de convivência e áreas esportivas. Isso é o maior entrave para que se dissemine essa prática como educação complementar.””
Promovida pelo Instituto Xerox, a Vila Olímpica da Mangueira tem uma área de 35 mil metros quadrados, com quadra de futebol, pista de atletismo, piscina, quadra poliesportiva e área para arremessos de pesos e dardos. São oito modalidades – atletismo, basquete feminino, futebol de campo e de salão, ginástica rítmica, natação, capoeira e vôlei – praticadas pelas cerca de 1.500 crianças e adolescentes entre 8 e 17 anos atendidas na comunidade da Mangueira, na cidade do Rio de Janeiro.
Com a implementação do projeto, além do índice de ocupação das escolas da comunidade ter passado de 40% para 100%, foi constatada a diminuição da criminalidade na área. “”O esporte já se revelou a máquina mais poderosa para atrair crianças e jovens. E a partir dele é possível trabalhar todas as áreas da educação complementar e da própria educação formal””, afirma Monteiro.
Atletas – Como prova de que todo esse trabalho também pode formar atletas profissionais, mesmo não sendo esse seu objetivo final, 80 das 120 crianças que têm aulas de futebol na quadra de esportes da Basf, em São Bernardo do Campo (SP), já fazem parte da Federação Paulista de Futebol. Elas participam do projeto Crescendo com o Esporte, desenvolvido pela empresa desde 1991.
“”Temos como foco de atuação social a educação e a atividade esportiva de base, e o projeto vem contribuindo para a formação dessas crianças, oferecendo aprendizado com foco na importância do trabalho em equipe e na disciplina””, afirma Vanessa Weber Leite, coordenadora de responsabilidade social da Basf.
Quando não é possível construir novos espaços para desenvolver projetos sociais de esporte, Cléo Araújo, do Instituto Ayrton Senna, lembra que é possível utilizar espaços já existentes, como universidades, clubes e associações. “”Pode-se adaptar materiais, o que não pode é faltar pessoas interessadas e que entendam que o esporte tem o poder de educar e desenvolver competências.””