Produtos do mercado financeiro são nova tendência de atuação social

Por: GIFE| Notícias| 17/03/2003

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Alguns bancos têm encontrado no lançamento de produtos específicos do mercado financeiro uma nova maneira de apoiar projetos sociais. De acordo com os diretores de diversas instituições que já criaram fundos de investimento ou títulos de capitalização com esse propósito, essa é uma tendência crescente no Brasil.

Para Carlos Guerra, diretor do Santos Asset Management – responsável pela administração dos fundos de investimento do Banco Santos -, isso também é reflexo da linha social que o novo governo adota. “”Acredito que cada instituição deve, dentro do seu perfil, do seu foco e dos clientes com que trabalha, desenvolver um produto que possa ter esse objetivo. O Brasil tem uma deficiência de canais que viabilizem recursos da iniciativa privada para ações sociais. Todas as ferramentas que auxiliem essa transferência, via mercado financeiro, terão uma demanda significativa.””

O Banco Santos lançou oficialmente no último sábado (15/3), o Fundo Pró-Amem, em benefício à Associação do Menor pelo Esporte Maior, que abriga 39 crianças carentes de São Paulo. A instituição abrirá mão de 100% da parte que lhe cabe, a taxa de administração do fundo (de 1,5% ao ano), e a reverterá paraa instituição. A meta é chegar a R$ 10 milhões até julho.

“”A idéia é repassar os recursos de uma forma perene, para que os dirigentes dessa associação possam fazer um planejamento a médio e longo prazo””, explica Guerra.

Fernanda Cotta, gerente da área de integração empresarial da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), concorda. “”O maior problema das entidades do terceiro setor é a captação de recursos. Com esses produtos, ganha a empresa, porque está investindo num fundo que traz rentabilidade de mercado, e ganham as organizações, porque se tudo funcionar como planejamos, isso será uma fonte de receita infindável.””

A Fiemg e o Banco Santos, em parceria com o Banco Bonsucesso, lançaram o Fundo Princípio de Investimentos Financeiros. “”O fundo vai render 96% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) e o que ultrapassar essa faixa será apropriado como taxa de performance e destinado ao Instituto Princípio””, explica Carlos Guerra.

O Instituto Princípio de Cidadania Empresarial, ligado ao Conselho de Cidadania Empresarial da Fiemg, será responsável por administrar e repassar os recursos adquiridos aos projetos sociais.

O diretor de captação do Banco Bonsucesso, Jorge Lipiane, conta que, em um mês, já foram captados R$ 5 milhões. “”A expectativa é que consigamos chegar a R$ 100 milhões, em dois anos. Estamos fazendo um trabalho pró-ativo nas empresas e a recepção está muito boa.””

Educação – Outros exemplos de produtos financeiros que têm auxiliado ações sociais são o Fundo Educação, do BankBoston, e o Fundo Private de Investimento Social, do Unibanco Private Bank.

O projeto piloto do Fundo Educação foi lançado junto à base de clientes do BankBoston na região Centro-Oeste, onde está sediada a ONG Missão Criança, beneficiada pelo fundo.

A superintendente da Fundação BankBoston, Sônia Favaretto, conta que o Fundo Educação é um fundo de investimento DI no qual os clientes investem R$ 20 mil e têm rendimentos iguais aos que receberiam de qualquer outro. Mas o banco doa 75% de sua taxa de administração à organização, que a reinvestirá.

“”Com isso, cada criança terá direito a R$ 200 por ano, atualizados, o que hoje corresponde a um salário mínimo. Ela poderá sacar até 50% do seu saldo ao terminar a quarta série, mais 50% do saldo remanescente ao final da oitava série e o saldo restante ao final do ensino médio. A proposta é complementar ao programa Bolsa-Escola, trazendo uma idéia de futuro: quanto mais tempo a criança estudar, maior será o seu retorno financeiro””, explica Sônia.

Já o Fundo Private de Investimento Social permite aos aplicadores do Unibanco Private Bank retorno equivalente ao da poupança (variação da TR mais 6% ao ano) e destina toda a rentabilidade que ultrapassar esse patamar a projetos escolhidos pelo Conselho de Investimento Social do banco. Esse órgão é formado por clientes que tenham experiência e vivência em projetos sociais. A taxa de administração do fundo também é direcionada a ele.

Receptividade – Luiz Eduardo Junqueira, coordenador do Programa Itaú Social, conta que a receptividade de um produto que apóie programas sociais é enorme. “”Às vezes, as pessoas que aderem a um plano desse tipo podem estar suprindo uma necessidade de querer fazer algo, mas não sabem por onde começar.””

O Itaú lançou, no início do ano, o plano de capitalização PIC Esperança. Na mesma linha adotada no PIC Criança e no PIC Itaú-Unicef, lançados respectivamente em 1994 e 1998, a empresa destina os resultados financeiros que lhe seriam devidos para programas de educação.

Durante quatro anos é debitado um valor mensal na conta do cliente. A somatória dos valores é aplicada e o resultado financeiro destinado aos projetos. Nas duas primeiras edições, foram comercializados aproximadamente 250 mil títulos e repassados ao Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) cerca de R$ 16 milhões. Na nova série, os recursos serão divididos entre o Unicef e a Fundação Itaú Social.

“”Os clientes aderiram em massa, com muito entusiasmo. Houve um grande incremento em comparação aos outros PIC e acredito que o fato de ele ter uma causa social cativou e sensibilizou as pessoas””, conta Junqueira.

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