Pesquisa revela que 63% das organizações têm acesso à internet
Por: GIFE| Notícias| 24/02/2003ALEXANDRE DA ROCHA
Subeditor do redeGIFE
Ainda inédita, a pesquisa Desenvolvimento Local e Promoção de Acesso à Internet entrevistou 1.080 organizações de todos os estados brasileiros com o objetivo de avaliar a importância que é dada à rede eletrônica de informações pelos gestores de projetos sociais. Realizado pela Rits (Rede de Informações para o Terceiro Setor) e pelo Iser (Instituto de Estudos da Religião), o levantamento constatou que 63% das organizações têm conexão com a internet.
Apesar de a pesquisa constatar que a grande maioria das entidades tem computador (87%), o baixo índice de conexão acontece principalmente pela falta de estrutura. Entre as justificativas mais apontadas estão a falta de recursos (56,1%), computadores insuficientes ou inadequados (23,2%), ausência de capacitação dos funcionários (19,9%), e inexistência de linha telefônica disponível (11,4%).
“”Dos cerca de 5.500 municípios brasileiros, apenas pouco mais de 600 têm estrutura adequada para acesso local, sem necessidade de ligação interurbana””, afirma Rodrigo Baggio, diretor executivo do Comitê para Democratização da Informática (CDI).
Mesmo com as dificuldades, um número chama atenção na pesquisa. Apesar de só 63% das organizações terem conexão, 71% navegam na internet. Inicialmente contraditório, o dado mostra um aspecto peculiar do terceiro setor. Segundo a pesquisa, muitos profissionais ligados à área social acabam flexibilizando as fronteiras entre o espaço do trabalho e da vida privada ao realizar em suas casas pesquisas e outras comunicações digitais que deveriam ser feitas durante o expediente.
Redes – A relação entre o terceiro setor e a internet permeou todas as discussões da mesa-redonda Internet e Participação Social, promovida pelo Senac na última semana, em São Paulo. O encontro teve a participação de organizações que utilizam diariamente o potencial da internet, como o CDI, o Viva Rio e a Ação de Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida.
Uma das utilidades da internet mais apontadas pelos presentes foi a potencialização do trabalho em rede. Ao disponibilizar recursos como a comunicação instantânea, a rede eletrônica pode facilitar o diálogo entre organizações.
Na pesquisa da Rits e do Iser, este dado foi apurado. Muitas organizações afirmaram utilizar ferramentas que facilitam a integração e a formação de redes. O e-mail é a mais comum, utilizada por 93% das organizações que acessam à internet. Em menor escala estão as listas de discussão (22%) e outros sistemas de comunicação instantânea, como ICQ e salas de bate-papo (9,4%).
Para Rubem Cesar Fernandes, coordenador-geral do Viva Rio, a internet possibilita a realização da máxima “”pensar globalmente, agir localmente””. “”Ela é aquela mágica que permite expandir fronteiras e ampliar nossa agenda de atuação contra as desigualdades sociais””, afirma Rubem César.
Captação de recursos – A pesquisa também mostrou que boa parte das organizações entrevistadas utiliza a rede para atividades de apoio na captação de recursos. Em uma pergunta de múltipla escolha, 28,1% afirmaram utilizar a internet para campanhas de mobilização, 60,2% para divulgação de informações e atividades e 50,4% para comunicação com a comunidade.
A experiência do site Click Fome (www.clickfome.com.br), três vezes vencedor do iBest, principal prêmio da internet brasileira, é um bom exemplo.
Em 1999, ficou famoso em todo o mundo o The Hunger Site (www.thehungersite.com), endereço eletrônico norte-americano no qual, através de um clique, o internauta doa um prato de comida para uma pessoa que passa fome. Cada doação é financiada pelos patrocinadores do site. Segundo dados do The Hunger Site, após os Estados Unidos, o segundo país que mais dava audiência à iniciativa na época era o Brasil. Porém, as doações não eram encaminhadas ao país, mas sim para outras regiões do mundo.
Intrigado com o fato, Daniel de Souza, coordenador da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida decidiu criar o Click Fome, iniciativa semelhante ao site norte-americano, mas que destinaria recursos para duas campanhas da organização: Natal sem Fome e Bolsa-Escola. “”O site foi precursor no Brasil da solidariedade pela internet””, afirma Daniel.
Para Daniel, o Click Fome despertou a atenção da organização para a internet. Ele lembra que, na época, o site da Ação da Cidadania era muito simples e não trazia nem as informações básicas. Com o crescimento do Click Fome, o endereço eletrônico da organização foi reformulado para atender à nova demanda. “”Nossa expansão se deve muito ao Click Fome e ao nosso site, que prepararam um terreno fértil para a organização crescer.””