Esporte é para o desenvolvimento humano e para a paz
Por: GIFE| Notícias| 21/11/2005FERNANDO ZORNITTA*
Doutorando em Planejamento Territorial e Desenvolvimento pela Universidade de Barcelona, co-idealizador e fundador do Movimento Green Wave, da Apolo – Associação de Cinema e Vídeo e da Unisports – Esportes, Lazer e Cidadania
O esporte como atividade incorpora vários aspectos positivos relacionados ao desenvolvimento humano, especialmente quando praticado nas atividades de tempo livre, em que o indivíduo está desobrigado das atividades de trabalho e dos compromissos de caráter social – nos seus mais preciosos momentos: os de lazer e recreação.
Oferece benefícios para a saúde, pelos diversos aspectos que lhe são afins e relacionados – principalmente físicos, psicológicos e terapêuticos – contribuindo para uma vida saudável; oferece importantes componentes para a educação; contribui para promover a participação social, a disciplina e a competitividade e, assim, para o desenvolvimento intelectual do indivíduo que o pratica.
O esporte também promove o intercâmbio sociocultural, que ocorre através da participação da prática e dos eventos esportivos e, neste contexto, também promove os valores humanos e universais, tais como a disciplina, o senso de equipe e de coletividade, a solidariedade, a compreensão e a tolerância; os quais em conjunto contribuem para a cooperação e o estabelecimento da paz.
Os eventos esportivos representam e são muito mais do que simples competições. Congregam pessoas, entidades, governos, comunidades para em nome do esporte, elevar o espírito humano, aproximar povos, confraternizar e fazer vivenciar momentos ímpares em que o homem, ele mesmo, só ou coletivamente, busca a superação, o equilíbrio, a perfeição -que nos ajudam enfim, a fazer uma aproximação da imagem e semelhança com que fomos criados.
A formação atlética e a profissionalização esportiva podem também ajudar a diminuir o imenso abismo da inclusão do jovem que busca e não encontra espaço para o exercício pleno da cidadania e que imprescinde, para isso, do exercício de uma profissão digna e alinhada com a sua vocação.
A problemática juvenil é uma das maiores preocupações nos países desenvolvidos (que têm políticas próprias e recursos) e, nos países mais atrasados, é uma panacéia que não encontra saídas pela premência da atenção a outros problemas, sempre considerados mais urgentes, tais como a inclusão econômica no mercado globalizado, o combate à pobreza, a fome, a saúde, a habitação; a expansão da infra-estrutura – dentre outros fatores que desviam a atenção e os recursos (seja para as prioridades ou para outras antiéticas, tais como a mal versação e a corrupção).
Segundo a ONU, só uma em cada três crianças e jovens no mundo pratica alguma atividade esportiva. No Brasil, essa proporção é maior: de uma em cada seis. E em outros países pode chegar a uma em cada dez ou mais.
Embora o Brasil tenha certa tradição em algumas modalidades esportivas, ainda não foi sedimentada a cultura do esporte, como um grande aliado na construção da cidadania, para que favoreça a incorporação de outros valores humanos e para que contribua para melhorar a humanidade, enquanto oferece a oportunidade da manifestação do potencial atlético, da inclusão social – de maneira objetiva, coletiva e de uma nação, que vê no esporte um aliado no processo de inclusão social “”de fato e de direito””.
A percepção da sua importância já ocorreu a nível público no país, entretanto, as políticas estão erradas. São centralizadoras e não incentivam as iniciativas locais, que ocorrem ao nível das comunidades e da sociedade civil organizada, não ocupam equipamentos já existentes e não oferecem a orientação profissional necessária.
Historicamente, as políticas públicas brasileiras são de cima para baixo, e executadas de forma desarticulada em mega-programas utópicos, sem continuidade e que se perdem nos discursos, na má gestão dos recursos e que não chegam a se concretizar nunca.
A melhor política de incentivo – seja ela global, nacional, regional ou local – para a promoção do esporte será aquela que incentivar o que vem da sociedade, pois é ela que sabe onde o calo aperta, é nela que estão as forças sociais que podem promover as mudanças – para melhor é claro – e para benefício das pessoas, das comunidades e em função do desenvolvimento local, regional, nacional e mundial.
Estado, sociedade, entidades e indivíduos devem promover e oferecer a oportunidade da formação esportiva como uma atividade elementar e como parte dos princípios e dos componentes básicos da formação, do desenvolvimento humano e da inclusão social.
Todos temos um papel relevante a desenvolver. Governo e organismos internacionais, estabelecendo os princípios, as estratégias e as diretrizes de uma correta política de ação, os profícuos projetos e os programas de incentivo a todas as iniciativas e práticas esportivas; sociedade e suas organizações, indicando as necessidades, mobilizando as comunidades, as pessoas, os atletas, os educadores, os profissionais das diversas especialidades e áreas do conhecimento, envolvidos com o esporte, para traçarem juntos com os governos e organizações nacionais e internacionais as corretas políticas públicas e privadas, a formulação e a eleição dos projetos e programas e, para ajudar na execução dos mesmos.
Só assim, com a participação cidadã, das organizações da sociedade civil, dos organismos nacionais e internacionais, dos governos, dos atletas e dos profissionais envolvidos e comprometidos com o esporte, seguindo os princípios, as estratégias e as corretas políticas, desarmando e punindo-se os antiéticos e os trogloditas que se degladeiam e não enxergam “”nas entrelinhas”” os valores e o potencial desta atividade humana, o esporte poderá ser para a paz.
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