Responsabilidade e investimento não podem estar descolados

Por: GIFE| Notícias| 26/06/2006

Em meio à Conferência promovida pelo Instituto Ethos, na semana passada, especialistas mostraram que o setor privado precisa ir além dos simples indicadores de boas práticas. Eles defendem que estamos em uma época de transição e, assim, as empresas devem rever sua responsabilidade na sociedade.

Para Ricardo Young, presidente do Instituto, contradições nos discursos, sejam eles empresariais, governamentais, da mídia, ou mesmo na sociedade civil organizada, aparecem agora com mais freqüência, graças ao aprofundamento do debate.

Nesse contexto, todos os atores devem acompanhar a dinâmica das mudanças sociais, principalmente as empresa, que enfrentam agora um novo paradigma de competição, muito além do preço e qualidade. “”Não se pode mais permitir que se alienem da responsabilidade para uma sociedade sustentável””, defende Young.

Essas conclusões do Congresso permeavam as mesas de debate promovidas entre os dias 19 e 22 de junho, em São Paulo. Entre as questões mais presentes estava: como sair do discurso e ampliar as práticas realmente efetivas para o desenvolvimento de uma sociedade sustentável, como pedia o tema do evento?

Para John Renesch, futurista e autor do livro “”Getting to the Better Future””, uma das respostas está na integração de diferentes setores. Essa solução, no entanto, está ligada mais a vontade individual do que de intrincadas reuniões com especialistas.

“”Devemos baixar nossas defesas para buscar a integração de grupos de visões diferentes, em uma só direção. Os nossos problemas se resumem à sobrevivência e isso implica em uma ação individual de mudança em prol do objetivo maior para multiplicar a mudança””, afirmou durante o evento.

Em uma espécie de crítica, o escritor, que tem visitado vários países, dando palestras para vários tipos de públicos, lamenta que o mundo seja hoje cínico, apático e fundamentalista, especialmente em relação aos negócios, “”ao fazer dinheiro””. “”Só poderemos provocar mudanças depois que nós tivermos elevado nossas consciências””, crê.

As considerações de Renesch deram origem a outros questionamentos. No caso do setor privado, a vontade política e social de empresas são o catalisador para uma real mudança de práticas?

De acordo com Jacques Marcovitch, professor de Estratégia Empresarial e de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), a resposta está no diálogo. Conciliar o curto, o médio e o longo prazo, é uma tarefa conjunta de governo, empresas e sociedade civil, disse o professor durante palestra.

“”Para superar nossos grandes passivos econômicos e sociais e atender às grandes expectativas da juventude, devemos focar algumas prioridades na perspectiva social, como educação, equidade de acesso, emprego, habitação e rede de proteção social””.

Nesse sentido, o investimento social privado se insere como prática imprescindível na participação empresarial. No entanto, o investimento, sozinho, não é o suficiente. “”Não se trata do último passo, mas do começo da jornada. A empresa deve saber trabalhar com seus valores””, argumentou Steve Rochlin, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento no Centro de Cidadania Corporativa do Boston College, na plenária Desenvolvimento das Sociedades – o Papel do Estado, do Mercado e da Sociedade Civil.

Por outro lado, ele acredita que o conceito do the business of business is business está ficando rapidamente para trás. “”Responsabilidade social tem a ver com a maneira pela qual as organizações encaram os seus valores, levando em conta os valores da sociedade. Quando as organizações se relacionam com a sociedade de maneira mais ampla e, claro, dando bons lucros aos seus acionistas.””

A favor desse crescente movimento de humanização, John Renesch afirma que “”é hora do mundo crescer. Temos uma oportunidade única de, conscientemente, ascender ao próximo passo da evolução””. Sentenciou, como um desafio à própria conferência que, sendo o setor mais poderoso da sociedade, “”se as empresas não mudarem junto com a sociedade, não haverá mudança””.

O escritor também lembrou que é hora de sermos mais “”irracionais””, destacando a questão de que foi o pensamento racional que levou a todo esse caos contemporâneo. “”Todo o progresso depende do homem que é pouco razoável””, explicou.

Assim, Ricardo Young deixou claro que já passou da hora de se discutir diferenças entre responsabilidade social e investimento social privado. O que ele pediu aos participantes do evento é que esses esforços sejam somados e que se busque um diálogo inclusivo, envolvendo diferentes expertises.

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