Avaliação, sustentabilidade, stress e aprendizagem

Por: GIFE| Notícias| 26/12/2007

Eduardo Marino*

No ano de 2007, as demandas e por conseqüência as formas de se estruturar avaliações de investimento social privado começaram a ser influenciadas pelos debates, estratégias e instrumentos criados para o desafio da sustentabilidade. As discussões em torno dos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) deixam claro a responsabilidade que governos, empresas e sociedade civil deverão assumir para diminuir causas do aquecimento global.

Grandes empresas vêm incluindo nas suas estratégias ações, ainda tímidas, para a redução de emissões. Na esteira deste movimento surgem conceitos e ferramentas que, por um lado chamam atenção para aspectos ambientais, sociais e econômicos que necessitam ser gerenciados e monitorados e, por outro, alimentam o mercado corporativo da educação e de consultorias.

Pegada Ecológica e Global Report Initiave (GRI), são exemplos de iniciativas que visam contribuir para o ganho de consciência e a indução de comportamentos voltados a sustentabilidade. A Pegada Ecológica possibilita avaliar os impactos no planeta de ações individuais a de países com base na análise de um conjunto de indicadores de consumo e de resíduos gerados em relação à capacidade dos recursos naturais absorverem estes impactos.

Segundo cálculos da Global Footprint Network, a pegada ecológica da humanidade atualmente é 23% maior do que a capacidade do planeta se regenerar. O GRI sugere um conjunto de indicadores que representam um conjunto de critérios de sustentabilidade para empresas. Em termos metodológicos, o que há de comum nessas duas iniciativas é a utilização de indicadores e critérios ambientais, sociais e econômicos que afetam a sustentabilidade.

A utilização de indicadores, prática utilizada de longa data nos programas de qualidade, ganhou um novo impulso nos últimos anos, tendo como enfoque atual as dimensões da sustentabilidade. A construção desses indicadores passa por aspectos metodológicos já conhecidos e disseminados por consultores e acadêmicos. Novas práticas mais elaboradas, baseadas em diálogos e entendimentos de múltiplos interessados asseguram indicadores mais representativos e legítimos, e, portanto, mais motivadores tanto do ponto de vista de se tornarem alvos quanto na motivação para avaliá-los.

Sem dúvida, todo este movimento tem representado ganhos também no campo do investimento social, muitas organizações vêm buscando construir indicadores que respondam as demandas da empresa no entendimento da sua contribuição para a sustentabilidade. A forte orientação para o cumprimento de metas parte das empresas, parece gerar, entretanto, uma competição entre metas e sustentabilidade. Indicadores criados em profusão e de maneira superficial, são utilizados como instrumentos de cobrança, ocasionando stress e frustração com resultados abaixo dos esperados. Nestes casos, percebe-se que o papel da avaliação, de propiciar ganho de consciência e induzir comportamentos para um planeta melhor, representam na verdade, mais um fator de risco para o bom desempenho interno e externo das organizações.

A idéia da sustentabilidade enquanto capacidade do planeta de se renovar talvez tenha que ser traduzida para o campo da avaliação como uma estratégia para a auto-renovação das próprias práticas empresariais e de investimento social. Há um longo caminho a se percorrer neste sentido, já que a aprendizagem organizacional parece ter sido um conceito bastante discutido na década de 90 e pouco incorporado pelas empresas, institutos e fundações corporativas transnacionais e locais.

*Eduardo Marino é mestre em Administração de Empresas na FEA – USP e graduado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista. Especializou-se em avaliação pela Western Michigan University – USA. Já atuou como consultor e gerente de organizações e programas sociais em instituições como Fundação Kellogg, Instituto Ayrton Senna, Instituto Avon, WWF-Brasil, ABN-AMRO REAL, Fundação ORSA, Instituto Fonte e Vitae – apoio à Cultura Educação e Promoção Social. É autor de livro na área e professor em diversos cursos.

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