Pesquisa aponta necessidade de investimento em professores

Por: GIFE| Notícias| 16/06/2003

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e o Ministério da Educação (MEC) lançaram, no final do mês de abril, a pesquisa Ensino Médio: Múltiplas Vozes. O estudo, coordenado por Miriam Abramovay e Mary Garcia Castro, traz um mapeamento detalhado da atual situação do ensino médio em 13 capitais brasileiras, incluindo avaliações e opiniões de professores e alunos.

O levantamento aponta que cerca de 60% dos professores tem como formação a licenciatura e aproximadamente 30% deles possui pós-graduação ou mestrado, em particular nas capitais do Sul e Sudeste. Na maioria das cidades os professores declararam estar insatisfeitos com a renda obtida no trabalho no magistério. Em Maceió (AL), por exemplo, o índice de insatisfação chega a 76,9%.

Outro ponto destacado é a necessidade de se investir em formação inicial e continuada dos professores. Investidores sociais privados já notaram isso há algum tempo e têm promovido cursos, programas de capacitação e prêmios de reconhecimento a ações inovadoras destes profissionais, não apenas com relação ao ensino médio, mas principalmente quanto à educação básica e à fundamental.

Miriam Abramovay afirma que há muitos anos não se faz um estudo sobre o ensino fundamental no Brasil, mas que, a partir de outras pesquisas feitas nas escolas há cerca de dois anos (sobre a incidência de DST/Aids e drogas), pode-se afirmar que as reivindicações por uma formação mais avançada aparecem em todos os níveis escolares.

“”Nessas avaliações, os professores queixavam-se por não estarem preparados para falar sobre os mais diversos temas e manter a relação com uma juventude que tanto pergunta e tanto quer saber””, conta Miriam.

Segundo ela, é necessário e já existe uma tendência em se investir cada vez mais nessa capacitação, tanto nas matérias lecionadas, quanto em temas específicos sobre os quais os professores têm dificuldades em lidar.

Apoio à educação – A Fundação Clemente Mariani mantém na Bahia o Programa de Apoio à Educação Pública Municipal, que prevê diversas atividades diretamente relacionadas com os problemas enfrentados pelas secretarias municipais de educação do estado. “”Este programa orienta as atividades desenvolvidas nos municípios, inclusive as de formação de professores. Esta é uma das principais demandas nas cidades””, explica Marta Lícia, pedagoga da organização.

Com os programas de capacitação dos professores, Marta diz que houve uma diversidade de inovações metodológicas nas aulas das redes municipais. “”Esse aspecto foi constatado por meio de pesquisas. Contudo, é muito difícil mensurar os resultados do programa de formação, pois uma das suas peculiaridades é que ele não ocorre de forma isolada, mas sim articulado com diversas ações, como construção de planos municipais de educação, elaboração do plano de carreira do magistério, formação de conselheiros da área educacional, entre outros.””

Ter ações articuladas facilita o processo de formação e evita resistências por parte dos professores. Marta afirma que, no trabalho da Fundação Clemente Mariani, as resistências de alguns professores ocorrem em casos isolados (1%) e não dizem respeito somente ao programa de formação em serviço, mas a outros problemas de ordem pessoal – geralmente ligados à saúde ou à família – ou de insatisfação com a profissão,como a própria escolha profissional ou a baixa remuneração.

Na Fundação Bunge, de São Paulo, as ações são planejadas com os próprios docentes, a direção das escolas e as secretarias de educação. “”Incentivar a troca de experiências e a divulgação de bons projetos realizados em sala de aula é muito positivo, pois os professores se identificam na fala dos palestrantes, trocam idéias, apresentam suas angústias e percebem que os desafios geralmente são comuns, independente da posição geográfica, mas possíveis de serem superados””, diz a coordenadora de voluntariado da organização, Cláudia Calais.

Uma das iniciativas da Fundação Bunge na formação de professores é o Prêmio Incentivo à Educação Fundamental, que reconhece projetos pedagógicos relevantes desenvolvidos por docentes em sala de aula e que estão contribuindo para a melhoria da qualidade da educação.

Os vencedores são convidados a trocar experiências com outros por meio do seminário ReciCriar: A Pedagogia do Possível, que é realizado nas regiões onde há o Comunidade Educativa, programa de voluntariado da Fundação desenvolvido com escolas públicas do ensino fundamental.

“”Existem projetos muito bons acontecendo em salas de aula de todo o país e precisamos identificá-los e torná-los públicos. É preciso destacar esses projetos e as atividades bem-sucedidas, pois eles são fruto da vivência do docente em sala de aula, dos desafios que ele teve que superar para garantir a permanência do aluno na escola, diminuir a distorção idade/série e garantir uma educação de qualidade””, afirma Cláudia.

A pesquisadora Miriam lembra que reconhecer boas iniciativas e estimular a troca de experiências entre os docentes é fundamental. “”Toda forma de trabalhar a auto-estima das pessoas é válida. Os professores trabalham muito e realizam diversas atividades. Quanto mais iniciativas como essas, melhor, pois trabalham um reconhecimento do que eles professores estão fazendo.””

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