Ovos de chocolate para monjas suíças?

Por: GIFE| Notícias| 06/04/2009

Michael Alberg-Seberich e Aletta von Meibom*

Em nossa pesquisa pelas fundações mais desconhecidas, a fundação de caridade é uma das nossas favoritas. Uma fundação Suíça determina (isenta de impostos) seus objetivos como:

– Permitir que famílias de camponeses das montanhas e camponesas solteiras dos cantões de St Gallen, ambos Appenzell e Glarus, visitem o Circo Knee;

– Na Páscoa forneçam às freiras e ao sacerdote do Monastério Cistercian da localidade, um Ovo de Páscoa Schoggi-Chocolate recheado com 300g de bombons cada um.

Se isto não é suficiente para levantar a questão sobre as doações sem restrições a respeito das intenções, considere que 46% dos respondentes de um novo estudo sobre novas tendências em filantropia [1] acharam que suas doações de caridade tiveram um “”impacto maior em sua realização pessoal”” do que aqueles que receberam as doações.

Será que o status de isenção tributária deveria ser outorgado para todas as doações? Não seria melhor definir limites mais rígidos para as doações particulares que estejam alinhadas com o interesse público em vez de permitir que, por exemplo, Leona Helmsley doasse um valor estimado em US$ 8 bilhões para cachorros?

Porém, apenas para esclarecer, estamos a favor da liberdade de doar. Nós lhe diremos o porquê e depois agregaremos alguns “”poréns””.

Pela liberdade de doar

Em primeiro lugar demos uma olhada nas raízes da filantropia. Por que o Estado transfere parte de seu poder de decisão para o doador privado? No cerne disto está a idéia de numa sociedade pluralista, o indivíduo pode ter idéias para resolver problemas que a mente pública jamais imaginaria. O Estado, enfim, não sabe tudo. E se confeccionássemos uma lista de investimentos públicos errados (usando dinheiro de impostos), não seria impressionante?

Além do mais, enquanto os políticos, com a reeleição em mente, podem preferir assuntos populares, as fundações podem ter uma visão mais abrangente. Por exemplo:

– Em 1991, quando o governo dos EUA não queria financiar pesquisas em comportamento sexual, duas fundações lideradas pela fundação Robert Wood Johnson financiaram uma pesquisa em comportamento sexual e a sua relação com a saúde pública e individual. O estudo contribuiu positivamente na luta contra HIV/AIDS.

– O trabalho da Carnegie UK Trust na participação de gente jovem mostrou crescente alienação dos jovens para com a política. Documentou a crise da democracia britânica. O relatório da Iniciativa Carnegie de Gente Jovem fez diversas recomendações que foram subsequentemente adotadas pelo governo.

Por último, mas não menos importante, muito dinheiro privado simplesmente não iria para o setor se não fosse pela liberdade de investi-lo onde o doador escolhesse. O empresário e filantropo Florian Langescheit, falou por muitos empresários quando disse: “”temos muito a fazer e podemos fazê-lo de forma mais eficiente, pluralisticamente e melhor [que o Estado]””.

Na opinião dele, cada Euro “”privado”” gasto é tão eficaz quanto três euros gastos pelo Estado. Concordando ou não, esta visão é comum entre as pessoas que tem a riqueza para fazer doações para a filantropia. (Amarre as mãos deles com regulamentos governamentais e garanta que os fundos irão para outro lugar (incluindo paraísos ficais) de modo que o “”público”” não veja o dinheiro nem por vias de impostos). No entanto…

Se nos beneficiássemos da força e da criatividade dos doadores privados e fundações, seria também importante limitar as probabilidades de situações extremas como a doação da Leona Helmsley. Três enfoques podem ajudar nisto.

Tenha seu foco na raiz das causas e esteja disposto a entrar em território desconhecido.
As fundações estão no seu auge quando agem como pioneiros, quando estão dispostos a testar e reinventar em vez de agir querendo preencher o vácuo deixado pelo Estado. As fundações e os doadores deveriam desencadear temas, desenvolver soluções que possam ser adotadas por outros envolvidos (incluindo o Estado) e avaliar constantemente onde o seu “”capital de risco”” pode gerar o maior retorno social.

Reconhecidamente, o alto risco de fracasso inerente a este enfoque resultou que muitas fundações tomaram rumos mais seguros. Espera-se que mais fundações percebam que a última prestação de contas é com o público (e o beneficiado) e não com seu diretório.

Melhorando o serviço dos doadores
Precisamos dar apoio aos doadores que desejam melhorar. Em contraste com os EUA e a GB, onde você encontra uma ampla gama de serviços para doadores como rede de internet, conselheiros e base de dados, os outros paises tem infra-estrutura muito menos desenvolvida. Um estudo recente feito pela parceria Scorpio, mostrou que tanto doadores como conselheiros estão conscientes desta necessidade e espera-se que, no futuro, possa resultar em recursos adicionais para o setor.

Reforçando os mecanismos não-públicos de controle interno e externo. O último e talvez o ponto mais crucial é a necessidade de que funcionem mecanismos privados de controle. Em 1998, a Fundação Wallace apoiou uma parceria entre grandes e pequenas organizações das artes para gerar volume e expandir as audiências. Uma avaliação interna da programação descobriu que as organizações das artes estavam formando parcerias somente para angariar fundos. O que demonstrou que a estratégia da Wallace fracassou. Em vez de esconder o fracasso embaixo do tapete, a fundação publicou uma avaliação. Também incluiu a lição aprendida na suas regras sobre doações. Como efeito colateral, a publicação da avaliação (muito acessada e copiada) reforçou muito a reputação da Wallace no setor.

Lentamente, mas com firmeza, o controle externo está melhorando também. No início de 1998, a guardiã alemã de caridades, a DZI retirou o selo conhecido como Spendensiegel (selo de Caridade) da UNICEF alemã após identificar a administração de doações não transparentes e demonstrando que as grandes e estabelecidas organizações não podem confiar no seu status quando se trata de mecanismos de controle independentes do terceiro setor.

Mahatma Gandhi uma vez disse: “”A liberdade não vale a pena tê-la se não incluir a liberdade de errar””. Ao final de contas, pensamos que uma cultura de doação pluralista e de risco pode ser um ponto positivo para todas as democracias. E, me conte, quem não gostaria de comer um ovo de chocolate de vez em quando?

1 Administrado em 2008 pelo Centro sobre Filantropia da Universidade de Indiana e o Bank of América.

*Michael Alberg-Seberich é Sócio Executivo, Active Philantrophy. e Aletta von Meibom é Gerente de Projetos.

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