Em direção a um novo ciclo de desenvolvimento
Por: GIFE| Notícias| 11/01/2010Jacques Marcovitch
Especial para Alliance (www.gife.org.br/alliancebrasil)
A crise social, econômica e ambiental ameaça o futuro da humanidade e, neste momento, a sociedade procura novas maneiras de enfrentar seus desafios. Um futuro promissor dependerá dos fundamentos do novo ciclo de desenvolvimento baseado em sólida gestão financeira, energias renováveis, tecnologias limpas, preservação da biodiversidade e conciliação de crescimento econômico com distribuição da renda.
Para construir um novo ciclo de desenvolvimento, fazem-se necessários talentos profissionais bem preparados, com especial atenção aos técnicos e engenheiros. Não se trata simplesmente de uma questão vocacional. Além da área educacional, os demais setores que compõem a sociedade devem colaborar na preparação de profissionais jovens que possuam atitudes e valores que abarquem o desenvolvimento sustentável em todas as suas dimensões.
A oportunidade
Frente à recessão econômica, os países além de melhorar a sua infraestrutura social e econômica devem criar condições favoráveis para a retomada do crescimento. Respostas às demandas locais incluem, além de alimentos, educação e saúde, uma solução aos déficits crônicos em serviços de saneamento básico e de moradia.
Somente no Brasil os serviços de saneamento e tratamento das águas deveriam se expandir para atender mais de 45 milhões de habitantes. Alem disso, é necessário construir mais de 20 milhões de moradias para resolver o déficit habitacional. A solução desses déficits crônicos abrange todas as dimensões do ambiente humano, isto é, materiais de qualidade, água potável, energias renováveis e limpas. Trata-se de uma grande oportunidade para gerar empregos, estimular novas carreiras e promover o desenvolvimento, o que por sua vez melhoraria os quadros econômico, comercial, social, ambiental e político.
O desafio
Neste princípio de século XXI quase a metade da população mundial tem menos de 25 anos e, por definição, uma sociedade jovem deveria oferecer mais esperança no que concerne a diminuir a falta de competências humanas. Somente na América Latina são mais de 70 milhões de jovens entre 16 e 24 anos.
No entanto, preparar as próximas gerações para um novo paradigma de desenvolvimento continua a ser um grande desafio. Os estudantes mais brilhantes estão à procura de uma vida de realizações que combine habilidades úteis com valores inspiradores. Aparentemente, as carreiras técnicas parecem ignorar estas expectativas. Mesmo na crise atual, tanto o setor produtivo como a área acadêmica têm focado mais no conhecimento em rápida desatualização e muito menos nas habilidades e nos valores humanos, afastando os jovens mais idealistas.
Os novos caminhos
Como então preparar e reter jovens talentos? Para preparar novos talentos os empregadores devem oferecer incentivos aos jovens profissionais, tratá-los de forma mais justa em termos de remuneração, dando-lhes a oportunidade de conhecer novos horizontes e oferecer um sistema de valores humanos sintonizado à era que está se iniciando.
Seria necessário, por exemplo, reinventar profissões técnicas e de engenharia para se tornarem carreiras atrativas, oferecendo aos jovens oportunidades únicas em ambientes de trabalho mais estimulantes, alertando que durante toda a vida o bom profissional descobre coisas novas. Ao mesmo tempo, os programas de estudos acadêmicos deveriam oferecer cursos avançados relacionados a temas e desafios contemporâneos capazes de desafiar os estudantes de engenharia e de carreiras técnicas.
Os professores deveriam ter a opção de passar um tempo trabalhando no setor empresarial e em organizações da sociedade civil. Os líderes empresariais e os dirigentes das áreas de recursos humanos deveriam também conhecer melhor a academia e o mundo da sociedade civil. Esta múltipla interação ajudaria a expor professores e formadores a um mundo em profunda transformação. As idéias a seguir poderiam ajudar a diminuir a distância entre o conhecimento, os valores humanos e as habilidades técnicas:
- Promover conhecimentos práticos de gerenciamento de crise através da resolução de problemas e simultaneamente da construção de princípios éticos.
- Delinear parcerias empresa-universidade focadas na diversidade cultural e na inovação.
- Remunerar adequadamente aqueles que trabalham em prol de uma formação técnica promotora do novo ciclo de desenvolvimento.
- Estimular aqueles que desenvolvem mecanismos de colaboração e programas de estudo que incluam a participação ativa da sociedade civil e dos empresários para construir visões concretas de futuro e de interesse público.
Concluindo, os elementos fundamentais de um novo ciclo de desenvolvimento devem ter como fundamento não apenas uma sólida arquitetura financeira, como também oportunidades educativas de qualidade, tecnologias limpas, uso sustentável dos recursos naturais e um regime socioeconômico equitativo. Como sugeri no início, nenhum setor por si só tem condições de fazê-lo. É preciso assegurar uma ampla participação de muitos agentes sociais. As instituições filantrópicas, com seu poder convocatório e capacidade inovadora, podem e devem trabalhar com os governos, as empresas, a sociedade civil e com as instituições que compõem a academia. Assim elas poderão contribuir para que os mais jovens adquirem as habilidades práticas e valores humanos apropriados para despertar novas esperanças e alicerçar um novo recomeço para a humanidade.
Jacques Marcovitch é professor da Universidade de São Paulo (Brasil) e integrante do Conselho para a Agenda Global sobre o Futuro da America Latina do Fórum Econômico Mundial (Genebra).
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