Thereza Penna Firme: “Avaliação é transdisciplinar”

Por: GIFE| Notícias| 12/04/2010

“Não vá atrás de mim que posso não guiá-lo, não vá na minha frente que posso não segui-lo. Vá ao meu lado”. Frases de impacto e metáforas são uma marca de Thereza Penna Firme. Coordenadora do Centro de Avaliação da Fundação Cesgranrio e consultora nacional e internacional em avaliação, ela roubou a cena durante a mesa “Qual avaliação cabe para o seu projeto?” durante o 6º Congresso GIFE.

Com a mesma descontração e irreverência mostrada durante o debate, Thereza reforçou a importância de uma avaliação ampla e abrangente para o setor nessa entrevista. “Temos de usar os próprios avaliados para serem avaliadores”, defendeu.
GIFE – Avaliação sempre foi muito precária no país. De que forma isso prejudicou o setor?
Thereza Penna Forte –
Não podemos desprezar o que já foi feito. Nós temos é de rever essas experiências e colocar nelas o essencial, descobrir o que pode ser aproveitado, formar políticas sobre experiências inovadoras, ou experiências espontâneas, mas que tenham seu valor. E ir construindo no momento e da maneira certa e trabalhando os padrões básicos e essenciais da avaliação: utilidade, viabilidade, ética e precisão.

São aspectos importantes para mostrar que nossa avaliação não pode deixar de se sustentar nesses pilares, mas que temos de continuar criando, trocar ideias entre profissionais. Avaliação nos moldes modernos não tem mais de 30 anos de existência. Nesses 30 anos tivemos crescimento acelerado da avaliação, que se tornou uma disciplina, uma área de conhecimento. Aliás, que não é nem disciplina, é transdisciplinar.

GIFE – De que forma evitar que uma avaliação burocratize e aumente os custos de um processo de investimento social?
TPF –
Melhor maneira é avaliar a própria avaliação. As pessoas que estão em um processo avaliativo têm de parar um pouco e pensar como está sendo feita a avaliação. Comparar com os padrões essenciais que falamos. A avaliação está sendo útil? Ajuda a tomar decisões? Está sendo simples e viável? Respeita as pessoas e organizações? Usa um instrumental adequado, confiável? Com esse cuidado podemos aperfeiçoar. É importante sempre olhar se está no modo correto e usar os próprios avaliados para serem avaliadores.
GIFE – Você insiste na idéia de que os beneficiários se tornem agentes de avaliação. Existe preconceito no setor quanto a esta prática?
TPF –
Existe ainda este preconceito. Tem pessoas que estão no campo de avaliação como especialistas que não aceitam que informações compartilhadas com os beneficiários. Dizem que não se dá o ouro aos bandidos. Que isso? Ninguém é bandido. E isso não é ouro.
Estamos aqui para compartilhar experiências. Por isso que eu digo que é preciso ser transparente. Não pode se enganar o que está procurando. Tem de ser claro, transparente e negociar com as pessoas aquilo que vale a pena avaliar e o que não vale a pena avaliar.
GIFE – Como uma avaliação equivocada pode comprometer todo um projeto:
TPF –
A avaliação é um juízo de valor, é um ato de justiça, é um momento que o gestor ou um conselho se torna um juiz. Mesmo que seja compartilhado com outros, vai se formar um juízo perante uma ação e aí originar uma conseqüência. Vai fazer com base naquilo que se avaliou. Vai se condenar, absolver ou levar para uma melhora. Aí se anula, ou se mantém ou melhora, reformula. Para tomar essa decisão é preciso muito cuidado na avaliação. E a avaliação tem feito estragos muito grandes
GIFE – Como por exemplo…
TPF –
Em termos de projeto, existem projetos que não se sustentam mais porque a avaliação não teve a capacidade de estimular a transformação. Esses projetos não vão adiante. Se você trata de um sistema, o sistema fica viciado e você passa a acreditar só no sistema, deixa de olhar uma avaliação a curto prazo, direta. Um exemplo são os professores que acreditam apenas nas grandes avaliações educacionais, que são boas, mas são parte de um todo. O professor tem de saber avaliar seu aluno, sua escola. Avaliações mal feitas têm reprovado alunos. A repetência e evasão são conseqüências nefastas de más avaliações.
GIFE – Por isso você é uma crítica dos vários indicadores absolutos que existem por aí?
TPF –
Sou contra coisas feitas. Vamos construir com as pessoas. Pode-se até usar os indicadores, mas é importante construir. Para alcançar um objetivo, não é preciso vir de cima para baixo ou de baixo para cima. É uma conciliação. “Não vá atrás de mim que posso não guiá-lo, não vá na minha frente que posso não segui-lo. Vá ao meu lado”. Avaliação é isso.

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