O Santo Graal do impacto
Por: GIFE| Notícias| 30/04/2010Bruce Sievers*
Qual é a chave que orienta os investimentos sociais por parte de fundações, empresas e institutos? Como em uma aposta, muitos filantropos dão margem aos riscos com foco no impacto de seus investimentos.
Essa ideia parece acertada e representa de forma simples a lógica dos investidores sociais. Isto é, até que alguém comece a se perguntar qual o verdadeiro impacto, e como será avaliado.
O conceito de impacto é baseado em uma metáfora – a de uma força de colidir com uma substância resistente, o que resulta em algum tipo de movimento. Mas esta metáfora simplifica o processo e esconde a enorme complexidade dos fatores culturais e políticos envolvidos na mudança social.
Além da interação de inúmeras variáveis, muitas das quais são imprevisíveis e aleatórias, a longo prazo muitas delas estão baseadas em sistemas de valores competitivos e em interpretações subjetivas das finalidades das ações sociais.
A prática da filantropia está indiscutivelmente enraizada a estas complexidades
Filantropos aspiram ajudar aqueles que precisam ou a fortalecer programas que tragam melhorias à condição humana. Ao fazerem isso, tornam-se participantes na intrincada dança pela mudança social. Ao invés de se verem como investidores do negócio o qual injetam fundos cujo objetivo é produzir um produto (e, consequentemente, obter lucro), aqueles que se dedicam a filantropia irão compreender melhor a si mesmos e seu papel como doadores e atuantes diretos de uma agenda social. Em outras palavras, serão menos banqueiros ou engenheiros e mais agentes cívicos, entre outros papéis sociais que podem representar.
Um exemplo simples: o programa filantrópico (posteriormente prorrogado pela Fundação Kennedy) que trouxe Barack Obama para os Estados Unidos teve como consequência algo que era impossível de se prever uma geração antes – fazer o possível para que Barack Obama Jr se tornasse presidente dos Estados Unidos – um evento que mudou o mundo. (Isso é impacto!)
Sem dúvida, os doadores que apoiaram o programa na década de 1950 acreditaram que coisas boas poderiam vir ao apoiar promissores jovens afro-americanos em sua busca pelo do ensino superior nos EUA. Mas, certamente, ninguém tinha a menor idéia de que o filho de um desses alunos cresceria para ser o primeiro afro-americano a manter o mais alto cargo na Terra. E eles certamente não estavam envolvidos na tentativa de avaliar o “”impacto”” com a métrica das eleições presidenciais.
Um segundo exemplo: durante anos, algumas fundações pequenas têm apoiado o trabalho da Compassion and Choices, uma organização cujo objetivo é permitir que pessoas com doenças terminais tenham direito à assistência médica.
No ano passado, a organização apoiou a dignidade humana que havia sido inserida na Constituição do Estado de Montana (EUA), no início de 1970 (juntamente com uma linguagem mais legislativa), para defender com sucesso um processo perante o Supremo Tribunal Montana, em nome do ′direito de morrer′. A decisão do tribunal em favor de sua situação terá consequências nacionais e internacionais.
Apesar da demora, ambos os casos foram extremamente importantes e estão relacionadas a contribuições filantrópicas, resultado de apoio visionário de pessoas e ideias, e não de investimentos direcionados para a produção de impactos específicos que podem ser usados contra investimentos alternativos em um determinado período de tempo.
Assim, o ranking apontado na Revista Barron´s, publicação de negócios americana, intitulada de “Os 25 Melhores Doadores“” faz comparações entre os “apostadores cabeça-dura”, mas que na verdade não são mais válidas do que outras formas de descrever a eficácia da filantropia.
O problema com a lista não são apenas as suposições questionáveis escondidas atrás dos critérios de classificação (como já foi referido), mas o fato de que a premissa fundamental é uma concha vazia de um conceito – o impacto – na qual juízos subjetivos se disfarçam de análise rigorosa. (O artigo admite em um comentário que ′por sua natureza, este exercício envolve um grande número de conceitos subjetivos′.)
Não há dúvida de que os doadores na lista da Barron′s estão direcionando um monte de dinheiro para boas causas (tamanho parece ser um dos critérios de seleção), mas não deixa de ser uma farsa para sugerir que eles estão, de alguma forma, classificados como o ′top 25′ em função de uma fórmula cujo índice de impacto afirma que cada dólar investido irá gerar um mínimo de 3 a 4 dólares em benefícios. Implicar que tal método de fazer comparações é uma forma válida de avaliação de impacto não é apenas ceder na fantasia, que subverte os esforços daqueles que estão tentando fazer um trabalho sério no campo.
*Bruce Sievers é pesquisador do Centro de Filantropia e Sociedade Civil na Universidade de Stanford. E-mail: [email protected]
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