Investimento social e a infoestrutura

Por: GIFE| Notícias| 30/07/2010

Lucy Bernhoz*

Considerem o caso do site Ushahidi (“testemunho” em swahili), que inicialmente criou um mapa da violência no Kenya e, depois de 2008, com a colaboração de uma rede de organizações sociais, administradores públicos e empresas tornou-se uma plataforma de informações urbanas. Enfim, o que começou como um meio de agregar mensagens de texto durante uma revolta política transformou-se não só numa ferramenta chave para as agências governamentais como também em apoio na coordenação de suprimentos em casos de desastres.

No centro de Ushahidi (www.ushahidi.com), compartilha-se abertamente informações comuns bem estruturadas. As pessoas enviam mensagens de texto para um número comum. A locação dessas mensagens são agregadas e mostradas num mapa do site. As organizações que respondem coordenam o trabalho revisando o conteúdo das mensagens procurando padrões. Um turbilhão de textos de uma área pode demandar um tipo de resposta; já a falta de textos de outras pode ter outros significados. A mera quantidade de dados atua como controle de qualidade.

De inúmeras agências governamentais a sistemas municipais de transporte e aos departamentos de polícia, também começam a fluir dados em comum, de livre acesso público. Organizações de voluntários surgem e, baseadas nesses dados, montam mapas que mostram onde estão ocorrendo determinados tipos de crime, a programação do horário de chegada do próximo ônibus, a localização e os horários do centro de reciclagem mais próximo, as ruas de onde a neve já foi retirada e onde as estradas estão ainda interrompidas.

As fundações e as ONGs estão começando a adotar esta onda. A Fundação Charles Steward Mott, por exemplo, direciona todas as informações sobre as doações num formato que pode ser acessado no site da fundação; inclusive o mapeamento das aplicações, dos gráficos que podem comparar doações efetuadas com dados públicos ou qualquer outro uso que se possa imaginar.

Discuti estes e outros exemplos num novo trabalho sobre “Filantropia Desarranjada: Tecnologia e Futuro do Setor Social”. Revisando duas décadas de mudanças tecnológicas e a influência que tem exercido nas fundações e doadores individuais, meus co-autores (Edward Skloot e Barry Varela da Universidade de Duke) e eu concluímos que o que mais importa não é a tecnologia em si, mas o comportamento, o compartilhamento, a coleta ampla de informações, a combinação de diferentes tipos de dados e a procura por meios visuais para comunicar as mais complexas idéias facilitadas pela tecnologia.

Existem muitas razões sobre o porquê deste tipo de mudança para uma estrutura informal (o que nós chamamos de “infoestrutura”) ser tão importante. Em primeiro lugar, os dados podem ser acessados e utilizados por qualquer pessoa, permitindo levar o conhecimento às massas. Segundo, quando vemos a informação como o ativo central, podemos começar a entender melhor as novas redes que estão se formando e as mudanças em nossas organizações já existentes. Terceiro, a superabundância de informações disponível e a necessidade de ferramentas, técnicas que “façam sentido” e de pessoas, explicam tanto o estouro do nosso interesse em mensurações como os debates sobre a importância destas.
Este é um momento de transição à medida que formamos um ambiente realmente qualificado e rico em informações. Uma gama de novas profissões, metodologias e tipos de organizações estão surgindo agora mesmo.

Este trabalho vai fundo em cinco áreas comportamentais chave de doadores e fundações filantrópicas e examina a forma de como a tecnologia as está modificando:
Definindo metas e formulando uma estratégia

Mensurando o progresso
Responsabilidade final pelo trabalho
Networking para o bem
Utilizando dados para intercâmbio externo

Creditar os exemplos a Jeremy Noble sobre a discussão de como essas práticas estão mudando e do quanto poderiam mudar. O trabalho também observa as desvantagens do nosso futuro digital baseado em dados e entre estes o desafio de desenvolver novos modelos de rede apropriados à governança, o perigo potencial de violações em sistemas on-line e as mudanças da linha divisória entre ter e não ter.

Para as fundações, doadores, agências públicas, ONGs e ativistas tornarem públicas as informações disponíveis, representa uma grande mudança de comportamento que pode ser alcançada com relativa facilidade tecnológica. Nos EUA, as fundações são obrigadas por lei a relatar os dados básicos de uma doação.

Colocar estes dados em formatos que podem ser acessados on-line, em tempo real, e permitir comparações com outras fontes de dados, não só cumprirá os requisitos legais como também facilitará o comprometimento público com as iniciativas financiadas pela fundação.

Este tipo de mudança foca a troca de uma organização centrada em temas sem fins lucrativos por outra, estruturada e voltada a informações e dados. Haverá um impacto significativo em longo prazo. Estamos apenas no começo de tudo isso.

Para mais informações e fazer o download Disrupting Philanthropy, viste HTTP://cspcs.sanford.duke.edu


*Lucy Bernholz é presidente e fundadora da Blueprint Research & Design.

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