Qualidade de relatórios de sustentabilidade evolui pouco
Por: GIFE| Notícias| 28/10/2010Rodrigo Zavala*
Embora as empresas brasileiras se preocupem cada vez mais em ser transparentes e reportar suas práticas sustentáveis para a sociedade, a qualidade dos relatórios disponibilizados ainda é mediana. Essa é a principal conclusão da segunda edição da pesquisa “”Rumo à Credibilidade””, realizada pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), em parceria com a organização internacional SustainAbility.
A iniciativa faz parte do Programa Global Reporters, criado por meio de um processo de avaliação da qualidade na elaboração de relatórios. Sua metodologia de avaliação foi desenvolvida há mais de 15 anos e utiliza um conjunto de 29 critérios para testar a qualidade dos reportes e a forma pela qual as questões ligadas à sustentabilidade são abordadas nos processos, nas operações e nas tomadas de decisão de uma empresa. Com base nesse levantamento, o documento final traz um ranking com as melhores 10 empresas no quesito.
E os dados divulgados, no último dia 28 de outubro, embora otimistas, não abrem espaço para condescendência. Por um lado positivo, comparando-se com a primeira edição realizada no Brasil em 2008, foi uma surpresa bem-vinda o aumento da lista de relatórios passíveis de serem incluídos na pesquisa: de 73 para 137, em 2010.
“O número demonstra que as empresas querem ser mais transparentes”, avaliou Clarissa Lins, diretora executiva da FBDS e coordenadora do Projeto. Além disso, “a quantidade de relatórios publicados no Brasil cresce duas vezes mais rápido do que no resto do mundo”, como lembrou um dos diretores executivos da SustainAbility, Mark Lee.
No entanto, a qualidade do que é apresentado por essas organizações ainda está na berlinda. Embora os reportes selecionados deste ano tenham um desempenho melhor aos apresentados em 2008 (a Natura, primeira colocada nos dois anos, passou de 51% para 65%, em sua pontuação), a média geral de avanço foi de apenas 1%.
Para a representante da Global Reporting Initiativa no Brasil, Glaucia Terreo, o crescimento foi decepcionante. Mesmo assim, o principal advisor do International Finance Corporation na América Latina e Caribe, Pedro Meloni, garante que se trata de um momento inicial: “Primeiro há a quantidade, depois a qualidade”. As empresas, na visão dele, passam a se expor mais e, a partir do momento que são cobradas, a qualidade tende a aumentar.
“Relatório de sustentabilidade não é apenas uma publicação, mas uma ferramenta de gestão. É muito importante que as empresas sejam transparentes a ponto de reportar não só as conquistas, mas também os problemas, fracassos e planos de melhoria”, considerou o presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, Hélio Mattar, integrante do conselho consultivo da pesquisa.
Levantamento
A lista inicial de 137 empresas foi elaborada mediante análise a partir do porte e do compromisso com iniciativas de sustentabilidade, contam com um incentivo para a elaboração do relatório. Assim, os 29 critérios exploram quatro dimensões na análise: Governança e Estratégia (11), gestão (9), Apresentação de desempenho (5) e acessibilidade
e verificação (4).
A lista inicial de 137 empresas foi elaborada mediante análise a partir do porte e do compromisso com iniciativas de sustentabilidade, contam com um incentivo para a elaboração do relatório. Assim, os 29 critérios exploram quatro dimensões na análise: Governança e Estratégia (11), gestão (9), Apresentação de desempenho (5) e acessibilidade
e verificação (4).
“”Fica claro que ainda temos um caminho aqui no Brasil. Esse ranking não visa mostrar as melhores empresas, mas sim os melhores relatórios, as melhores práticas de reporte e divulgação de informações””, afirma Clarissa Lins.
Segundo o estudo, a dimensão Governança e Estratégia foi a que recebeu as maiores pontuações (52%). No entanto, fica patente a necessidade de melhorar a formar de demonstrar como a sustentabilidade está sendo integrada à atividade central, de modo a proteger, aumentar e gerar valor.
Já no tema gestão, os relatórios apresentaram as piores notas (43%), sendo ligeiramente piores do que 2008. A conclusão da pesquisa é enfática: “Os relatórios precisam dedicar cuidado e consideração contínuos à informação sobre como suas organizações funcionam e se engajam – interna e externamente – para permitir a implementação de suas estratégias de sustentabilidade e para assegurar aprendizado, adaptação e aprimoramento permanentes”.
Quando analisados os detalhamentos em Gestão, o que existe é uma descrição dos procedimentos gerenciais. No entanto, sua atuação frente a políticas públicas, gestão da cadeia de valor e relações com o investidor ainda é “”tratada timidamente””.
“As empresas parecem ter vergonha de falar. Queremos encorajá-las a serem transparentes sobre suas ações legítimas de incidência política”, afirmou Clarissa. Outro ponto importante, é influenciar os investidores. “Mas essa é uma dificuldade global”, amenizou Jean-Phillippe Reanult, outro representante da SustainAbility.
“O desafio da sustentabilidade não é ser uma das partes dos modelos de negócio, mas promover a integração entre todas elas. Como nas orquestras e equipes esportivas, resultados corporativos dependem da coordenação entre as partes, com atuação orientada por princípios claros e objetivos bem definidos”, garante Pedro Meloni.
Ranking
Em 2008, quando foi lançada a primeira edição do estudo no Brasil, os resultados então haviam sido comparados aos resultados educacionais. Caso fossem avaliados como alunos de escola, pela média, metade dos 10 melhores seriam reprovados no final do ano (veja lista). Em 2010, apenas três seriam aprovados.
Conheça abaixo o ranking 2010 (Empresa – Setor de Atividade – Pontuação):
1. Natura – Cosmético – 65%
2. Sabesp – Saneamento – 51%
3. Celulose Irani – Papel – 50%
4. EDP – Energia – 49%
5. Vale – Mineração – 46%
6. Coelce – Energia – 45%
7. Itaú – Financeiro – 44%
8. Ampla – Energia – 43%
9. Even – Construção – 42%
9. Light (empatadas) – Energia – 42%.
2. Sabesp – Saneamento – 51%
3. Celulose Irani – Papel – 50%
4. EDP – Energia – 49%
5. Vale – Mineração – 46%
6. Coelce – Energia – 45%
7. Itaú – Financeiro – 44%
8. Ampla – Energia – 43%
9. Even – Construção – 42%
9. Light (empatadas) – Energia – 42%.
Para ler a íntegra do relatório “”Rumo à Credibilidade 2010″”, acesse o site da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS): www.fbds.org.br
*Rodrigo Zavala é editor de Conteúdo do GIFE.
Associe-se!
Participe de um ambiente qualificado de articulação, aprendizado e construção de parcerias.