Ipea aponta erros e avanços na ação social privada

Por: GIFE| Notícias| 10/06/2002

Além de uma análise quantitativa, a pesquisa A Iniciativa Privada e o Espírito Público também avaliou a qualidade do investimento social realizado pelas empresas. Ao final do estudo, a coordenadora-geral, Anna Maria Peliano, concluiu que há sete pecados e sete avanços nos projetos e programas das organizações privadas. Confira quais são eles:

Avanços

  • Sentimento de responsabilidade – além das motivações altruístas que caracterizam a filantropia tradicional, a atuação social das empresas passou a ser entendida como uma responsabilidade inerente àqueles que usufruem dos benefícios do desenvolvimento;
  • Inserção na estratégia empresarial – se na atuação filantrópica o atendimento social decorre apenas de uma opção individual e circunstancial dos dirigentes, numa participação responsável ele passa a ser um componente da estratégia da empresa;
  • Participação pró-ativa – não se limitando a reagir às demandas que batem à sua porta, as empresas estão criando e apoiando projetos estruturados, fazendo parcerias e comprometendo-se com a sua continuidade;
  • Parceria com as comunidades – busca-se substituir a relação de tutela, de dependência entre demandantes e doadores, freqüente no atendimento filantrópico, por uma relação de compromisso e partilha de responsabilidades;
  • Preocupação com os resultados – os resultados não se restringem apenas ao retorno individual que advém da satisfação de poder ajudar. Os resultados passam a ser também percebidos a partir dos impactos gerados nas comunidades, com base em objetivos e metas previamente estabelecidos;
  • Divulgação das atividades – abandonando os receios tão presentes na ação filantrópica de mostrar o que vem sendo feito, as empresas começam a divulgar suas ações, estimulando outras empresas a participarem;
  • Aproximação com o Estado – na medida em que cresce nas empresas o compromisso com mudanças mais amplas no campo social, aumenta o reconhecimento da necessidade de associar-se ao Estado como alternativa para ampliar o alcance de sua participação. Gradativamente, as empresas vão avançando nessas parcerias – mais de 40% das maiores empresas do Sudeste declararam que apoiam programas ou instituições governamentais.

    Pecados

  • Descoordenação – em algumas empresas a ação social ainda é um processo de participação desordenado, pouco articulado, com superposição das ações e, conseqüentemente, com desperdícios de esforços e perda de eficiência;
  • Pulverização de recursos – ao se analisar a distribuição dos recursos privados destinados à área social, observa-se que eles estão pulverizados numa infinidade de atividades e projetos que terminam por diluir os resultados finais;
  • Centralização – o processo de decisão das empresas ainda é bastante centralizado na alta direção e as decisões tendem a ser verticalizadas. Em apenas um terço do conjunto das empresas no Brasil os empregados participam das ações sociais e, geralmente, como o braço executor;
  • Impermeabilidade – a cultura do compromisso social não está devidamente internalizada dentro das empresas e não permeia a estratégia geral dos negócios. A ação social está dissociada do resto da empresa, sendo considerada como uma atividade à parte;
  • Desconhecimento do problema social – as empresas se ressentem de um conhecimento mais profundo sobre as questões sociais. Faltam diagnósticos sobre os problemas enfrentados pelas comunidades e informações sobre o que é feito pelo Estado, por ONGs e outras empresas.
  • Baixo grau de profissionalização – na área social, muitas vezes as empresas não adotam os procedimentos básicos de gestão, tais como planejamento, previsão orçamentária, acompanhamento e avaliação. Não obstante o compromisso pessoal que os profissionais assumem com a causa social, as ações, na maior parte das vezes, são realizadas por pessoas que não foram devidamente treinadas para essa atribuição e que se dedicam a ela apenas em tempo parcial;
  • Conservadorismo – se observarmos as características da participação social das empresas, verificamos que elas não privilegiam intervenções que concorrem para mudar o quadro das desigualdades sociais do país. Ou seja, predomina o apoio ou implementação de programas compensatórios em detrimento de intervenções nas causas estruturais dos problemas sociais. Não se trata de negar a importância desses programas para melhorar a qualidade de vida no dia a dia das comunidades. O que convém assinalar é que não podemos nos contentar com essas ações pois, isoladamente, eles não garantem a emancipação dos excluídos.

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