Fórum Brasileiro de Investimento Social: Brasil entra na indústria global de filantropia

Por: GIFE| Notícias| 01/03/2013

Fernando Rossetti*

A riqueza produzida pela economia emergente brasileira levou ao que podemos chamar de um “boom de filantropia” no país – primeiro impulsionado pelas empresas e, agora, envolvendo um número crescente de indivíduos e famílias. No geral, foi desenvolvido um setor sofisticado. Contudo, como mostrou o primeiro Fórum Brasileiro de Investimento Social, realizado em novembro do ano passado, há mais diferenças do que semelhanças entre a filantropia no Brasil e em outros países mais desenvolvidos.

O Brasil foi pioneiro na criação de uma infraestrutura para as atividades filantrópicas na América do Sul. Em 1995, 25 fundações e institutos criaram o GIFE que, hoje, conta com cerca de 150 membros. Logo depois, em 1999, surgiu a primeira organização local de apoio à filantropia: o IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social). No anos 2000, agências de comunicação, firmas de advocacia, contadores, consultorias, ONGs, bancos e outras organizações de gestão de riqueza começaram a estruturar e oferecer serviços filantrópicos, especialmente nas regiões mais ricas do país, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
A crescente riqueza e o nascimento de um setor relacionado à filantropia local atraíram organizações de países desenvolvidos, que começaram a buscar formas de entrar neste mercado emergente. O Instituto Synergos foi pioneiro nesta tendência, ainda nos anos 1990. Desde 2005, a Alliance vem publicando um boletim trimestral em Português, em parceria com o GIFE. Hoje, muitas outras organizações globais realizam no país congressos, programas de treinamento, publicações e consultorias. A WINGS (Worldwide Initiatives for Grantmaker Support) mudou sua sede para o Brasil em 2011.

1º Fórum Brasileiro de Investimento Social
Um bom exemplo desse movimento de globalização é a parceria recente entre o IDIS e o Fórum Global de Filantropia da Califórnia. Com apoio da CAF, da Fundação Rockefeller, de cinco fundações brasileiras, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, entre outros, organizaram o primeiro Fórum Brasileiro de Investimento Social em São Paulo, no dia 30 de novembro, voltado a indivíduosa e famílias.

Como acontece com a maioria dos países em desenvolvimento, o investimento social familiar e individual no Brasil ainda é muito recente, apesar de estar crescendo em um ritmo acelerado. A maioria das organizações vinculadas a indivíduos ou famílias reunidas naquele espaço tinha menos de cinco anos. A filantropia corporativa – ou investimento social, como é conhecida – tem uma história mais longa e tende a virar o padrão para as novas formas de filantropia individual e familiar.

Ao contrário da filantropia norte-americana, que foca principalmente na doação (grantmaking) para as organizações da sociedade civil (OSCs), o investimento social brasileiro tende a assumir uma abordagem de P&D ou “tecnologia social”, visando a mudança social. A maioria das fundações desenvolve metodologias ou materiais em programas piloto executados pelas próprias empresas e, depois, tenta expandi-los, por intermédio de políticas públicas financiadas pelo governo. Assim, ao invés da doação, o investimento social brasileiro visa construir alianças intersetoriais entre outras empresas, o governo e OSCs, em áreas que vão de ensino público a direito das crianças e geração de riqueza em comunidades pobres.

“Nós precisamos superar o tipo artesanal de trabalho filantrópico para ter mais impacto”, disse Viviane Senna, que administra o Instituto Ayrton Senna, de sua família. “As organizações com as quais tentamos trabalhar no começo não ganhavam a escala que queríamos”, afirmou, então “nós nos transformamos em um centro de formação, treinando mais de 70.000 pessoas por ano”. Seguindo a mesma linha, Sean McKaughan, o novo presidente da latino-americana Fundação Avina, observou: “O papel da filantropia é promover uma nova arquitetura social.”

Muitos tons de cinza
Significativamente, alguns participantes do Fórum manifestaram sua preocupação com a falta de investimento social no Brasil voltado a fortalecer as OSCs. Segundo eles, a promoção de uma cultura de doação, a criação de novos incentivos fiscais e a construção de confiança entre as fundações e as OSCs poderiam levar a uma mudança nessa situação.

Infelizmente, a moderna filantropia brasileira tende a ver a doação como uma abordagem menos estratégica para a mudança social. O resultado é que, apesar do crescimento do investimento social, as OSCs enfrentam um ambiente de financiamento muito difícil. Os doadores brasileiros se sentem mais atraídos pelos muitos tons de cinza que se formam entre uma ação filantrópica clássica, totalmente voltada ao público, e os novos tipos de investimento social, alguns até com fins lucrativos.

Uma conclusão? O crescimento da riqueza realmente gera filantropia e investimento social em praticamente qualquer lugar ou cultura, mas as formas que isso toma variam muito.

* Fernando Rossetti foi secretário-geral do GIFE, de dezembro de 2004 a fevereiro de 2013. E-mail: [email protected]

Mais informações disponíveis em: http://philanthropyforum.org/regional-events

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