Aos 60, FEAC muda modelo de atuação para aumentar impacto social

Por: Fundação FEAC| Notícias| 18/03/2024

No ano em que completa seis décadas, a Fundação FEAC está mudando seu modelo de atuação para aumentar o impacto positivo nas populações mais vulneráveis de Campinas. A reformulação mantém o apoio a mais de 100 entidades no município, mas inclui também ênfase em melhorar a gestão das organizações da sociedade civil (OSC), fazer parcerias com mais setores e trabalhar no desenvolvimento dos territórios mais vulneráveis da cidade. A previsão para 2024 é destinar R$ 37 milhões a iniciativas sociais — um salto de 20% em relação a 2023.

A atuação passa a ter protagonismo ainda maior dos grupos beneficiados e a buscar mais intensamente a colaboração de outras organizações, governos, empresas e universidades. A ideia é, assim, poder implantar ações inovadoras que contribuam para melhorar o bem-estar de quem mora em Campinas e sirvam de exemplo para outros lugares. As áreas prioritárias são crianças, adolescentes, jovens e famílias em situação de vulnerabilidade. “Estamos iniciando um novo capítulo na história da FEAC. Nossa pretensão é gerar mudanças concretas, fazer inovações em pequena escala que possam virar políticas públicas e se tornarem modelos para serem feitos em grande escala”, diz o presidente do Conselho Curador da FEAC, Renato Nahas. “Campinas representa o melhor e o pior do Brasil. Tem universidades e empresas de ponta, mas tem desnutrição. Nossa missão é implantar aqui projetos bem-sucedidos que inspirem outros territórios.”

Investimento da FEAC em projetos sociais
(em valores nominais e arredondados)

2020R$ 23 milhões
2021R$ 25 milhões
2022R$ 27 milhões
2023R$ 31 milhões
2024R$ 37 milhões

O que mudou?

Todas as ações da FEAC vão mirar um norte, uma meta clara: garantir bem-estar equitativo em Campinas, inspirando outros lugares. Esse direcionamento consolida mudanças que vêm sendo desenhadas há mais de cinco anos.

  • 2018, a primeira grande mudança A FEAC começa uma transição da filantropia básica para o financiamento de projetos, com monitoramento e medição de impacto, numa lógica de investimento social privado. Antes, a FEAC doava recursos para as organizações da sociedade civil, que decidiam como os aplicar. A partir de então, elas têm de apresentar um plano detalhando ações a serem executadas, metas e investimentos necessários, explica o superintendente socioeducativo da FEAC, Jair Resende. Além da verba para os projetos, recebem uma porcentagem de pelo menos 15% do valor para investir em suas necessidades institucionais. Também têm apoio técnico da FEAC para elaborar projetos e se adequar ao novo modelo.
  • Em 2021, uma adaptação Os trabalhos socioeducativos da FEAC são apresentados de uma nova forma, com a criação de três dimensões sob as quais seus programas e projetos se organizam: Empoderando populações vulneráveis; Potencializando territórios vulneráveis e fortalecendo conexões; e Impulsionando organizações, empresas e pessoas pelas causas sociais.


Agora, a FEAC passa a ter “uma visão clara de transformação”, destaca Resende. O apoio a projetos (e o percentual para aplicação livre) se mantém, mas de modo mais direcionado e coeso. O objetivo é gerar mudanças profundas e desenvolvimento efetivo para as áreas carentes de Campinas. “Projetos de forma isolada não fazem essa mudança”, afirma o superintendente socioeducativo.

Os três eixos do novo modelo

A meta de assegurar bem-estar de modo equitativo, admitem as lideranças da FEAC, é ambiciosa. “Quando você se dá um norte com essa ambição, joga a barra lá no alto. É um norte e ao mesmo tempo é um sonho”, diz a coordenadora do Comitê Socioeducativo, Françoise Trapenard. Nesse quadro, a FEAC tem sobretudo um papel aglutinador. “Sozinhos, não temos como abraçar um norte desse tamanho”, afirma.

A nova forma de atuação dá um peso grande para o trabalho conjunto. Ela está estruturada em três grandes eixos, que se conectam e complementam, envolvendo ações de curto, médio e longo prazo.

1. Fortalecimento de Organizações da Sociedade Civil

A FEAC avalia que, para melhorar o bem-estar das comunidades de modo equitativo, é crucial contar com as organizações da sociedade civil. Elas conhecem muito bem o público que atendem, mas precisam trabalhar com eficiência e gerar impacto. Para isso, poderão receber apoio da FEAC em frentes como:

  • Profissionalização e melhoria da gestão – Este ponto é fundamental para que as instituições se tornem independentes financeiramente e consigam multiplicar os efeitos dos recursos que recebem. “É preciso investir em capacitação, ter plano estratégico, plano de comunicação, profissionais com formação adequada”, exemplifica Jair Resende. “Sem isso, é difícil que elas cumpram sua missão.”
  • Impulso a novas organizações – Até 2023, o apoio da FEAC era basicamente voltado a entidades formalizadas. “Mas hoje a sociedade civil é muito mais complexa”, observa Renato Nahas. O terceiro setor inclui coletivos, grupos comunitários, lideranças de bairro, pequenas OSCs.
  • Fortalecimento de empreendedores sociais – Pela primeira vez, os investimentos da FEAC vão incluir também um programa de bolsas (fellowship) para capacitar pessoas que promovem ações transformadoras.
  • Mensuração de resultados – A FEAC vai estimular e apoiar o acompanhamento e a análise das metas estabelecidas nos projetos. Isso abrange desde definição de indicadores até modos de coletá-los e avaliá-los. 
  • Consolidação e disseminação de metodologias – Ao acompanhar os projetos de modo sistemático, será possível verificar o que gerou bons resultados e o que pode ser melhorado. As metodologias bem-sucedidas poderão ser replicadas em Campinas e outros locais.

2. Colaboração Intersetorial

A transformação significativa de uma comunidade precisa envolver vários setores. Este eixo busca justamente enfatizar a necessidade de juntá-los de forma coordenada. “A força da FEAC é sua capacidade de agregar, de trazer agentes públicos, Prefeitura, concessionárias de serviços, rede de autarquias – enfim, vários atores para ajudar a resolver questões que dependem muitas vezes de ações que não seriam possíveis apenas com a rede que está instalada num determinado território”, diz Françoise Trapenard.

A parceria pode se dar junto a:

  • Governos – Interlocução a fim de aumentar a capacidade de influenciar políticas públicas, ações e destinação de recursos para projetos de desenvolvimento territorial. “A FEAC já tem uma relação excelente com a Prefeitura. Vamos fazer um movimento progressivo de contato com o governo estadual e o federal. Há ainda um caminho necessário em áreas como segurança e saúde, por exemplo”, afirma a coordenadora do Comitê Socioeducativo.
  • Empresas – Apoio ao voluntariado, destinação de recursos para projetos específicos relacionados aos eixos ou, no caso daquelas que já têm suas próprias fundações, colaboração em temas de interesse comum. “Na área de educação, as fundações já têm uma grande aliança, muito boa. Mas em assistência social não há quase nada”, compara Trapenard.
  • Academia – Cada vez mais, a atuação da FEAC tem se baseado em diagnósticos, mapeamentos e estudos – tanto para direcionar a aplicação de recursos quanto para dar mais qualidade ao diálogo com o poder público. As universidades têm papel importante na realização desses trabalhos. Também podem dar cursos de assistência social para formar profissionais qualificados, contribuir para estabelecer indicadores e registrar metodologias que deram certo.
  • Sociedade civil – Mobilização para causas sociais, participação em comissões e conselhos municipais, ocupação de espaços de planejamento e decisão.

3. Desenvolvimento Territorial

O fortalecimento das organizações da sociedade civil e a ampliação e intensificação das parcerias serão preferencialmente voltados para o apoio sistemático e articulado a regiões específicas – é o que se chama, no setor, de desenvolvimento territorial. O aporte a projetos temáticos continua, mas o objetivo é ter uma visão abrangente das dificuldades de cada área para poder melhorar os indicadores dos locais mais vulneráveis de Campinas em áreas como educação, mobilidade, urbanismo, saúde e segurança.

“A gente tem que ser capaz de mostrar que, sim, é possível romper o ciclo da vulnerabilidade agindo de forma sistemática e intencional, juntando diversos atores, usando as forças dos territórios, porque neles não há só debilidades”, afirma Françoise Trapenard. “De território em território, vamos pouco a pouco promover o bem-estar na cidade de Campinas.”

A atuação neste eixo vai envolver, entre outras coisas:

  • Entender o território, por meio de consultorias, estudos técnicos, processos participativos e mapeamento de equipamentos, serviços públicos, organizações, redes sociais e lideranças.
  • Criar pontes, conectando entidades e iniciativas locais, para que os serviços se complementem e atendam de forma mais ampla as necessidades de cada região, e envolvendo o governo em ações que dependem do poder público.
  • Transformar junto com as comunidades, por meio da criação de espaços de participação para identificar carências e soluções, e para gerir e executar projetos. “Um dos maiores equívocos é chegar a um território vulnerável e achar que sabe do que eles precisam. O que você tem de fazer é construir junto com a população, para ela se apropriar daquilo”, afirma Renato Nahas. “A transformação vem daí: ouvir as pessoas, identificar prioridades junto com a comunidade para que participem do processo e articular para que tenham acesso aos serviços públicos.”

A FEAC vai começar ainda neste ano a implantar um projeto inovador e de longo prazo: elaborar um plano de desenvolvimento sustentável em uma região específica da cidade. “Outros territórios não serão abandonados, vamos continuar atuando neles, mas queremos criar um case”, diz Nahas.

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