2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras foca em reparação e Bem Viver 

Por: GIFE| Notícias| 18/03/2024

Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

A primeira edição da Marcha Nacional das Mulheres Negras foi realizada em 2015. Dez anos depois, ativistas e atrizes do terceiro setor cobram mais comprometimento com o fortalecimento das organizações de mulheres negras

Nesta quinta-feira (21), Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, acontece às 18h30 o lançamento oficial da 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras. A marcha é uma iniciativa da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), Rede de Mulheres Negras do Nordeste e Rede Fulanas – Negras da Amazônia Brasileira.

A 2ª Marcha vai acontecer em novembro de 2025, em Brasília (DF), e convoca as mulheres negras de todo país a marchar por reparação e Bem Viver. Para Maria das Dores Almeida, que integra o Instituto de Mulheres Negras do Amapá e a Rede Fulanas, falar de reparação é ter reconhecida as suas existências. 

“Nossa reparação é por nossa invisibilidade. Nós ajudamos a manter a Amazônia em pé, também temos saberes e contribuímos para o desenvolvimento do país.”

Tássia Mendonça, gestora de portfólio de equidade racial no Instituto Ibirapitanga, também observa a necessidade de consolidar uma agenda política em torno do conceito de reparação, que articule as dimensões de memória e reconhecimento.

“Esperamos que, da mesma forma que a Marcha de 2015 consolidou uma agenda de investimentos em torno do fortalecimento da identidade política e coletiva da mulher negra, a Marcha de 2025 fortaleça uma agenda em torno do conceito de reparação e na proposição de futuros possíveis.”

A presença de maior diversidade entre as vozes negras nesta jornada, é uma das expectativas de Reeh Ribeiro, analista de ações afirmativas do ID_BR. “Gostaria de ver mais corpos trans, lésbicos, gordos, mulheres com deficiência. Decerto as agendas englobarão essa pluralidade de vivências, aprofundarão assuntos sobre saúde, educação, cultura, trabalho, comunicação.”

A 2ª Marcha tem como objetivo levar 1 milhão de mulheres negras para Brasília. Um dos desafios apontados por Maria das Dores é a captação de recursos. “É difícil e caro se deslocar de regiões distantes. Mas eu acredito que é possível ter um milhão de mulheres negras em Brasília.”

1ª Marcha Nacional das Mulheres Negras

Em 2015, mulheres negras de todo o país se reuniram em Brasília para a I Marcha das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver. História que começou muito antes, como lembra Maria das Dores. “A Marcha foi idealizada aqui na Amazônia em 2011, pela ativista Nilma Bentes.”.

Para Tássia Mendonça, a iniciativa resultou no fortalecimento da identidade política da mulher negra como plataforma de enfrentamento às desigualdades; ampliação da participação política de lideranças negras e femininas; criação de novas organizações de mulheres negras e o fortalecimento das mais antigas. Na filantropia, a gestora ressalta o fortalecimento dos debates sobre investimento na promoção da equidade racial.

“Não tem sido uma agenda da filantropia brasileira”

A Marcha de 2015 deixou entre seus legados a Carta das Mulheres Negras. Documento entregue à presidência da república e à sociedade brasileira, destacando os dados de desigualdade e apresentando propostas para construção de um novo pacto civilizatório.

Para Reeh Ribeiro, o investimento social pode e deve contribuir com oportunidades. Tássia Mendonça acredita que o papel da filantropia é apoiar diretamente as organizações de mulheres negras com doações institucionais, plurianuais, flexíveis, que deem condições para que essa construção traga impactos a curto e longo prazo.

“Enquanto a filantropia tratar a equidade racial como uma escolha, não vamos observar a capacidade desse investimento causar transformação. Isso não tem sido uma agenda da filantropia brasileira. Poucas fundações transferem recursos de modo sistemático e isso é necessário porque quem sabe o que tem que ser feito são as organizações negras.”

A análise da gestora  dialoga com os dados da 11ª edição do Censo GIFE 2022/2023. A publicação destacou que a questão racial é trabalhada majoritariamente (55%) de forma transversal e não diretamente. Ou seja, apesar das questões de raça estarem inseridas em alguns projetos, não são o objetivo principal da iniciativa.

“Apesar do impacto inegável da Marcha para o enfrentamento ao racismo, 10 anos se passaram, e os indicadores de desigualdade e violência permanecem brutais. Enfrentamento ao racismo é uma agenda de longo prazo, que demanda compromisso real do ISP”, finaliza Mendonça.

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