Investimento social em desenvolvimento local cresce no Brasil e estimula a construção da licença social para operar

Por: GIFE| Notícias| 27/08/2013

O número de organizações que investem em desenvolvimento comunitário cresceu de 45% em 2009 para 55% em 2011. É o que aponta o Censo GIFE 2011-2012, mapeamento bienal que o GIFE realiza sobre a atuação de seus associados, cuja publicação foi lançada no último dia 22/08, em São Paulo, com um debate sobre o papel dos institutos e das empresas no desenvolvimento local.

O debate contou com densa apresentação sobre o investimento social e a licença social pra operar, feita pelo pesquisador canadense Ian Thomson, membro do On Common Ground Consultants Inc- organização que atua com desenvolvimento sustentável, meio ambiente e direitos humanos. Thomson afirmou que o investimento social corporativo no desenvolvimento local pode ser eficaz a partir dos recursos e interesses da empresa que, se alinhados aos da comunidade local, geram um ambiente de co-responsabilização, e discutiu com os participantes e outros debatedores a temática do desenvolvimento local sob a perspectiva do alinhamento entre investimento social e negócio.

Diferentemente da licença legal, a licença social para operar é a expressão da boa relação da empresa com a comunidade local, sendo então intangível, informal, não permanente e dinâmica. É uma ferramenta de gestão baseada na relação entre as partes interessadas, que permite acompanhar o risco sócio-político da empresa, bem como desenvolver melhores práticas.

A licença social pra operar é conquistada a partir de fases de construção da relação da empresa com a comunidade onde está atuando. Passa primeiramente pela conquista da legitimidade da atividade no momento em que a comunidade percebe que determinada atividade irá gerar benefício. A credibilidade da empresa é reconhecida em um segundo momento, através do engajamento, compartilhamento e alinhamento de interesses, que por fim se consolida em uma relação de confiança. A licença social para operar é mensurada por indicadores indiretos, construídos a partir de entrevistas qualitativas (indicadores verbais) e avaliações quantitativas (censo-questionário com cerca de 40 perguntas) “Quanto mais reciprocidade houver, mais desenvolvida estará sua licença social”, comenta Thomson.

Os dados do Censo GIFE apontam também tendência de alinhamento dos investimentos sociais ao negócio de suas mantenedoras: 68% dos respondentes informam ter alguma ação vinculada ao ramo de atividade da empresa ou da mantenedora. Desses, apenas 11% das organizações vinculam todas as suas ações ao negócio e 52% têm algumas ações alinhadas. O alinhamento total é mais frequente entre as empresas respondentes (23% dos projetos).

“A atuação dos institutos e das empresas no desenvolvimento local pode ser entendida não apenas como uma temática, mas também como uma forma de organizar o investimento social. Novos desafios e oportunidades de relacionamento entre institutos, fundações e suas empresas mantenedoras surgem dessa lógica de aproximação. Essas organizações tendem a estruturar seu investimento para contribuir com o desenvolvimento das comunidades com as quais a empresa se relaciona”, analisa o secretário-geral do GIFE, Andre Degenszajn.

Nesse sentido, o Instituto Votorantim, organização associada ao GIFE, atua no apoio ao desenvolvimento dos territórios em que as empresas do grupo estão inseridas, potencializando as oportunidades de desenvolvimento social e econômico da região. Para o gerente geral do Instituto Votorantim, Rafael Gioielli, a maior aproximação do investimento social com o tema do desenvolvimento local é de extrema importância. “”O apoio e a promoção do desenvolvimento local colocam-se hoje como aspectos fundamentais para as empresas conquistarem e manterem sua licença social de operação, sobretudo para aquelas baseadas na exploração de recursos naturais. Para atuar nesse campo com melhores resultados, as empresas têm recorrido a expertises, tecnologias e aos profissionais de seus institutos e fundações”, ressalta.

Presente no debate, o diretor de projetos da Agenda Pública, Bruno Gomes, ainda levanta a questão da relação das organizações que atuam no desenvolvimento local com a esfera pública. Segundo o Censo, cerca de 45% dos programas desenvolvidos pelos associados em desenvolvimento local estabelecem parcerias com órgãos governamentais – sendo o parceiro mais frequente nesses programas. “É importante alinhar o investimento social às políticas públicas a fim de potencializá-las, além de aumentar a chance de continuidade das ações caso a organização saia daquele território”, enfatiza Gomes.

A Alcoa, que é uma das companhias pioneiras em mineração sustentável, mantém um forte relacionamento com todos os seus steakeholders. O gerente de sustentabilidade da empresa, Fábio Abdala, levantou no debate a questão de que a relação das empresas e da sociedade com o poder público em territórios com mineração, por exemplo, é fundamental para a boa governança da sustentabilidade local. “O sucesso da relação está diretamente relacionado ao uso estratégico das rendas minerarias em favor de uma agenda comum de desenvolvimento, e em particular aquelas destinadas aos governos (tais como impostos, taxas, contribuições, compensações, participação nos resultados da lavra, etc.) que aumentam exponencialmente. Além de investimentos nas demandas e oportunidades presentes, em se tratando de mineração, requer-se também fazer poupança e patrimônio considerando a exaustão da mina no longo prazo”, completa Abdala.

Nesta sexta edição, patrocinada pelo Banco Bradesco, 100 organizações, entre empresas, fundações e institutos empresariais, comunitárias, familiares e independentes responderam o questionário base. Segundo a pesquisa, em 2012, a Rede GIFE investiu, em áreas como educação, geração de trabalho e renda, cultura e artes, dentre outras além da área de desenvolvimento local, um total de R$ 2,35 bilhões – um aumento de 8% em relação a 2011.

Clique aqui para acessar a publicação Censo GIFE 2011-2012

Clique aqui para acessar a apresentação de Ian Thomson

Clique aqui para acessar a apresentação com os dados do Censo

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