Pesquisa aponta que projetos culturais são os de maior interesse via financiamento coletivo no Brasil

Por: GIFE| Notícias| 03/02/2014

Em segundo lugar, estão as iniciativas com viés social e/ou ambiental, que fortaleçam comunidades de forma responsável e solidária.

Projetos que fomentam atividades artísticas e culturais de forma independente são os que despertam maior interesse por parte das pessoas que participam de plataformas de financiamentos colaborativos pela internet.

O resultado faz parte da pesquisa “O retrato do financiamento coletivo no Brasil” lançada em janeiro pelo Catarse, em parceria com a Chorus, sobre esse mercado no país. Ao todo, 3.336 pessoas responderam ao questionário da pesquisa.

O crowdfunding – como é conhecida esta forma de financiamento – é usado para obtenção de capital, por meio das plataformas virtuais, com o objetivo de colaborar com iniciativas que vão desde pequenos negócios e startups a demandas de interesse público.

Se os projetos culturais se destacam neste setor – são a opção de 52% dos entrevistados – as iniciativas com viés social e/ou ambiental, que fortalecem comunidades de forma responsável e solidária, não ficam muito atrás. Já são a preferência de 41% dos participantes da pesquisa, seguidos por projetos com viés empreendedor, que viabilizam novas empresas, produtos e iniciativas (24%).

Atualmente, a categoria de “Comunidade”, por exemplo, é a quarta maior em números de projetos no Catarse. Já são 107 projetos dos quais 52 (49%) alcançaram a meta de financiamento.

E as oportunidades para esta área podem ser ainda maiores. Só no Catarse mais de 108 mil pessoas contribuíram com R$ 13,5 milhões para 1.600 projetos, dos quais 900 alcançaram a meta de financiamento.

Na opinião de Felipe Caruso, coordenador de Comunicação do Catarse, isso mostra que os brasileiros estão doando cada vez e apostando na transparência das iniciativas fomentadas via internet. “Dar recurso para um desconhecido por meio de um pagamento online exige confiança na plataforma, na proposta que é colocada ali e na capacidade do realizador do projeto de executá-lo. Isso significa que as plataformas de financiamento coletivo estimulam a confiança entre os indivídudos da sociedade”, acredita.

Mas, se confiar no potencial do realizador é realmente primordial para 71% dos entrevistados, para 88% dos entrevistados, a identificação com a causa é o principal fator que estimula o financiamento coletivo. A qualidade de apresentação do projeto também influi para 70%.

Além disso, a rede de contatos parece ser fundamental para uma ideia realmente conquistar apoiadores. A pesquisa definiu três círculos de apoiadores de uma campanha de financiamento coletivo, chamados “”círculos de influências””. O primeiro círculo é formado por amigos e parentes de quem lança o projeto. Segundo a pesquisa, esse ciclo representa de 55% a 80% dos recursos que serão captados por um realizador.

O segundo é composto pelos “”amigos dos amigos”” e, o terceiro, pelo interesse público. “Este último é quando um projeto ultrapassa o primeiro e o segundo círculos por trabalhar temáticas que geram comoção ou por fazerem boas campanhas a ponto de expandirem a rede de influência do projeto. Iniciativas com propostas de impacto social têm potencial para atingir esse círculo”, comenta o coordenador do Catarse.

Diante deste cenário, para Paulo Castro, diretor-executivo do Instituto C&A (veja artigo dele sobre cultura da doação), apesar destes novos espaços na internet serem uma grande oportunidade para incentivar projetos sociais, será preciso ainda definir melhor os caminhos possíveis de se percorrer neste processo. “Isso porque vamos nos deparar com os mesmos desafios que temos para apoiar iniciativas de forma mais tradicional. Ou seja, como evidenciar os resultados dessa ação a partir dos recursos captados? Como trabalhar a questão da transparência na aplicação dos recursos? Como mobilizar mais pessoas? Como alavancar recursos? São desafios que estão colocados”, acredita.

Perfil dos apoiadores

Mas, afinal, quem são estas pessoas que financiam iniciativas via plataformas colaborativas? De acordo com a pesquisa do Catarse, há uma maior adesão masculina à prática (59%) e uma maioria de jovens entusiastas: 31% de quem financia projetos coletivos têm entre 25 e 30 anos.

O grupo com formação superior completa é o que mais tem participantes na plataforma de financiamento (39%) e a maioria das pessoas (64%) tem salário de até R$ 6 mil por mês.

O Sudeste, que concentra 42% da população brasileira, engloba 63% dos participantes de financiamento coletivo. No Nordeste, o total de participantes é de 9% da população. A menor proporção dos participantes de crowdfunding está na região Norte – apenas 1%.

Um resultado que surpreendeu a equipe do Catarse foi em relação à percepção dos participantes da plataforma sobre o envolvimento de outros setores da sociedade. Segundo a pesquisa, 64% valorizam uma empresa que apóia projetos de financiamento coletivo e 82% se mostram contra a participação do governo.

Segundo Felipe Caruso, como a participação de empresas ainda representa muito pouco dos R$ 13,5 milhões repassados aos mais de 1.600 projetos que passaram pelo Catarse, a equipe acreditava que poderia existir uma resistência maior da comunidade.

“Mas, o que ficou claro é que as pessoas entendem o financiamento coletivo como uma ferramenta da sociedade civil para a sociedade civil, da qual a iniciativa privada é parte fundamental. O interessante é observar como uma campanha de financiamento coletivo pode ser um bom exemplo de como o privado se comporta como público. Financiar coletivamente um projeto é abrir a possibilidade de qualquer pessoa participar ativamente da sua realização. Esse processo exige transparência, comunicação, prestação de contas etc. que muitas vezes superam as práticas de determinados governos. Além disso, nosso sistema político baseado na democracia representativa deixou os eleitores muito distantes dos processos decisórios. O financiamento coletivo cortou intermediários e possibilitou uma relação direta entre as pessoas para executarem as ideias de interesse comum”, destaca o coordenador do Catarse.

Novos temas em pauta

Outra descoberta interessante da pesquisa, de acordo com a equipe do Catarse, foi em relação aos demais interesses dos apoiadores. O estudo aponto que a maioria das pessoas tem interesse em apoiar projetos de educação e que faltam projetos relevantes dessa categoria.

Em 2013, inclusive, a Fundação Telefônica Vivo decidiu apoiar uma iniciativa educacional que ganhou destaque via Catarse. Um grupo de amigos, depois de se unir como o coletivo Educ-ação, lançou na plataforma de financiamento colaborativo o projeto “Volta ao mundo em 13 escolas”. A três dias do prazo final, a arrecadação do projeto ultrapassou R$48 mil, valor mínimo para que fosse realizado. Foram 566 apoiadores via Catarse.

Depois deste impulso, a iniciativa ganhou outros apoiadores, como a Fundação, e se transformou num livro. A publicação de 260 páginas (clique aqui para acessar o livro) relata as experiências inovadoras pesquisadas por quatro brasileiros em centros de aprendizagem de nove países. O projeto relata novas propostas de educação que atendem alunos desde educação básica e ensino superior, até atividades no contraturno escolar.

Projetos na ponta

De olho nas novas oportunidades que o financiamento colaborativo via internet permite, o Instituto Walmart decidiu apoiar, em 2013, uma iniciativa via plataforma Impulso, lançada pela organização Aliança Empreendedora e exclusiva para microempreendedores ou organizações que os apoiam.

Com o apoio do Instituto, foi criado o Canal Bombando Cidadania, com a proposta de dar visibilidade a cinco projetos de microempreendedores de negócios e artistas da Bomba do Hemetério, bairro da zona norte de Recife, em Pernambuco, local em que o Instituto desenvolve um programa de desenvolvimento local chamado Bombando Cidadania.

Além da divulgação do projeto, todos os empreendedores foram orientados pela equipe do portal sobre o foco de suas campanhas de captação, assim como as melhores estratégias para buscar o financiamento.

O pequeno negócio do Antonio Francisco, morador da Bomba do Hemetério, por exemplo, foi a primeiro empreendimento a atingir 100% da meta de captação em apenas um mês após o lançamento da plataforma. Os chocolates do Antonio ganharam um impulso de R$ 1.795 para a compra de uma balança eletrônica que visa diminuir o desperdício e aumentar a produção.

O Instituto Walmart e a Fundação Telefônica são associados GIFE.

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