Metodologia de consulta participativa do Instituto Paulo Montenego é aplicada em projetos de voluntariado.

Por: GIFE| Notícias| 28/03/2014

Numa mesma sala, o diretor de uma empresa local, o funcionário de uma organização social, o gestor do posto de saúde e o aluno da escola municipal sentam, lado a lado, para debater, a partir de um diálogo aberto e democrático, questões da comunidade. A proposta é preparar um levantamento para realizar um diagnóstico a fim de identificar questões que têm se despontado como latentes no local.

A cena, que não parece ser comum no dia a dia das comunidades, é a aposta da metodologia PesquisAção desenvolvida pelo Instituto Paulo Montenegro. O método, inclusive, foi apresentado durante atividade aberta no Congresso GIFE, chamada: “Consultas participativas de opinião: estratégias para unir atores na reflexão e fortalecimento do voluntariado”. A proposta foi permitir que os participantes do evento pudessem vivenciar como aplicar a PerguntAção em projetos.

A metodologia surge a partir da larga experiência do Instituto com o desenvolvimento do NEPSO – Nossa Escola Pesquisa sua Opinião, um programa de formação de professores no uso da pesquisa de opinião como ferramenta pedagógica. Com os bons resultados adquiridos neste contexto, o Instituto percebeu que, poderia ir além, e utilizar a metodologia de pesquisa também para engajar pessoas.

“A proposta é mobilizar e articular diferentes públicos e atores locais na produção de um conhecimento empírico qualificado sobre aquele determinado contexto. Com isso, os envolvidos na construção e aplicação da pesquisa passam a conhecer melhor a realidade e a se envolver com ela, gerando um maior entusiasmo para intervir”, destaca Ana Lúcia Lima, diretora do Instituto Paulo Montenegro.

Por isso, a metodologia inclui a realização de oficinas de formação que habilitam os participantes a investigar, por meio de entrevistas pessoais com base em questionários estruturados, as opiniões sobre temas de interesse do grupo, tendo em vista a realização de um projeto em comum. O principal diferencial é a construção coletiva de todas as etapas do projeto, desde a formulação da consulta participativa até a análise de resultados.

A primeira experiência do PerguntAção foi desenvolvida em parceria com o Unicef, em 2009, para a realização de um diagnóstico participativo em diversas comunidades brasileiras sobre os direitos infanto-juvenis. Depois dessa iniciativa, novas parcerias surgiram, como a realizada com o Instituto Sou da Paz, visando envolver os jovens como agentes de mobilização da comunidade para debater o desarmamento.

Além dos projetos temáticos, a aplicação mais comum da metodologia tem sido em projetos de desenvolvimento local, no qual as empresas buscam o Instituto Paulo Montenegro para envolver a comunidade na consulta participativa visando conhecer determinado contexto no qual alguma ação vai acontecer ou já acontece em parceria com diferentes comunidades.

Segundo Ana Lima, os resultados têm sido muito positivos, pois a metodologia permite a aproximação e o diálogo entre públicos e organizações que normalmente não conversam, como uma criança beneficiária de um projeto e o diretor da empresa que patrocina aquela iniciativa localmente.

Depois da definição do tema da pesquisa, construção e aplicação dos questionários em campo, os dados levantados são processados pelo Instituto. Numa segunda etapa, os participantes do grupo inicial voltam a se reunir para analisar e interpretar os resultados finais.

Dependendo do formato estabelecido, o Instituto promove ainda oficinas de desdobramento e de comunicação, com o objetivo de ajudar o grupo a pensar de que forma irá compartilhar as informações da pesquisa com os diferentes públicos e como irá aplicar os dados na prática.

“Todos que participam do processo ficam muito empoderados. Seja o jovem, que pode colocar sua voz em destaque pela primeira vez como parte de um processo colaborativo, seja a comunidade que se sente valorizada nas entrevistas percebendo o valor da sua opinião. Além disso, quando todos conversam passam a entender o outro e compreender diferentes questões”, comenta Ana Lima.

O Instituto está estudando agora a possibilidade de aplicar a metodologia também em etapas de avaliações de programas, a fim de envolver diferentes atores para repensar iniciativas, por exemplo, a partir dos resultados de consultas participativas.

Atividade prática para o voluntariado

Durante o Congresso do GIFE, o Instituto apresentou a aplicação do PesquisAção em parceria com a Programa de Voluntariado da Promon. Para isso, os participantes da oficina foram convidados a vivenciar de forma lúdica todas as etapas pelas quais o grupo na ocasião passou e conhecer a metodologia de perto.

Segundo Fabio Risério, gerente de responsabilidade social da Promon, a empresa procurou o Instituto para aplicação desta metodologia quando percebeu que era hora de fazer um novo diagnóstico do programa, depois de quatro anos de realização da última pesquisa. “O objetivo foi buscar algo inovador e que conseguisse envolver de fato todos os atores participantes do programa, como funcionários voluntários, diretoria da empresa, organizações sociais parceiras, assim como beneficiários destas entidades, que eram atendidos pelos voluntários da Promon”, explica.

A ideia era coletar a opinião dos participantes sobre o que vem sendo realizado, conhecer suas expectativas e compreender os relacionamentos entre os diferentes públicos para consolidar as aprendizagens e fortalecer as perspectivas do programa. A grande proposta foi promover uma intensa mobilização de todos para maior participação nas atividades e tomadas de decisão. “O PerguntAção traz a possibilidade de identificar os sinais de desgaste do programa e estabelecer um processo de construção coletiva”, ressalta Fábio.

Cerca de 50 pessoas estiveram reunidas na construção e aplicação dos questionários da consulta participativa. Segundo Fábio, entre as descobertas estabelecidas a partir deste trabalho, foi possível identificar as diferentes visões de cada membro participante do programa a respeito do que significa uma ação voluntária e as expectativas que cada um tem a respeito destas iniciativas. “Essas várias percepções podem ter um impacto direto no resultado final do programa. É importante entender os interesses de todos os envolvidos. Foi um processo muito rico de conhecimento mútuo. Agora, vamos discutir as informações do diagnóstico com todos os públicos novamente, o que vai nos ajudar a desenhar a nova estrutura do programa”, enfatiza o gerente da Promon.

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