Celia Cruz, do Instituto de Cidadania Empresarial, discute como negócios de impacto avançam no Brasil

Por: GIFE| Notícias| 22/04/2014

Investir em um negócio que traz apenas retorno financeiro ou em um que promove ainda transformações sociais? Criar um empreendimento interessante para mim ou que pode beneficiar também uma comunidade, território ou região? Parece que, a cada dia, a resposta a estas perguntas ganha um viés mais certo: o de investir e de empreender também para a mudança da sociedade.

É o que os números indicam. O campo das finanças sociais e negócios de impacto vêm crescendo substancialmente nos últimos anos no Brasil e no mundo. Se há dez anos, existia apenas um fundo de investimento de impacto, com menos de R$ 100 milhões disponíveis para investimento, uma pesquisa recente, agora de 2014, da ANDE com a LGT VP e a Quintessa Partners, identificou 21 organizações que já realizam ou vão realizar investimentos de impacto no país com um total de captação de cerca de $ 200 milhões de dólares (o relatório completo será divulgado no final de abril).

As finanças sociais chegaram como uma nova forma de mobilização de mais capital privado e público para investimento em atividades com a intenção de produzir impacto social com sustentabilidade financeira”, destaca Celia Cruz, diretora executiva do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) – organização que atua nesta área.

A diretora ressalta que um exemplo muito categórico de como este segmento ganhou relevância internacional, foi o anúncio em junho do ano passado da criação pelo G8 de uma Força-Tarefa focada em investimento de impacto, cujo objetivo era criar condições objetivas para o crescimento do campo nestes países. “Sabemos de que há intenção de que este processo até o final do ano seja estendido aos países do G20”, comenta.

O anúncio fortaleceu a decisão do ICE em articular um processo com 20 organizações – incluindo o GIFE – para criação de uma Força-Tarefa brasileira. Este grupo foi em busca de entender como outros países conseguiram avançar na estruturação do campo. Países como Inglaterra, Canadá e EUA perceberam que uma forma de acelerar a mobilização de capital para impacto social através de mecanismos inovadores seria por meio da formação de forças-tarefa, compostas por lideranças dos diferentes setores. O objetivo destas iniciativas foi de identificar gargalos e oportunidades e listar recomendações de medidas que poderiam ser adotadas para o setor avançar.

Desde julho de 2013, a tarefa do grupo no Brasil foi identificar e descrever temas que representem obstáculos ou oportunidades para o campo de finanças sociais no Brasil. As linhas de ação priorizadas até o momento são: viabilização do acesso a recursos existentes e não explorados; promoção do tema entre investidores-chave no Brasil; promoção e aproveitamento das compras institucionais; incentivo/apoio aos intermediários e fortalecimento do Pipeline; 4. produção/disseminação de conhecimentos e formação de quadros.

No dia 07 de maio acontecerá o lançamento oficial da Força-Tarefa Brasileira durante o Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, realizado pelo ICE, Artemisia e VOX Capital, com a presença dos seus membros (veja informações abaixo sobre o evento).

Segundo Celia, durante o evento, os participantes poderão conhecer os vários instrumentos ou mecanismos para viabilizar a mobilização para impacto social. Entre eles estão os Fundos de Investimento de Impacto, que nada mais são do que fundos de venture capital cujo processo de escolha de empresas investidas tenham como foco produtos ou serviços para comunidades de baixa renda, levando em conta dois fatores: a efetiva entrega de impacto social e a perspectiva de sucesso financeiro da companhia. Há ainda outros mecanismos, como o Social Impact Bonds, Fundo de pensão para pessoas com deficiência, entre outros.

Os pioneiros de investimento neste setor têm sido os filantropos, fundações e indivíduos. Eles estão investindo na construção da infraestrutura e como investidores dos fundos de investimento de impacto e também diretamente nos negócios”, comenta Célia.

Para a diretora, a área de investimento social privado tem papel essencial na construção e consolidação do campo dos negócios sociais, ou seja, aqueles que oferecem produtos e serviços, gerando impacto social nas comunidades e com performance financeira. “O tamanho dos problemas que temos de enfrentar em nossa sociedade é tão grande que precisamos de soluções que tenham escala. E vemos o investimento social privado como grande aliado destas iniciativas para ajudar os negócios sociais a ganhar escalabilidade”, acredita.

Outra atuação das fundações e institutos neste campo, aponta Celia Cruz, pode ser no fomento à inserção dos negócios sociais de impacto na cadeia de valor da própria empresa mantenedora. Um exemplo é a iniciativa de muitas destas organizações em ajudar suas companhias a agregar cooperativas a sua cadeia visando atender a políticas de logística reversa. “Os institutos e fundações são os grandes intermediários entre os negócios de impacto e os possíveis financiadores porque entendem a importância deste campo”, pondera a diretora do ICE.

Potencial para escala

A evolução de investimento neste campo vem acompanhada do próprio crescimento dos negócios sociais de impacto. Há novas oportunidades sendo criadas a cada dia.

Diogo Tolezano, diretor de Educação da Artemísia – organização pioneira na disseminação e no fomento de negócios de impacto social no Brasil – conta que, quando a organização iniciou suas atividades há dez anos, recebia cerca de 200 ideias de negócios sociais para que 20 pudessem ser selecionadas e aceleradas pela Artemisia. Em 2013, foram mais de mil interessados.

As pessoas estão buscando novos propósitos. Muita gente não se contenta apenas com o resultado financeiro. A pergunta passa a ser: Para que eu acordo todo dia? No que estou usando todo o meu conhecimento?”, comenta.

De acordo com Diogo, o perfil dos empreendedores também mudou ao longo do tempo. No início, aqueles que se interessavam pelo campo eram profissionais vindos do terceiro setor e motivados por uma causa específica. Agora, cada vez mais, os novos empreendedores vêm do mundo corporativo, com conhecimento de gestão e negócios e sucesso em suas áreas de atuação, para aplicar em transformações sociais.

O perfil destes novos empreendedores também foi identificado por um estudo realizado em 2011, pela Potencia Ventures, Fundação AVINA e ANDE Polo Brasil. Na época, foram identificados 140 negócios sociais, sendo que a pesquisa se aprofundou em 50 deles. O estudo identificou que a maior parte desses negócios – 25 exatamente –, situavam-se na região Sudeste. Em segundo lugar vinha a Região Nordeste, com 13 negócios de impacto social. Além disso, 40% dos empreendedores tinham ensino superior; 38% pós-graduação; 12% ensino médio e 2% ensino fundamental.

Na avaliação de Diogo, apesar dos diversos avanços, ainda há muito espaço para a criação de novos negócios sociais de impacto e, algumas áreas, demandam ainda mais. Esse é caso do setor de educação. Em um levantamento promovido pela Artemisia em conjunto com o Porvir, foram identificados uma série de demandas neste setor que os empreendedores poderiam atuar e ajudar a resolver problemas básicos da população brasileira de baixa renda. Atualmente, 60% das empresas que procuram o apoio da Artemisia são da área de educação.

Mundialmente é o setor que tem chamado a atenção dos investidores. Os motivos já sabemos: trata-se da falta de qualidade”, comenta Diogo.

Evento

Nos dias 6 e 7 de maio será realizado, em São Paulo, o Fórum Brasileiro de Finanças Sociais e Negócios de Impacto – Investir para Transformar. A iniciativa da Artemisia, ICE e da Vox Capital tem como proposta discutir o tema, compartilhar casos de negócios de impacto, identificar oportunidades e desafios, de modo a estimular novas formas de pensar a alocação de capital para a geração de impacto social no Brasil.

Estão previstas mais de 20 atividades ao longo do fórum, entre plenárias e seções paralelas. Nestes espaços, os participantes poderão debater diversas temáticas como, por exemplo, as possibilidades de inovação nos investimentos, a perspectiva dos empreendedores sociais, formas de mensurar e avaliar impacto social, o desenvolvimento de talentos e capital humano para o campo e a inserção de negócios sociais nas cadeias de valor de grandes empresas.

Entre os mais de 60 palestrantes nacionais e internacionais confirmados estão Michelle Giddens (Bridges Venture/Big Society Capital), Elysa Ericson (Omydiar Network), Antonio Ermirio de Moraes Neto (Vox Capital) e Hans Wahl (INSEAD).

O fórum, em parceria com o The Hub, oferecerá também aos participantes seis workshops que acontecerão no dia anterior ao evento, em 5 de maio.

Os interessados em participar devem fazer sua inscrição pelo site do evento. Mais informações pelo e-mail: [email protected].

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