Ídolos brasileiros comentam a transformação e inclusão social por meio do esporte

Por: GIFE| Notícias| 24/06/2014

Quando adolescente, ele chegou a trabalhar como lavador de carros e porteiro. Treinava em uma pista de corrida precária e precisava ficar de olho e optar por onde pisar para fugir de buracos. Sua carreira como atleta de alto rendimento só mudou quando foi “adotado” pelo então presidente da Coca-Cola, recebendo ajuda de custo e adquirindo disciplina em sua rotina de treinos.

E o investimento deu um retorno e tanto. A criança de origem humilde, chamada Robson Caetano da Silva, se tornou um corredor e conquistou duas medalhas olímpicas.

O ex-atleta soube na pele como o fato de receber suporte e investimento pode mudar a vida de um jovem. Hoje, Robson Caetano dedica parte de seu tempo em projetos sociais –mas ele não está sozinho. No Brasil, está cada vez mais comum o envolvimento de atletas em projetos que têm no esporte seu pilar de transformação social. Inclusão, emancipação e educação são apenas alguns dos temas que a prática profissional abrange.

Investir no futuro atleta logo em seus primeiros anos é crucial. Principalmente quando levamos em conta o atual cenário nacional. Segundo dados do levantamento Esporte pelo Brasil, da organização Atletas pelo Brasil, quanto menor a escolaridade, maior é a inatividade das pessoas. A pesquisa aponta ainda que 18,5% das crianças com até 8 anos não praticaram qualquer atividade física a lazer nos últimos três meses. Entre nove e 11 anos, o percentual é de 11,8%. Acima dos 12 anos, esse número sobe para 14,2%.

O estudo talvez seja reflexo das condições encontradas na educação fundamental. Somente 18% das escolas públicas municipais têm quadras esportivas e nem todas contam com educadores especializados em seu quadro de funcionários regulares: 31% delas não possuem professores de educação física.

Entre os investidores sociais, os recursos para as áreas esportivas ainda são tímidos. Segundo o Censo GIFE 2012, apenas 36% dos associados da rede atuam com programas e projetos cujo esporte é o eixo central de promoção da inclusão social ou prática pedagógica. O cenário aponta que ainda há muito espaço para novos investimentos. Mãos à obra?

Com a palavra, os atletas
O redeGIFE convidou Robson e outros ídolos brasileiros para comentar sobre o poder do esporte na transformação e inclusão social. Veja abaixo.

Nome: Robson Caetano.
Modalidade: Atletismo, duas vezes medalhista olímpico.
Projeto social: Fundou o Instituto de Desenvolvimento Educacional, Esportivo, Sociocultural e de Meio Ambiente Robson Caetano (IRC), que se inspirada no atletismo como ferramenta da melhoria social de jovens carentes.
Como novos esportistas podem ser descobertos? “O Brasil deveria incentivar o esporte na escola porque lá estão os talentos do futuro, em todos os aspectos. E o esporte pode ser uma ferramenta para mudanças.”

Nome: Gustavo Borges.
Modalidade: Natação, quatro vezes medalhista olímpico.
Projeto social: “Nadando com Gustavo Borges” irá atender cerca de 200 crianças em Itu, interior de São Paulo. Além das aulas, os alunos terão à disposição todo o material necessário para as práticas, uniforme e alimentação após os treinos.
Qual é o poder do esporte na transformação social? “Os aprendizados que o esporte podem trazer são enormes na questão da disciplina, comprometimento e direcionamento para um objetivo. Isso gera um crescimento dentro do esporte, na casa e na vida. Os projetos sociais, que são muito trabalhosos, precisam do interesse da pessoa por trás e uma boa equipe. A parte da gestão é o mais complexo.”

Nome: Maria Paula Gonçalves da Silva, mais conhecida como Magic Paula.
Modalidade: Basquete, prata olímpica em Atlanta (1996), ouro no Campeonato mundial de Basquetebol na Austrália (1994) e nos Jogos Pan-Americanos em Havana (1991).
Projeto social: Em 2004, fundou o Instituto Passe de Mágica, ONG que oferece a prática lúdica do basquete e atividades complementares a crianças em situação de vulnerabilidade social. Atualmente, o projeto atende cerca de 780 adolescentes em sete núcleos.
Como a prática esportiva pode atuar no desenvolvimento e inclusão social? “O esporte é um fenômeno cultural produzido pela humanidade e está sujeito às pessoas e aos valores de quem o produz. Acredito no esporte com ética, excelência e coragem. Este esporte agrega, motiva, constrói, traz sentido e significado e promove cidadania.”

Nome: André Domingos.
Modalidade: Atletismo, bronze olímpico em Atlanta (1996) e prata em Sidney (2000).
Projeto social: Participa como padrinho de maratoninhas, eventos voltados a crianças que começam no esporte e onde podem surgir futuros campeões.
Eventos como a Copa e as Olimpíadas contribuem também para o surgimento de novos talentos? “O legado dos megaeventos se faz dando a oportunidade de nossas crianças terem o direito de sonhar. E, para sonhar, não devem existir barreiras para que essas crianças usem esses espaços construídos para praticar o esporte.”

Nome: Kelly Santos.
Modalidade: Basquete, medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Sidney (2000) e prata no Pan 2007, no Rio de Janeiro.
Projeto social: Atua na Organização de Cultura, Cidadania e Arte (OCCA), utilizando a atividade física como uma ferramenta de integração social e uma forma de promover valores essenciais na vida de jovens.
Você acredita que o esporte pode ajudar a transformar a vida de crianças e adolescentes? “Sim. O poder do esporte não pode ser mais subestimado.”

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