Novo livro de Kliksberg será lançado em Fortaleza

Por: GIFE| Notícias| 22/04/2002

O economista e sociólogo Bernardo Kliksberg abrirá o II Congresso Nacional sobre Investimento Social Privado com a conferência Articulando papéis e objetivos – Estado, Mercado e Sociedade Civil na construção da nova ordem social. Autor de mais de 30 livros, ele lançará durante o encontro mais uma obra: Falácias e Mitos do Desenvolvimento Social.

Em artigo para o GIFE, Kliksberg enumerou quais são os dez pontos chaves de sua nova obra.

“”1 – A economia deve crescer, mas só isto não basta. É fundamental a qualidade do crescimento. Os últimos anos mostram que países com taxas de crescimento similares tiveram resultados muito diferentes para a sua população. A diferença é: Que tipo de crescimento? Em quais setores? Com que impactos sobre questões fundamentais, como o alento a pequena e média empresa?

2 – Não basta o crescimento para que a pobreza melhore significativamente. O mito do “”derrame””, ou seja, de que o crescimento se derramará sobre os pobres e os tirará da pobreza, fracassou em muitos países. Quando os países são muito desiguais é preciso que haja políticas sociais agressivas, grandes investimentos na universalização da educação e acesso à saúde, à nutrição e à democratização do crédito para que o crescimento beneficie a todos.

3 – Fazer políticas sociais agressivas, bem gerenciadas, é considerado atualmente um propulsor fundamental do desenvolvimento. As sociedades que investiram mais e de forma continuada na educação e na saúde têm hoje maior competitividade no mundo globalizado.

4 – Investir no social, quando há uma boa gestão, não pode ser considerado um gasto. A expressão “”gasto social””, muito utilizada na América Latina, é uma falácia pois o gasto é, na verdade, um investimento. Foi provado econometricamente que a taxa de retorno dos investimentos destinados a questões como aumentar os anos de escolaridade, fornecer água potável e reduzir as causas da mortalidade infantil, entre outras, é muito maior do que qualquer outro investimento econômico.

5 – A América Latina é apontada por quase todos os especialistas como a região mais desigual do planeta. Uma das grandes descobertas econômicas nos últimos anos é que as grandes desigualdades são um dos principais inimigos do progresso econômico. Vão de encontro à formação da poupança nacional, reduzem o tamanho do mercado interno, prejudicam o sistema educacional, minam a governabilidade, além de outros efeitos negativos. Na América Latina há, pelo menos, cinco desigualdades importantes: na distribuição dos ingressos, no acesso a ativos produtivos, ao crédito, à educação de boa qualidade e à saúde. A elas soma-se a desigualdade de acesso à informática e à internet. Deve haver na região, no marco da democracia, políticas enérgicas para a melhora da igualdade, como a universalização da pré-escola, a extensão da proteção primária na saúde, a democratização do acesso à informática, à expansão do microcrédito, entre outras.

6 – Hoje sabemos que há uma força muito importante de desenvolvimento que é o capital social. Essa nova descoberta é formada por fatores como a capacidade de associação de uma sociedade, os níveis de confiança interpessoais e entre as instituições, o grau de consciência cívica e os valores éticos predominantes. Está provado que tudo isso influi fortemente no desenvolvimento. Mobilizar o capital social é pôr em marcha forças potentes que nos países desenvolvidos aportam porcentagens significativas ao Produto Interno Bruto, como o voluntariado, a responsabilidade social da empresa e a ação das ONGs em geral. É potencializar a sociedade civil. Deve haver para isso políticas públicas ativas.

7 – Nos países mais desenvolvidos social e economicamente no mundo, como Canadá, Noruega, Suécia, Dinamarca e Holanda, segundo as Nações Unidas, há uma estreita articulação entre o Estado, a Sociedade Civil e o Mercado. Essa articulação trata de maximizar os aspectos mais positivos de cada um e de minimizar suas disfuncionalidades. Isso praticamente não existe na América Latina.

8 – Um grande mobilizador do capital social e fator de eficiência de gestão é a participação. A gestão pública e privada nos dias de hoje dá a isso muita importância. As estruturas organizacionais participativas produzem resultados muito superiores aos das verticais, das paternalistas ou das autoritárias. Na América Latina todos se dizem favoráveis à participação que, entretanto, não avança. Por quê? No fundo, há resistências poderosas de diversas índoles que devem ser confrontadas pelas políticas adequadas para que a participação avance.

9 – Perdeu-se a relação entre ética e economia, que esteve na origem da ciência econômica. É imprescindível recuperá-la. A ética deve voltar com toda a força para a economia. Devemos projetar o tipo de sociedade que queremos, com que valores e atuar para isso. É necessário que os principais atores sociais, como políticos, empresários, líderes da sociedade civil, dirigentes sindicais e acadêmicos, assumam suas responsabilidades éticas. Devem ser encarados os grandes desafios éticos abertos na América Latina, como a discriminação dos índios e dos negros, a intolerável situação das crianças (cerca de 60% delas são pobres), o processo de debilitação da família sob o impacto da pobreza, as discriminações de gênero, a situação da terceira idade e a marginalização dos deficientes.10 – É preciso praticar uma ética da urgência e da esperança. Não se pode ficar estático diante da pobreza porque ela causa danos irreversíveis. Assim, se as crianças não recebem nutrição adequada nos primeiros anos de vida, está provado que seu cérebro sofre lesões incuráveis. Se 18% das mães não têm atenção médica durante o parto, como ocorre na América Latina hoje, isso produz 23 mil mortes gratuitas por ano. Se não há políticas de proteção à família, muitas se extinguirão ao se confrontarem com a pobreza. Por outro lado, é preciso enfrentar um mito muito utilizado de que não dá para ser diferente. É preciso resgatar a esperança como um valor central. A América Latina tem um caldo cultural excepcional – com grandes redes de solidariedade espontâneas -, gerou experiências sociais admiráveis, tem um potencial imenso e não deve dar lugar a derrotismos. Um eminente especialista da região, Albert Hirschman, professor emérito de Princenton, dizia que na América Latina é preciso vencer a “”fracassomania””, ou seja, a idéia de que estamos condenados ao fracasso. É um mito paralisante a superar. Assim como obtivemos a democratização, é possível na América Latina construir economias sólidas e socialmente igualitárias.

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