Inauguração da sede da CooperBassoli simboliza nova fase para inclusão produtiva e sustentabilidade em Campinas
Por: Fundação FEAC| Notícias| 02/12/2024Projeto apoiado pela Fundação FEAC permitirá a geração de renda para o grupo liderado por mulheres em uma das regiões de maior vulnerabilidade social da cidade
Inauguração da sede da CooperBassoli simboliza nova fase para inclusão produtiva e sustentabilidade em Campinas. Crédito: Divulgação Fundação FEAC
Campinas acaba de ganhar mais um importante espaço que será essencial para a promoção da sustentabilidade atrelada à inclusão produtiva. No último sábado, 23 de novembro, foi inaugurada oficialmente a sede da CooperBassoli – Cooperativa de Trabalho dos Catadores de Materiais Recicláveis Vitória do Jardim Bassoli -, na região do Campo Grande, periferia da cidade. Estiveram presentes representantes da Fundação FEAC, de Organizações da Sociedade Civil (OSCs), de empresas parceiras e apoiadores do Fundo Socioambiental da Caixa, e representantes do Departamento de Limpeza Urbana (DLU), além do secretário municipal de Trabalho e Renda, Arthur Orsi.
Ocupando uma área de 4.726,41 metros quadrados, o barracão onde agora funciona a sede foi concebido para oferecer aos catadores condições adequadas para o trabalho com reciclagem, garantindo segurança e eficiência no processo de coleta e separação de materiais e, ao mesmo tempo, impulsionando um modelo de economia sustentável na região. O local foi equipado com prensa, esteira, empilhadeira e contêineres com capacidade para receber e iniciar a triagem de 10 toneladas de materiais por mês.
Esta estrutura permitirá, ainda, a expansão futura das operações e a inclusão de novos trabalhadores. Com isso, a CooperBassoli visa não apenas aumentar a capacidade de reciclagem na cidade, mas também fortalecer a economia local e reduzir a vulnerabilidade social dos envolvidos no projeto.
Para entender a importância desse novo passo, é preciso voltar no tempo e conhecer mais sobre a CooperBassoli, que foi criada em 2022, a partir de uma mobilização de catadoras da região buscando a geração de renda e a diminuição do descarte irregular de lixo na região. Em 2023, o terreno da cooperativa começou a ser preparado, com terraplanagem e instalação de uma tenda. As sete fundadoras começaram a receber capacitação em gestão administrativa e financeira, bem como em políticas nacionais de resíduos sólidos, com o objetivo de tornar o projeto uma referência em trabalho digno e inclusão produtiva.
Uma aliança estratégica entre a Fundação FEAC, que tem como missão atuar no combate às vulnerabilidades sociais, o poder público municipal, a cooperativa AMATER e a consultoria Demacamp permitiu finalizar a estruturação do espaço, ofertar capacitação e ações de educação ambiental, contando com o apoio do Fundo Socioambiental da Caixa.
Convidados e celebração conjunta
Além de celebrar a abertura da sede, o evento de inauguração reforçou a importância desse projeto para o desenvolvimento social e econômico da comunidade, promovendo uma alternativa digna de geração de renda e inclusão produtiva para os catadores locais, com efeitos ambientais positivos.
Para Maria Isabel Lopes dos Santos, presidente da CooperBassoli, ter o novo espaço significa mais oportunidades de trabalho e renda para as famílias do Jardim Bassoli. “É um sonho realizado. Foram 13 anos de muita luta e agora a cooperativa estará de portas abertas, principalmente para nós, mulheres, que precisamos trabalhar e também cuidar dos filhos”, disse.
Isabel Silva Barbosa, conselheira fiscal da Cooperativa, considerou que a inauguração foi a materialização de uma questão que permeia a história do Jardim Bassoli desde a ocupação do território, uma vez que boa parte das pessoas que vive ali já trabalhava com reciclagem, mas se viu sem espaço para organizar o material recolhido nos apartamentos, sem área externa. “A cooperativa nasce pequena, com poucas pessoas, mas em uma área em que não há coleta seletiva e moram mais de 200 mil pessoas. É um desafio olhar para a coleta seletiva e o trabalho da cooperativa não só como ganho de renda para as pessoas que vierem, mas também pelos ganhos ambiental, social e humano de consolidar relações entre os moradores do local”, disse.
Jair Resende, superintendente socioeducativo da Fundação FEAC, explicou que esse projeto está totalmente alinhado com a estratégia de inclusão produtiva da Fundação, o que na prática significa apoiar grupos produtivos dos territórios de vulnerabilidade social da cidade. O trabalho começou com a identificação do grupo, que já tinha um trabalho de mais de uma década e não conseguia organizar a logística e precisava do barracão e dos equipamentos corretos. “A FEAC serviu como um catalisador desse processo. O grupo foi reorganizado, os equipamentos necessários adquiridos, a infraestrutura do barracão montada e até uma área externa de apoio foi organizada para que hoje tenhamos uma cooperativa de separação e triagem de material reciclável instalada e contando com convênio com a prefeitura para que os cooperados sejam remunerados pelos serviços ambientais prestados”.
A FEAC garantiu recursos por 18 meses para que a equipe da CooperBassoli desenvolvesse seu trabalho, período em que as capacitações continuam e a identidade do grupo se reforça. “Nossa estimativa é que, inicialmente, os cooperados consigam fazer a triagem de três a quatro toneladas de material reciclável por mês. Mas há um enorme potencial ali, com a possibilidade de fazer uma rota por bairros recolhendo o material reciclável e aumentar gradualmente o trabalho até alcançar o patamar de outras cooperativas da cidade que triam de 100 a 150 toneladas por mês”, esclareceu Leonan Bueno, da AMATER.
O secretário municipal de Trabalho e Renda, Arthur Orsi, destacou que sua pasta tem a missão de fazer toda a organização, fiscalização e facilitação do desenvolvimento e do trabalho das cooperativas. “Seguiremos oferecendo cursos de capacitação, materiais de segurança e fiscalizando o trabalho para verificar se a atuação do grupo estará ocorrendo de acordo com as normas técnicas necessárias”, afirmou.
Protagonismo feminino no Jardim Bassoli
Um aspecto fundamental da CooperBassoli é o protagonismo das mulheres do bairro na criação e desenvolvimento da cooperativa. Em uma região marcada pela vulnerabilidade social, onde cerca de 2.400 famílias vivem em situação de alto risco social e mais de 30% da população vive abaixo da linha de pobreza, essas 11 mulheres se organizaram para transformar o lixo em oportunidade de renda e desenvolvimento econômico.
Em Campinas, a taxa de desemprego entre mulheres é historicamente maior que a dos homens, o que aumenta os desafios enfrentados por trabalhadoras em áreas de baixa renda. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a taxa de desemprego foi de 6,5% para os homens no primeiro trimestre de 2024, ante um resultado de 9,8% para as mulheres. Na média nacional, a taxa de desocupação foi de 7,9% no período. Ou seja, a taxa de desemprego feminina foi maior que a média masculina e nacional. Por isso, iniciativas como a CooperBassoli são essenciais para ajudar a reverter esse quadro em comunidades de risco.
Um modelo a ser replicado
A Fundação FEAC, que tem na inclusão produtiva uma de suas principais frentes de atuação, enxerga na cooperativa uma importante ferramenta para transformar a realidade de muitas famílias. Para Rafael Moya, gerente de desenvolvimento territorial da Fundação FEAC, “projetos como a CooperBassoli têm o potencial de gerar efeitos positivos em diversas dimensões, seja a econômica por meio da consolidação de um empreendimento econômico importante no território, seja social por promover trabalho, dignidade e renda às pessoas em vulnerabilidade social, seja de cidadania, pois empodera e dá sentimento de pertencimento às pessoas que estão direta ou indiretamente ligadas ao empreendimento”.
Karina Cappelli, especialista em inclusão produtiva da FEAC, destacou que a cooperativa representa um novo olhar sobre os resíduos, enxergando neles valor. “Além disso, os grupos produtivos permitem maiores chances de negociação e de estruturação de um modelo de negócio, promovendo o empoderamento pessoal dos membros e um olhar integral para a comunidade”.
A CooperBassoli é fruto de um esforço conjunto entre diversos setores e instituições que acreditam no potencial transformador da reciclagem para a comunidade e para o meio ambiente. Esse trabalho colaborativo reforça o compromisso da FEAC com a sustentabilidade e inclusão, ao unir forças com o poder público, empresas privadas e organizações civis, criando um modelo de referência na gestão de resíduos sólidos.
Jair Resende destacou, ao final, que a iniciativa é fundamental para que o próprio território faça a sua gestão de resíduos. “Esperamos que, com o aprendizado no Jardim Bassoli, possamos levar esse projeto ou algo similar para as áreas onde estamos conduzindo as iniciativas de desenvolvimento territorial”, completou.