Crise de financiamento internacional provocada pelos EUA desafia protagonismo da filantropia no Sul Global 

Por: GIFE| Notícias| 28/04/2025

Foto: IStock Photo

Cortes orçamentários do governo Trump têm provocado o desmonte de organizações internacionais como a Usaid e a OMS. Além disso, o aumento de tarifas de importação a diversos países também tem afetado o PIB mundial. Especialistas apontam o Sul Global como importante ferramenta de rearticulação política, filantrópica e econômica em resposta ao cenário atual

A decisão do governo Donald Trump nos Estados Unidos em cortar recursos internacionais destinados a programas sociais e de desenvolvimento tem espalhado preocupação global. Um dos principais exemplos desse desmonte são os cortes orçamentários na Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), instrumento de auxílio a causas humanitárias em diversos países — muitos deles no Sul Global, como o Brasil. Diante desse cenário, tem crescido o entendimento de que a filantropia deve assumir protagonismo estratégico. 

Considerada o maior braço de apoio a causas humanitárias no mundo, a Usaid começou a receber ameaças no primeiro mês da nova gestão de Donald Trump, iniciada em janeiro de 2025. Os argumentos do atual governo norte-americano que visam “legitimar” as investidas contra a agência incluem desde cortes de gastos a combate a ações criminosas, que não foram comprovadas

De acordo com avaliação da Organização das Nações Unidas (ONU), serão necessários 47,4 bilhões  de dólares em 2025 para atender às demandas globais por ajuda humanitária. A Usaid é responsável por cerca de 42% de apoio deste tipo no mundo. 

“Quando esses recursos cessam, desestabiliza uma série de programas fundamentais para as populações vulneráveis”, alerta Juliana Tinoco, coordenadora Executiva da Alianza Sócioambiental Fondos del Sur. Países da América Latina são alguns dos principais afetados neste sentido, como o Brasil que em 2024 recebeu cerca de 22 milhões de dólares da Usaid para projetos que viabilizam a atuação de diversas frentes, sendo mais da metade voltados a causas ambientais. 

Outros pontos de tensão envolvem cortes financeiros à Organização Mundial da Saúde (OMS), que anunciou recentemente demissões de pessoal por causa do déficit orçamentário que vem enfrentando desde o rompimento do compromisso financeiro dos EUA, maior financiador da OMS. 

Além disso, o “tarifaço do governo Trump”, que inclui aumentos significativos nas tarifas de importação para mais de 180 países, inclusive parceiros comerciais, tem desencadeado uma forte instabilidade econômica pelo mundo.  Citando os impactos negativos dessa decisão, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a previsão de crescimento do PIB global para 2,8% em 2025. Para o Brasil a projeção caiu para 2%.

Bordando novas rotas

Para Juliana Tinoco, em meio às incertezas internacionais e os impactos negativos que afetam países economicamente vulneráveis, é preciso que as soluções e estratégias também sejam reformuladas e fortalecidas a partir do protagonismo do setor filantrópico.

“Costumo dizer que o Sul e o Norte global são um contexto geopolítico, então você tem bolsões de Norte Global dentro de qualquer país do Sul Global, [que são as] elites com dinheiro. Há  uma série de possibilidades de movimentar recursos localmente que não dependam, por exemplo, dos Estados Unidos”, comenta a coordenadora.

“A desigualdade dentro dos países é sistêmica e histórica, baseada no processo colonizatório e imperialista. Mas ainda assim acredito que nos resta olhar para dentro (…) É o momento dessas entidades filantrópicas com recursos serem mais ambiciosas nos seus investimentos sociais, agirem em colaboração [para fazer com que] o recurso chegue na ponta”, complementa Juliana Tinoco. 

Perspectiva que pelas lentes da Iniciativa Pipa revelam que a atual realidade tem forçado respostas a longo e médio prazo que apontam para o Sul Global enquanto solução. “Se a geopolítica chacoalha e nos permite avançar de forma dura por caminhos não conhecidos no campo da economia e política, cabe coragem também nos entes privados para seguir apostando em formas descolonizadas de investimento social para mudanças em países emergentes do mundo”, diz trecho de texto publicado pela organização em sua conta no Linkedin. 

Leitura alinhada com o que pensa Juliana Tinoco. “A resposta é local. Que haja de fato uma ação mais ousada, mais coordenada e mais em prol da sociedade”, conclui. 


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