Fórum Social confronta domínio do capital e questões sociais
Por: GIFE| Notícias| 21/01/2002Em sua segunda edição, o Fórum Social Mundial (FSM) será realizado em Porto Alegre (RS), de 31 de janeiro a 5 de fevereiro, com o intuito de debater o domínio do capital em contraponto às questões sociais e políticas. Em entrevista ao redeGIFE, Sérgio Haddad, presidente da Abong, uma das organizadoras do FSM, falou sobre os assuntos que serão abordados durante o encontro.
redeGIFE – Quais são as expectativas para o Fórum Social Mundial 2002? Quantas pessoas e organizações são esperadas, do Brasil e de outros países?
Sérgio Haddad – O Fórum Social Mundial (FSM) será o primeiro grande momento depois de 11 de setembro para as pessoas que buscam uma outra forma de globalização onde o ser humano e a natureza sejam os fatores centrais de preocupação. Será um momento de retomada das grandes manifestações e dos debates. Neste sentido, a responsabilidade este ano é muito maior. Espera-se um número muito grande de pessoas. No ano passado tivemos 4.500 delegados. Hoje temos quase 12 mil. O acampamento da juventude já cadastrou cerca de 9 mil jovens. São quase 700 oficinas propostas pelos participantes. Mais de 100 países estarão representados. Há uma expectativa de 50 a 60 mil pessoas. Já não há vagas nos hotéis da cidade para o período.
redeGIFE – Quais serão os principais pontos de debate?
Haddad – É muito difícil falar sobre pontos principais, uma vez que, para quem propõe, o seu ponto é sempre o principal. E são muitas as atividades. Mas não tenho dúvidas que os temas conjunturais como o do ataque de 11 de setembro e a reação de guerra dos Estados Unidos terão muita visibilidade. Ao mesmo tempo, a crise argentina acaba sendo paradigmática dos impactos da globalização e das políticas neoliberais no contexto latino-americano. Um outro tema importante será a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), assim como a dívida dos países do terceiro mundo.
redeGIFE – Qual a principal diferença entre o primeiro Fórum, em 2001, e deste anos em termos conceituais e estruturais?
Haddad – Em termos conceituais, o Fórum, a partir desta versão, procurará ser mais internacionalizado. Para tanto, foi constituído um Conselho Internacional com cerca de 60 organizações. Houve também um esforço grande em buscar fazer outras versões preparatórias, como o que ocorreu na África, no Mali, no começo deste mês e o que ocorrerá no próximo final de semana em Belém (PA), uma versão amazônica. Para o próximo ano está programado que o Fórum se realizará de maneira continental e não centralizada. Em termos estruturais, o encontro deste ano ocupará toda a cidade de Porto Alegre e não apenas a PUC, em função do grande volume de pessoas que deverá estar presente. Além do mais, há uma maior preocupação com a sistematização dos debates, com a sua transmissão e divulgação.
redeGIFE – Após os atentados terroristas contra os Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, o que muda no FSM? Como o debate sobre o movimento antiglobalização será conduzido? Há o risco de haver uma controvérsia nos discurso?
Haddad – Evidentemente que o tema da paz, por um lado, e da justiça social como condição para a paz, demarcarão o Fórum. Tanto o terrorismo quanto a guerra são condenáveis. Ambos são expressões da ausência da política como meio para a superação dos problemas. Não creio que haverá controvérsia quanto à defesa da paz e da justiça social. Onde pode haver controvérsia é sobre como conquistar justiça social, mas é salutar, faz parte da história da humanidade e é uma das razões da existência do Fórum.
redeGIFE – A mudança do Fórum Mundial Econômico de Davos (Suíça) para Nova York (EUA) teve mais a ver com os atentados terroristas ou com o clima de protestos causado pelo FSM no ano passado?
Haddad – Acho que tem mais a ver com os protestos em Davos e por uma busca de reformulação e adaptação ao novo momento de críticas e questionamentos sobre a sua própria existência.
redeGIFE – Como a crise argentina pode movimentar as discussões do Fórum?
Haddad – Sem dúvida alguma será referência, não só porque é o exemplo acabado do bom aluno neoliberal que não deu certo, mas também por causa do grande número de argentinos que estarão trazendo suas próprias experiências, angústias e desafios, o que certamente contagiará o Fórum.
redeGIFE – Qual a importância para as organizações não-governamentais participar deste encontro?
Haddad – Debater idéias, encontrar seus aliados naturais – os movimentos sociais e sindicais e setores críticos da sociedade civil – para articular novas formas de intervenção social, participar do planejamento da agenda futura que faz do Fórum não apenas um evento, mas um processo social de busca por um outro mundo mais humano.
redeGIFE – Quais são as expectativas político-sociais derivadas do Fórum?
Haddad – É sempre muito difícil medir conseqüências de um evento como este. No entanto, acredito que o Fórum, por ser um espaço de encontro de entidades, pessoas e movimentos interassados em mudar as condições de vida das populações excluídas, produzirá novos conhecimentos e potencializará mobilizações e articulações, dando um impulso nos processos de busca de hegemonia de uma nova cultura onde os valores universais possam ser respeitados.