A economia solidária é uma forma eficaz de combate à pobreza
Por: GIFE| Notícias| 28/01/2002A partir desta semana, o Fórum Social Mundial debaterá alternativas ao modelo de globalização e capitalismo existentes atualmente no mundo.
Uma das propostas é a da economia solidária. “”Organizar a produção em associações autogestionárias é uma forma eficaz de combater a pobreza e possibilitar que suas vítimas possam superá-la mediante o seu próprio esforço””, afirma o economista Paul Singer, um dos maiores especialistas do assunto no Brasil.
Em entrevista ao redeGIFE, Singer explica o que é a economia solidária e como ela pode ser uma importante aliada no combate às desigualdades sociais no Brasil.
redeGIFE – O que é economia solidária?
Paul Singer – Economia solidária é um modo de organizar atividades econômicas de produção, consumo e poupança/crédito que almeja completar as igualdades de direitos entre os que se engajam nestas atividades. Empreendimentos solidários são auto-gestionários, o que significa que neles todas as decisões são tomadas pelos membros ou por pessoas eleitas que os representam. A economia solidária é essencialmente associativa, ou seja, todos são sócios, sendo incompatível com relações assimétricas, como as que se desenvolvem entre patrões e empregados.
redeGIFE – Quais os exemplos mais comuns de economia solidária?
Singer – Os exemplos mais significativos de empreendimentos solidários são cooperativas de produção, crédito, habitação, seguro saúde, educacionais, entre outros, além de clubes de troca (associações de pequenas empresas e produtores autônomos que intercambiam com o uso de moeda própria) e bancos de pobres (do qual o Grameen Bank de Bangladesh é o maior e o mais famoso). Mas nem tudo que leva o nome de cooperativa é empreendimento solidário, pois muitas não praticam a auto-gestão.
redeGIFE – Como a economia, um conceito que muitos associam ao capitalismo, pode ser considerada solidária?
Singer – O conceito de economia não é idêntico ao de capitalismo, como se a única forma de organizar atividades econômicas fosse esta, isto é, pela separação entre os que têm a propriedade do capital e os que trabalham em troca de um salário. Há diversos outros modos de produção: individual, familiar, estatal, sem fins de lucro e solidário. Sob a forma de cooperativismo, a economia solidária já existe há cerca de 200 anos em praticamente todos os países.
redeGIFE – Por que a economia solidária está ganhando destaque?
Singer – A economia solidária está crescendo e ganhando importância por duas razões. Uma negativa, a exclusão social e a desigualdade crescente entre ganhadores e perdedores no jogo do mercado, nos países capitalistas. A outra é positiva: a democracia tem ganho adeptos no mundo inteiro e os seus valores – liberdade individual e igualdade política – tendem a se aplicar não só à esfera pública mas também à privada. A aplicação dos princípios democráticos a atividades econômicas resulta logicamente na economia solidária.
redeGIFE – Qual a importância do desenvolvimento deste tema no Brasil?
Singer – Hoje a economia solidária representa um movimento cada vez mais amplo e profundo, envolvendo sindicatos, movimentos sociais, universidades, igrejas e governos. Estamos começando a descobrir que organizar a produção em associações auto-gestionárias é uma forma eficaz – talvez a mais eficaz – de combater a pobreza e possibilitar que suas vítimas possam superá-la mediante o seu próprio esforço.
redeGIFE – O senhor acredita que a economia solidária é a principal forma de combater o desemprego no país e reverter a atual situação social?
Singer – Por enquanto a economia solidária ainda não atingiu dimensões que me permitam concordar que ela seja a principal forma de combate ao desemprego no Brasil. Acho que esta é a promoção do desenvolvimento econômico que eleva a ocupação em todos os modos de produção, sobretudo no maior deles que é o capitalista. Mas, enquanto nosso governo não é capaz de promover este desenvolvimento, ela é, ao lado da produção individual e familiar, uma forma cada vez mais importante de reinserção social dos que perderam seus empregos e também dos que nunca os tiveram.
redeGIFE – O senhor acredita que a iniciativa privada pode contribuir para o desenvolvimento da economia solidária? Como?
Singer – A economia solidária é, a rigor, parte da iniciativa privada. Mas esta é predominantemente capitalista. Uma forma de empresas contribuírem com o desenvolvimento da economia solidária é se relacionar comercial e financeiramente com cooperativas, clubes de troca e bancos de pobres, sem favorecimentos nem discriminação. Outra forma seria o inter-relacionamento e a eventual colaboração das fundações criadas ou apoiadas por empresas capitalistas com fundações e entidades de apoio à economia solidária. Tal relacionamento já existe embrionariamente em universidades e se mostra mutuamente vantajoso.