Painel discute avaliação de projetos de educação e tecnologia

Por: GIFE| Notícias| 15/06/2015

Com a proposta de debater e compartilhar experiências nacionais e internacionais de metodologias inovadoras para avaliação de projetos que utilizam tecnologias digitais como ferramenta para fortalecer a educação pública, a Fundação Telefônica Vivo promoveu em São Paulo, no dia 12 de junho, um painel sobre o tema. O encontro contou com a participação da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e da Move.

Ao longo destes 15 anos de Fundação tivemos sempre a preocupação em avaliar os projetos e, neste caminho, encontramos muitos outros casos e experiências interessantes. Achamos que seria muito interessante promover esse espaço para troca a fim de discutirmos quais as oportunidades e desafios no campo de avaliação e qual o papel da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem. Nós acreditamos que essas iniciativas possibilitam e trazem melhorias na educação”, comentou na abertura do encontro Gabriela Bighetti, diretora presidente da Fundação.

Francesc Pedró, diretor de políticas educacionais na Unesco, iniciou o painel apresentando o conceito de inovação educativa. Ele lembrou que, por muito tempo, foram definidas três esferas nas quais essa mudança na educação poderia acontecer: na forma em que a escola se organiza pedagogicamente, nos processos pedagógicos e/ou nas tecnologias utilizadas.

No entanto, desde 2000, novos desafios foram sendo incorporados à discussão, como a questão econômica e a pressão em mostrar resultados efetivos em avaliações internacionais. Com isso, hoje, o conceito gira em torno do valor que a inovação agrega na educação. Segundo Pedró, isso pode ser feito a partir de três perspectivas. A primeira é: a partir dessa inovação, é possível perceber que os participantes estão mais satisfeitos? A segunda: foi possível construir processos mais eficientes no uso de recursos? E, por fim: foi possível alcançar melhores resultados?

Mas é preciso cuidado quando falamos de resultados de aprendizagem. Normalmente, medimos o que é mais fácil de ser observado e esquecemos de medir, por exemplo, se os alunos estão mais felizes a partir das mudanças feitas. Precisamos ir além de avaliar os conhecimentos em Ciências, Matemática e Linguagens. Há outras habilidades para serem observadas, como as competências para o século XXI. Cuidado com o reducionismo”, alertou o especialista, enfatizando a importância da inovação ser sistêmica, ou seja, que tenha potencial de transformar globalmente e holisticamente os processos.

O diretor da Unesco destacou ainda que a tecnologia faz a diferença e traz inovação aos processos de ensino e aprendizagem sob três aspectos: é possível melhorar a motivação e engajamento dos alunos, devido à utilização de ferramentas mais próximas de suas realidades; a tecnologia torna a informação mais acessível e os processos mais confortáveis e convenientes; e aumenta a produtividade.

Mas, para que a tecnologia possa de fato ser incorporada à educação, apontou Pedró, será preciso desenvolver as capacidades das pessoas em utilizá-la. E, isso poderá ser fortalecido, a partir de um esforço em reunir e promover diálogos entre três comunidades: pessoas/organizações que defendem o uso da tecnologia; as que promovem e fomentam a inovação, como institutos, universidades etc; e os próprios usuários finais, como os professores, alunos e as famílias.

Nesse contexto, alertou o diretor da Unesco, um ponto fundamental será ampliar o conhecimento dos professores sobre as tecnologias e também sobre como fazer uso do monitoramento e das ferramentas de avaliação. Para isso, deve haver um esforço dos programas em destinarem mais recursos para a capacitação dos docentes e esta deveria ocorrer no seu campo de trabalho e não em espaços externos de formação, para que de fato as práticas possam ser revistas e melhoradas. “O uso da tecnologia ainda é baixo nas escolas porque não se pergunta aos professores: o que vocês necessitam? Devemos propor soluções inovadoras depois de ouvi-los”, ressaltou. “Além disso, é preciso criar mecanismos de avaliação mais participativos. Precisamos da interpretação dos próprios atores envolvidos nas iniciativas. Eles não podem ser apenas objeto da avaliação, mas devem sim ser sujeitos. O melhor dos mundos seria se pudessemos unir modelos de avaliação participativa e econômica”, acredita Pedró.
Avaliações no continente

Durante o encontro, Claudia Peirano, diretora do Grupo Educativo, do Chile, apresentou um panorama latinoamericano das avaliações em projetos que utilizam a tecnologia na educação. Ela resaltou que foi possível perceber alguns aspectos comuns entre os países, como a falta de políticas e coordenação institucional e nacional das iniciativas, assim como a falta de modelos pedagógicos estratégicos, que garantam programas de longo prazo e o fato de que a infraestrutura e a tecnologia não são suficientes para ter uma estratégia ordenada para melhorar a aprendizagem.

A especialista ressaltou que vários estudos realizados ao longo dos últimos anos mostram poucos resultados efetivos dos programas em relação à aprendizagem dos alunos e que as informações disponíveis não são suficientes para uma análise mais significativa sobre quais aspectos geraram impactos e que possam ajudar na implementação e reformulação dos programas e políticas.

Precisamos que a investigação nos permita aprender mais. Afinal, ter muitos dados em mãos sobre a educação, como temos no Brasil e no Chile, por exemplo, não significa que os sistemas tenham melhorado. Precisamos discutir como essas informações possam ser usadas para a ação e gerem confiança”, comentou.

Segundo Claudia, para que as avaliações sejam realmente significativas é preciso, antes de mais nada, que sejam definidas, numa visão compartilhada de sociedade, quais são as competências que se espera desenvolver em projetos educacionais com o uso das tecnologias. A partir daí, os projetos devem ser construídos pensando em qual o modelo pedagógico (currículo, práticas docentes, avaliação das aprendizagens e a formação dos docentes) que vai ajudar a desenvolver essas competências, por exemplo.

Deve ser observada ainda a questão da infraestrutura das NTICs (Novas Tecnologias da Informação e Comunicação) – englobando equipes e conectividade; os recursos educativos disponíveis; as plataformas e ambientes virtuais de aprendizagem existentes e as que precisam ser criadas; a incorporação dos conhecimentos que os alunos trazem de fora da escola; o desenvolvimento de processos de “gestão do conhecimento”; a incorporação de modelos de aprendizagem centradas no estudante; e, por fim, o protagonismo do professor dentro deste tema.
Painel compartilhado

No evento, os participantes tiveram acesso também a um material em formato de painel,  fruto da sistematização de sete entrevistas realizadas com gestores do campo. O material foi discutido em grupo e todos puderam compartilhar suas impressões sobre questões como: quais os desafios enfrentados pelas avaliações? Quais são as perguntas avaliativas  sobre os projetos? Quais os métodos e técnicas utilizadas? Entre outras.

Entre os aprendizados dos projetos neste campo, por exemplo, surgiram impressões como o fato de que a mudança de cultura na escola, rumo ao uso cotidiano da tecnologia, é processo gradativo e não solução em si, assim como o fato de que a mudança organizacional a partir da tecnologia exige tempo e estímulo das lideranças institucionais. Já em relação aos desafios da avaliação, estão aspectos como a falta de recursos para estes processos avaliativos, assim como a dificuldade em articular dados quantitativos preferidos pelo financiador, respeitando a realidade e contexto da intervenção.

Essas mesmas questões puderam ser compartilhadas com os gestores que apresentaram alguns casos para serem analisados com maior profundidade, como o projeto Escolas Rurais Conectadas, da Fundação Telefônica Vivo; o Antioquia Digital, da Colômbia; o Plan Ceibal, do Uruguai; o Enlaces, da Universidade do Chile; e o Avaliação Responsiva, da Oort Tecnologia do Brasil.

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