A governança se aplica também aos investimentos

Por: GIFE| Notícias| 21/07/2008

Rien van Gendt*

Ao longo dos anos, me surpreendeu ver o quão limitadas são as oportunidades de troca de informações entre os membros dos Conselhos das fundações, para aprendizagem entre pares e, mais importante, para o seu desenvolvimento profissional. Em minha opinião, isso reflete a pouca importância que as fundações (ou seja, os executivos das fundações) atribuem aos seus Conselhos e que os próprios membros dos Conselhos atribuem à sua função. Um obstáculo ao engajamento maior dos membros dos Conselhos é que, muitas vezes, eles não conhecem as suas responsabilidades.

No mundo corporativo, as responsabilidades dos Conselhos são bastante bem definidas, mas, no mundo das organizações sem fins lucrativos, elas precisam ser discutidas e definidas. Pode estar claro de que o Conselho tem a responsabilidade última pela organização, mas até que ponto ele delega essa autoridade à administração varia. Não quero desenvolver essa questão em profundidade, apenas observar que existe a tendência, certamente entre as fundações maiores, de os Conselhos se manterem à distância e fazerem a distinção entre governança e administração. Cada vez mais, vemos Conselhos se concentrando em fiscalizarem a administração, garantir a responsabilização da organização e garantir que as estratégias e as atividades da organização estejam alinhadas com a sua missão e seus objetivos.

O meu argumento principal é que o Conselho deveria entender que a governança não se limita aos gastos de uma fundação, mas também inclui seus investimentos. Mesmo quando os Conselhos mantêm distância das operações concretas da fundação, a responsabilidade pelas políticas de investimento é uma responsabilidade fiduciária.

A implementação de uma política de investimento – a administração dos portfólios em si – pode ser delegada a “”profissionais””, mas a responsabilidade pelo investimento das dotações da fundação, ou seja, a administração do processo de investimento, não pode ser delegada. Mesmo quando os Conselhos estabeleceram um Comitê de Investimentos, o Conselho como um todo ainda tem de estar consciente de suas responsabilidades fiduciárias.

As responsabilidades fiduciárias incluem vários elementos: formulação dos objetivos dos investimentos com base nos retornos desejados, retornos exigidos e riscos toleráveis; formulação de uma alocação apropriada dos ativos;aprovação de uma estrutura de administradores do dinheiro, e monitoramento do programa geral de investimentos para cumprimento das políticas de investimentos.

Infelizmente, os Conselhos, às vezes, pensam que podem delegar a questão de investimentos completamente a uma pessoa de fora, muitas vezes um ex-banqueiro ou um tesoureiro aposentado. Às vezes, até mesmo a um consultor de investimentos, sem que haja um poder adequado do Conselho como contrabalanço. Os Conselhos acreditam que isso lhes permite se concentrarem no lado do gasto, em alcançar os objetivos caritativos, supondo que o dinheiro a ser gasto seja uma dádiva e o resultado de um processo externo.

Recomendo, portanto, que os Conselhos, como fiduciários, devam manter a função estratégica na administração do processo de investimento, mesmo quando deixam que as pessoas de fora tenham um papel na administração dos portifólios de investimentos (seleção de ações, seleção do gerente de investimentos, avaliação do desempenho, etc.).

Nos últimos dois anos, se intensificou a discussão sobre o alinhamento entre as políticas de investimento e de gasto (em lugar de haver uma cortina de ferro entre os dois) no mundo das fundações. Isso despertou um maior interesse no investimento socialmente responsável (SRI) e no investimento relacionado à missão (IRM). Ainda assim, poucos conselhos de fundações tratam da questão formalmente ou a vêem como parte de sua responsabilidade fiduciária.

Há quem acredite que a maioria dos consultores em investimentos não considera sua atribuição estimular as fundações a alinhar a sua política de investimentos com a sua política de gastos. Em minha opinião, essa á apenas uma das razões pelas quais as fundações estão demorando a considerar o ISR e/ou o IRM.

O outro lado, como sugeri anteriormente, é que as políticas de investimento são, muitas vezes, delegadas pelos Conselhos a “”profissionais”” externos. Se você institucionaliza a separação entre as políticas de gastos e de investimentos, não pode esperar uma abordagem alinhada entre o investimento dos ativos e o gasto dos retornos com propósitos caritativos. Em tais circunstâncias, as fundações estão deixando passar a possibilidade de usar o corpo de ativos como meios adicionais de aumentar seus objetivos estatutários.

*Rien van Gendt é consultor independente e Presidente da Associação Holandesa de Fundações.

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