A importância da filantropia e do Investimento Social Privado no combate à emergência climática
Por: GIFE| GIFEnaCOP| 28/11/2022A filantropia e o investimento social privado podem ter um papel importante em relação à emergência climática, à promoção da justiça socioambiental e no acesso a direitos, promovendo experimentações que, ao mesmo tempo em que priorizam grupos e territórios com menos acesso a direitos e recursos, podem resultar em insumos para fomentar estratégias de advocacy para políticas públicas.
“A filantropia é fundamental para mudar um pouco o equilíbrio das forças, esse poder tão grande que os governos têm de decidir onde o dinheiro vai ser investido”, analisa Isabel Figueiredo, coordenadora do Programa Cerrado e Caatinga do Instituto Sociedade Pessoa e Natureza (ISPN)
Para Renata Piazzon, diretora executiva do Instituto Arapyaú, a filantropia é essencial no contexto do combate à emergência climática.
“Vivemos desafios complexos e de forma isolada não será possível superar os desafios. Governo, academia, sociedade civil e filantropos são atores-chave para os avanços desta agenda. E a filantropia tem a flexibilidade de articular e direcionar recursos, incentivar e criar espaços para a inovação e impulsionar essas frentes.”
As boas práticas do ISP
Ana Toni, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (iCS), avalia que o Investimento Social Privado (ISP) pode fazer muito para o enfrentamento às mudanças climáticas e para a promoção da justiça socioambiental a partir dos apoios que já realiza.
“Muito do ISP no Brasil lida com as questões de educação, de saúde, de meio ambiente local, e o que precisamos é trazer a perspectiva de clima para esses temas. Não é clima ou educação, por exemplo, e sim ter a perspectiva de clima dentro da educação. Temos que trazer a perspectiva climática como um pilar para o investimento social privado.”
Ana Toni cita, como exemplo, o trabalho com o Fundo Elas+, que traz o tema na perspectiva de gênero, e com o Fundo Baobá, olhando para quais são as perspectivas da pauta junto aos movimentos negros e jovens de periferias.
“A filantropia e o investimento social privado cumprem o papel de indutores de boas práticas, e têm buscado exercê-lo com um nível cada vez maior de consciência e de responsabilidade. O aumento da diversidade nas missões representativas da sociedade brasileira na COP é um exemplo de que a abordagem transversal dos temas certamente contribuirá para fomentar a transformação. Temos um longo caminho a percorrer, mas a expectativa é positiva”, analisa Giovanni Harvey, do Fundo Baobá.
O Fundo Casa Socioambiental tem publicado editais voltados a comunidades tradicionais, com viés de proteção ao meio ambiente relacionado ao controle do clima.
“Temos financiadores com um olhar bem focado em apoiar apenas comunidades que estão em áreas de floresta preservada, e há outros já com uma visão um pouco mais ampla, de que é preciso apoiar a todos, e não ter um recorte de território fechado apenas na Amazônia. É preciso uma escuta mais atenta das comunidades, porque o apoio tem que estar conectado com as necessidades do chão e não ser uma coisa distante”, analisa Inimá Krenak, gestora de programas do Fundo Casa Socioambiental.
Dentre os projetos apoiados pelo Fundo, destacam-se, em lugares de floresta, demandas por mudanças de matriz energética e o apoio a projetos em que a juventude busca recursos para debater como a crise climática afeta esses territórios. Além dos aportes humanitários para dar condições de acesso à água potável, alimentação e abrigos – demanda crescente diante da crise climática, embora ainda com pouco investimento. O apoio à gestão territorial e defesa de direitos corresponde à maior parte dos apoios do Fundo Casa.
A forma como se coloca a questão climática para as populações tradicionais também é importante nesses processos. Inimá lembra que o Fundo Casa publicou uma chamada em 2021 voltada a comunidades, aberta a projetos em conexão com mudanças climáticas, e embora os proponentes tenham tido dificuldades em conectar os temas, ficou muito evidente como as comunidades sentem as mudanças e também como são parte da solução.
Trabalhar com movimentos e organizações da sociedade civil, nesse caso, passa por entender suas necessidades e apoiá-los em seus processos de transformação. É assim que trabalham, por exemplo, os fundos e fundações que integram a Rede Comuá, da qual fazem parte as organizações ouvidas nesta matéria.
Sociedade civil em ação na COP 27
O Brazilian Climate Action Hub, pavilhão brasileiro da sociedade civil que marca presença nas COPs desde 2019 – iniciativa do iCS, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e do Instituto ClimaInfo – vem se consolidando como o espaço da sociedade brasileira em sentido mais amplo, acolhendo diferentes perspectivas, projetos e planos elaborados por pessoas e organizações comprometidas com um Brasil mais diverso, inclusivo, sustentável e justo.
Neste ano, o espaço incluiu um debate sobre o movimento global da filantropia para enfrentar a enfrentar a crise climática, com a organização do GIFE, Wings e Fundo Casa Socioambiental, com a participação do Instituto Votorantim, Fundação Tide Setubal, Fundo Baobá, Laudes, Clua e Fundação Socioambiental Semilla.
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, esteve presente no pavilhão das organizações da sociedade civil, ouviu as demandas e recebeu diagnósticos e a sistematização de oportunidades.
Um desses documentos é a carta “Criança e Clima por um Futuro no Presente”, assinada por mais de 40 organizações, dentre elas GIFE, Instituto Alana, Greenpeace, WWF-Brasil, Idec, ANDI Comunicação e Direitos, Fundo Baobá e Instituto de Referência Negra Peregum.
O documento aponta a intensificação das desigualdades no Brasil com a emergência climática, que poderá trazer mais fome, mais pobreza, menos educação, menos saúde e moradia, e como as crianças são mais gravemente afetadas por todas as dimensões dessa crise. Em especial aquelas que vivem em situação de maior vulnerabilidade, como indígenas, ribeirinhas, negras, quilombolas, rurais, periféricas e meninas.
A COP 27 conseguiu avançar em um acordo para a criação de um fundo sobre perdas e danos destinado a países ‘particularmente vulneráveis’. Embora os termos do acordo ainda tenham que ser detalhados, o texto menciona a “criação de novos mecanismos de financiamento para ajudar países em desenvolvimento que são particularmente vulneráveis aos efeitos adversos das mudanças climáticas”. A criação desse fundo vinha sendo reivindicada há décadas por países que já sentem as adversidades em seu dia a dia.