A potência da economia criativa para promover inclusão social

Por: Fundação FEAC| Notícias| 07/11/2022
Alunos do projeto Tempo de Empreender reunidos com certificados na mão

O Brasil registrou 7,4 milhões de trabalhadores no setor de Economia Criativa em 2022

Em linhas gerais, quando a criatividade humana vem agregar valor a produtos e serviços falamos em economia criativa. É o que a moda e seus estilistas promovem na cadeia da indústria têxtil e suas confecções, ou como a gastronomia se tornou a vitrine pop e glamourosa da indústria alimentícia.

Segundo o Boletim de Economia Criativa produzido pelo Observatório Itaú Cultural, a partir de dados da Pnad Contínua, o setor registrou no Brasil 7,4 milhões de trabalhadores ocupados em 2022. O segmento pesquisado abrange cultura, moda, design, arquitetura, artesanato, comunicação, publicidade, entre outras especialidades.

“A criatividade humana é um valioso ativo econômico, mas não é suficiente para que se converta de fato em inovação e diferenciação”, afirma a economista Ana Carla Fonseca Reis, especialista em economia criativa e fundadora da Garimpo de Soluções, que há 20 anos atua na área. O grande diferencial, na verdade, é aliar valor à inclusão social e produtiva, gerando prosperidade no território.

“Quando a gente fala de um país como o Brasil, com enormes desafios vinculados ao desenvolvimento, além de valor agregado, precisamos do valor compartilhado, que é quando você faz uma distribuição equânime, justa ao longo da cadeia”, aponta Ana Carla. “A lógica de que a cadeia é tão forte quanto o seu elo mais fraco funciona também na economia criativa. Se você remunerar quem é visível, mas não os demais profissionais que trabalham para que isso aconteça você não consegue sustentar essa cadeia inteira”, explica.

Arte, ciência e tecnologia

Um levantamento do Observatório PUC-Campinas mostrou que Campinas, impulsionada por universidades, centros de pesquisas e um superlaboratório que é o único acelerador de partículas do Brasil, dobrou, em uma década, o número de empregos ligados à economia criativa no setor de tecnologia.

O crescimento, proporcionalmente maior que o registrado no país e no estado, revela a característica pioneira da cidade no fomento à inovação, mas contrasta com o atual cenário perda de espaço da indústria nacional no mundo, observa o estudo.

A Fundação FEAC, em Campinas, é parceira em diversas iniciativas inseridas no contexto da economia criativa, entre elas projetos na área de gastronomia, como o Jovem Chef, no urbanismo, como o UrbaniZarte; e empreendedorismo, como o Empreende Campinas, Coalizão pelo Impacto, entre outros.

“Entendemos essa estratégia como a busca pela geração de trabalho decente e renda digna de maneira estável para as populações em situação de pobreza e vulnerabilidade social, viabilizando acesso a direitos econômicos e sociais”, explica Marcelo Patarro, líder do Programa Desenvolvimento Territorial da Fundação FEAC.

Economia criativa no Brasil

No Brasil, o conceito ganhou maior visibilidade em 2004, quando foi organizado pelo então ministro da Cultura, Gilberto Gil, um encontro mundial no Anhembi, em São Paulo, sobre indústrias criativas que reuniu expoentes de diversos países. A ideia já era desenhar políticas públicas que aproveitassem essa força criativa para impulsionar o desenvolvimento social e promover inclusão produtiva.

A nível federal, em 2011 foi criada a Secretaria da Economia Criativa subordinada ao Ministério da Cultura, que desenvolveu um plano interministerial, articulando vários parceiros institucionais, agências de desenvolvimento, agências bilaterais e multilaterais. A missão era fazer da cultura um eixo estratégico nas políticas de desenvolvimento do Estado brasileiro.

De lá para cá, o apoio programático, com políticas públicas voltadas ao setor, é marcado pela volatilidade e varia entre os estados, sendo São Paulo e Rio de Janeiro, os principais mercados. Durante a pandemia, houve crescimento dos setores que podem migrar facilmente para a área digital, como o audiovisual, a música, animação e games. “Esses setores explodiram, justamente porque as pessoas se apoiaram muito neles na ausência do acesso aos demais”, conta a economista Ana Carla.

Especialistas também destacam a importância de haver políticas públicas relacionadas à cultura e à criatividade na construção de uma agenda de desenvolvimento ampla e transversal, que posicione a diversidade cultural brasileira como prioridade.

Risco de gentrificação

A economia criativa também pode gerar exclusão, como ocorre nos casos de gentrificação, alerta Ana Carla Fonseca. Dentro do urbanismo, a gentrificação pode ser um efeito colateral da atração econômica exercida pelos criativos, se não houver fiscalização e cuidado por parte também do poder público, pontua.

Ela exemplifica com o que ocorreu em determinadas regiões, como o Soho, bairro de artistas, em Nova York, e a Vila Madalena, conhecida como endereço de intelectuais e artistas, em São Paulo. “A presença dos criativos numa região acaba sendo um fator de atração para a especulação imobiliária. Então os moradores acabam sendo ‘expulsos’ de seu contexto, à medida que o custo de vida se torna incompatível ao padrão socioeconômico de antigos moradores. Esta onda de gentrificação é muito delicada e complexa de lidar nas cidades. E o que a gente defende no urbanismo é que a cidade tem de ser criativa para todos e não só para meia dúzia”, diz.

Por Natália Rangel e Pietra Bastos

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