A sociedade na agenda empresarial

Por: GIFE| Notícias| 28/10/2015

publicado pela FIESP em 27/10

O investimento social empresarial é resultado da confluência de duas vertentes que se manifestam com mais ênfase desde o início da década de 1990. De um lado, a noção de que o papel das empresas vai além da maximização do valor gerado aos acionistas. E, de outro, o sentido filantrópico de contribuição, ou retribuição, à sociedade que lhe conferiu as condições para seu desenvolvimento.

A configuração do capitalismo brasileiro, com forte presença de grupos empresariais controlados por famílias, e um frágil enraizamento do princípio filantrópico contribuíram para que essas duas vertentes estivessem, com frequência, combinadas, aproximando a responsabilidade social empresarial da contribuição privada, voluntária, para o desenvolvimento socioambiental do país.

A visão sobre o papel das empresas nas sociedades contemporâneas evoluiu. A incorporação das chamadas “externalidades” já faz parte do discurso das empresas, mas na prática ainda não se consolidou. Situações como a da Volkswagen na Alemanha, em que houve uma fraude deliberada no controle de emissões dos automóveis movidos a diesel, são inacreditáveis nos dias de hoje e atestam a dimensão dos desafios ainda presentes.

Apesar disso, o maior controle social a que estão sujeitas as empresas e a ampliação dos mecanismos de transparência contribuem para o fortalecimento da noção de que empresas sustentáveis não são apenas a melhor solução, mas estão se tornando a única opção.

Nesse contexto, alguns caminhos têm sido traçados para o investimento social privado.

Primeiro, a vinculação de empresas a certas causas socioambientais, seja pela influência direta dos acionistas controladores, seja pela aproximação da marca da empresa a esses valores, contribuindo com a construção de sua imagem e reputação. Destacam-se, nesse campo, as atuações em áreas como educação, cultura e conservação do meio ambiente.

Segundo, a busca pela geração de impacto social a partir da sua operação direta, partindo do reconhecimento de que as empresas, pela sua própria existência e funcionamento, provocam impactos sociais. Se houver um esforço de mitigação de seus efeitos negativos e potencialização dos impactos positivos, a contribuição para a sociedade pode ser significativa. E as práticas de investimento social privado têm o potencial de dar forma e consistência a essa transformação.

Uma terceira vertente está relacionada ao reconhecimento de que o ambiente para os negócios será mais favorável na medida em que houver organizações da sociedade civil fortes, autônomas e com capacidade operacional atuando pelo interesse público. No âmbito local, pode reforçar a interlocução com grupos legítimos e evitar o predomínio de relações clientelistas. Nas questões nacionais, tende a contribuir com a ampliação da capacidade de controle social e com práticas que fortaleçam a democracia e a promoção dos direitos humanos.

Se as temáticas de democracia e direitos humanos parecem distantes da agenda empresarial, acontecimentos recentes têm demonstrado a sua relevância. Questões que se estendem desde a crise hídrica até os esforços na área de transparência e combate à corrupção apontam para a importância do papel de grupos sociais que atuam pela defesa do interesse público. As empresas certamente sofrem os efeitos. Resta a saber se pretendem ser parte do problema ou da solução.

*Andre Degenszajn é secretário-geral do GIFE, organização sem fins lucrativos com 132 associados que investem R$ 2,4 bilhões por ano na área social. A rede completa 20 anos em 2015 e vem se consolidando como referência no Brasil em temas relacionados ao investimento social privado.

 

(27/10/2015)

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