Ações cotidianas devem ser somadas a políticas públicas ambientais

Por: GIFE| Notícias| 29/07/2002

MÔNICA HERCULANO

Dois dias depois do início da Conferência Rio+10, na semana passada, foi lançado o livro Como Cuidar do Seu Meio Ambiente, publicado pela Editora Bei. A obra traz informações e dicas para quem deseja entender os problemas do meio ambiente e ajudar na sua preservação.

A seguir, a bióloga Rita Mendonça, organizadora do livro, fala sobre a publicação.

redeGIFE – Como surgiu a proposta de criação do livro?
Rita Mendonça – Este livro é uma idéia antiga. Eu já tinha escrito o projeto havia cinco anos. Sou ambientalista, trabalho nisso há muito tempo e vinha observando que quem é envolvido com o meio ambiente tem trabalhos mais voltados a políticas públicas, a questões ambientais globais, à questão de legislação, de governo, de gestão, de técnicas. E apesar de existirem muitos projetos de educação ambiental, há pouca coisa que instrumentalize a pessoa comum. A idéia é ter mais parceiros na concepção de responsabilidade pelo mundo. Inicialmente, a proposta era fazer um programa de televisão, porque surgiu de conversas com uma amiga que trabalhava numa emissora pública. Fizemos uns boletins muito rápidos e improvisados de informação sobre o meio ambiente. Alguns ficaram dois anos no ar e eram muito simples, sem produção. Então conclui que seria bom fazer isso de uma maneira mais profissional, com pesquisa. Eu já havia entregue o projeto para o diretor da editora Bei, e, no começo deste ano, ele me disse que cairia muito bem na coleção Entenda e Aprenda.

redeGIFE – Você acha que a população hoje está mais consciente do que deve ser feito no dia-a-dia para a preservação ambiental?
Rita – Acho que o movimento ainda está fraco, não só no Brasil, mas no mundo. Se você vai à Europa ou aos EUA, vê muitas organizações e pessoas envolvidas. Há lugares nos EUA onde não existe nem saquinho no supermercado: a pessoa tem que levar sua própria sacola. Mas, no geral, falta muito. Até mesmo da parte dos próprios ambientalistas. A gente sabe falar de políticas públicas, mas não sabe o que fazer com a questão da água, da energia, dos alimentos no nosso dia-a-dia. Acho que falta informação para todos e, antes de tudo, falta uma reflexão.
No livro tem muita história, porque, quando se fala em meio ambiente, é importante pensar no futuro e nas próximas gerações. E, para criar propostas sólidas para o futuro, é preciso saber história.
Desde quando começou a destruição do meio ambiente? Desde o início do processo de construção da civilização. Isso não significa que seja algo irremediável, que o ser humano só destrói a natureza. Na verdade, existem outras civilizações ou outros povos que ainda hoje sabem viver conservando a natureza e possibilitando sua recuperação.

redeGIFE – Há um real interesse das pessoas em seguir as dicas que estão no livro?
Rita – O principal convite que o livro faz é para a reflexão. Temos uma visão muito individualista, mas precisamos entender que nós somos o meio ambiente. Meio ambiente não é só uma plantinha. O que está faltando é a percepção de que, responsabilizar-se por ele, pode tornar a vida mais cheia de sentido. Se as pessoas entram num processo de reflexão e transformam isso em ações, vão percebendo como é gratificante e como a vida fica menos estressante, mais tranqüila. O livro quer contribuir dando base para as pessoas tomarem decisões conscientes. Cada um vai fazer o seu conjunto de opções.

redeGIFE – Os programas relativos ao meio ambiente têm sido suficientes?
Rita – Acho que cada um, na sua casa, tem que ter atuação. Até porque empresas, governos e indústrias são formados por pessoas. É muito importante que esse processo de transformação entre nas suas próprias vidas, porque não existe “”faça o que eu digo, não faça o que eu fa””Lançado pela Editora Peirópolis, o livro Voluntariado na Empresa – Gestão Eficiente da Participação Cidadã, de Barnabé Medeiros Filho e Mónica Corullón, é um guia para a implementação de programas de voluntariado nas empresas. Em entrevista ao redeGIFE, Mónica fala do estímulo à prática do voluntariado e de seus obstáculos.

redeGIFE – Por que as empresas estão, cada vez mais, estimulando a prática do voluntariado entre seus funcionários?
Mónica Corullón – Porque voluntariado é hoje um valor estratégico. Primeiro porque, para uma empresa ter responsabilidade social de fato, ela precisa envolver seu público interno – e todos sabemos que responsabilidade social é um diferencial competitivo. Segundo porque, se o envolvimento deste público interno (funcionários, diretores e acionistas) for por meio do voluntariado, ele vai acrescentar muitos outros benefícios à prática da responsabilidade social. Por exemplo, melhorar o clima organizacional, desenvolver lideranças e gerar nos funcionários orgulho pela empresa, o que ajuda a reter os melhores talentos. E tudo isso, de uma forma ou de outra, acaba se refletindo em mais produtividade.

redeGIFE – O que deve ser levado em conta na hora de começar um programa de voluntariado em uma empresa?
Mónica – A primeira coisa é ter claro que voluntariado é um aspecto da responsabilidade social e que não vai funcionar se não se levar em conta os demais aspectos. O primeiro deles é: responsabilidade social começa dentro de casa. Seria cinismo falar em voluntariado numa empresa com graves problemas de segurança e salubridade, ou que atrasa os salários, ou ainda onde não há oportunidades de progresso profissional, falta diálogo etc. O mesmo vale para as relações com a comunidade. Imagine uma empresa que polua o ar, mantenha um lixão no bairro, que não ofereça oportunidades de trabalho para os moradores de seu entorno e que depois apareça lá com seus voluntários. Mas não estou dizendo que é preciso resolver tudo antes de lançar o programa. Havendo a compreensão, o próprio voluntariado ajuda a identificar e a corrigir problemas, porque internamente ele amplia o espírito de participação e, no âmbito externo, estreita laços com a comunidade.

redeGIFE – Quais os principais obstáculos enfrentados pelas empresas ao implantar programas de voluntariado?
Mónica – A base dos maiores obstáculos está na rigidez hierárquica, na pouca experiência que nossas empresas têm de gestão participativa e no autoritarismo que ainda é muito comum. Por isso sempre enfatizo dois princípios fundamentais, que parecem óbvios, mas que na prática muita gente esquece. O primeiro diz que voluntariado empresarial não é compulsório. Participa quem quer, na medida das suas possibilidades, mas, uma vez tendo se comprometido, o voluntário deve cumprir as regras estabelecidas e executar suas tarefas com assiduidade e responsabilidade. O segundo diz que ele não é autoritário. O programa precisa ser um espaço democrático, no qual os voluntários possam debater os rumos a seguir, influir nas decisões, ter a certeza de que aquilo é deles.

redeGIFE – Quais os principais erros cometidos pelas empresas ao implantar programas de voluntariado?
Mónica – O que eu vou citar pode não ser o erro principal, mas envolve uma questão complicada: divulgar ou não as ações voluntárias? Há empresas que erram por assumir uma atitude absolutamente low profile, negando-se a divulgar por achar que estariam conspurcando o programa ou se aproveitando dele. Outras fazem exatamente o contrário. O que nós temos defendido é que o programa deve ser divulgado interna e externamente, porque, à medida que se torne uma ferramenta das estratégias da empresa, ele terá sustentação e se tornará permanente. Mas, por exemplo, aplicar R$ 50 mil no programa e R$ 500 mil em mídia para alardear o que estão fazendo já é oportunismo e não funciona: as informações circulam rapidamente, e a empresa oportunista cai no descrédito. A proposta é que a divulgação seja oportuna, mas não oportunista. Que fale pouco da empresa e nada de seus produtos. Que ressalte valores como solidariedade, cidadania e participação. E que tenha cunho educativo.

redeGIFE – O que os programas de voluntariado empresarial de sucesso têm em comum?
Mónica – Capacidade de produzir resultados, porque isso está na lógica da empresa, de modo que sem esta lógica o programa não se sustenta. E aqui precisamos distinguir dois tipos de resultados. O primeiro tem a ver com o funcionamento do programa e se mede por sua capacidade de mobilizar os funcionários, levar cada um a cumprir seus compromissos e conseguir que a comunidade o apóie. O segundo diz respeito à sua relevância social. Ele está mudando alguma coisa na comunidade ou está apenas dando um atendimento imediatista, de horizontes limitados? Esta segunda hipótese não combina com a lógica empresarial da eficiência.

redeGIFE – A senhora acredita que o voluntariado é uma moda, principalmente pela campanha liderada pela ONU ao longo de 2001? Ou há índices consistentes que mostram que esta já é uma tendência?
Mónica – O voluntariado é uma moda que já dura pelo menos 500 anos no Brasil. Desde o século XVI, quando se criou a Santa Casa de São Vicente, há voluntários no Brasil. Os abolicionistas, que criaram toda uma rede de apoio a escravos fugidos, eram voluntários. São voluntários as 120 mil pessoas que participam da Pastoral da Criança, os trabalhadores ou os camponeses que se juntam em mutirão, as parteiras. E dentro das empresas também há voluntários desde sempre: os funcionários, às vezes os empresários, às vezes os dois juntos. O que há de novo em tudo isso é fazer desta força solidária um programa da empresa, no qual esta aloca talento e recursos, de forma consistente e permanente, como qualquer outro projeto. Julgo que isto parte de uma base muito boa, de um sentimento de solidariedade muito profundo e antigo. Ao mesmo tempo, está vindo com muita força: a cada dia mais e mais empresas se lançam a montar seus programas de voluntariado. Por tudo isso, acho que a tendência é de o voluntariado empresarial se consolidar no Brasil, mas precisamos de mais tempo para confirmar esta hipótese.

redeGIFE – Como surgiu a idéia de fazer o livro? Quais os assuntos abordados?
Mónica – Voluntariado na Empresa – Gestão Eficiente da Participação Cidadã nasceu dentro da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), que há um ano lançou o Voluntários das Gerais, um programa de estímulo ao voluntariado empresarial, do qual eu sou a diretora executiva. Mas a idéia está posta desde os tempos do Programa Voluntários do Conselho do Comunidade Solidária, que planejei em 1996 junto com Miguel Darcy, a pedido de Ruth Cardoso. Este programa pode ser considerado o marco zero do voluntariado empresarial no Brasil, pois foi ali que começamos um amplo trabalho de divulgação e de construção de instrumentos de apoio para as empresas nesta área. O livro inclui uma visão teórica da ação voluntária, um guia prático sobre como montar programas de voluntariado nas empresas e materiais para consulta e aplicação: legislação, questionários e instrumentos de diagnóstico. Mostra as características, formas de organização e alcance dos programas de voluntariado. Detalha aspectos relacionados com planejamento, gestão e comunicação.

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