“Agricultura familiar ainda é desassistida no Brasil”, afirma especialista
Por: GIFE| Notícias| 21/08/2023Entre 2021 e 2022 não houve nem um real investido na agricultura familiar, o número já vinha caindo drasticamente nos anos anteriores. Os dados são da plataforma Siga Brasil, do governo federal.
Neste ano, foi anunciado, em junho, que o Plano Safra da Agricultura Familiar, considerada política pública com maior relevância para a área, disponibilizará R$ 77 bilhões para o financiamento de pequenos produtores no período de 2023-2024, e terá o maior volume de crédito no Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) da história. No mês seguinte foi sancionada pelo governo a lei que retoma o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Apesar disso, Cristiane Nascimento, gerente de sustentabilidade da Fundação Norberto Odebrecht, acredita que esse esforço ainda não corresponde à relevância econômica e social da agricultura familiar para o Brasil. Ela aponta que diversos governos têm adotado políticas nos últimos anos para fortalecer a agricultura familiar, porém ainda aquém do necessário.
“A agricultura familiar ainda é muito desassistida. Os produtores não têm acesso à assistência técnica, e têm dificuldade de escoar a sua produção. Assim, a população rural se torna uma das mais suscetíveis à pobreza”, avalia Cristiane Nascimento.
Segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa de Soberania e Segurança Alimentar Nutricional (Rede Penssan) coletados em 2022, nas cidades 15% da população é afetada pela fome, enquanto na zona rural o número chega a 18,6%.
“Há pouco incentivo para que os jovens da zona rural fiquem em suas regiões e fortaleçam a agricultura familiar. Há menos apoio ainda para que eles cheguem às cidades com capacitação para se empregarem em outras áreas.”
Para a gerente de sustentabilidade, ainda se fala pouco sobre essa temática no país, e a pobreza da zona rural é invisibilizada, de modo que considera a atuação do investimento social privado (ISP) essencial, mas ainda baixa e pontual, sem a adoção de laços com os territórios.
“Como grande catalisador de mudanças sociais, o ISP não pode se ausentar. Até porque quando não criamos oportunidades no campo, isso se reflete nas cidades.”
Para garantir o desenvolvimento territorial sustentável, são incentivadas a diversificação de cultivos e a implementação de novas técnicas agrícolas. “É preciso pensar globalmente e agir localmente. Como o agricultor familiar tem um pedaço de terra limitado, qualquer comprometimento na capacidade produtiva pode amplificar o quadro de desigualdade”, conta Cristiane Nascimento.
A Fundação Norberto Odebrecht atua há 20 anos com o Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade (PDCIS). A iniciativa trabalha em parceria com o poder público, organizações da sociedade civil (OSCs) e iniciativa privada através de 29 projetos e está alinhada ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 da Agenda 2030 da ONU, sobre Fome Zero e a Agricultura Sustentável.